alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

15.8.25

 

Amamentação prolongada

Nada pior para uma boa causa que um mau argumento

Fluindo directamente do produtor ao consumidor sem manipulações intermediárias, o leite materno é um alimento vivo. Todos os seus constituintes, sintetizados de acordo com um código genético especificamente programado ao longo de milénios e individualmente adaptado durante toda a gestação, são oferecidos intactos ao seu consumidor naturalHC Mota Aleitamento materno. Rev Port Pediatria 1981

Um artigo recente justamente titulado “Amamentação continuada: o quenão se diz quando se “finge” que sabe” merece alguns ajustes. Escreveu a autora: "The Lancet Breastfeeding Series (2016, 2023) é clara:

a)  Amamentar para além dos 2 anos reduz o risco de obesidade infantil em 26%.

b) Diminui o risco de diabetes tipo 2 em 35%.

c)  Aumenta, em média, o QI em 2,6 a 3,4 pontos."  

Vejamos o que se lê nas Key messages do Lancet

a) b) Growing evidence also suggests that breastfeeding (for longer periods) might protect against overweight and diabetes later in life.

O valor de 26% foi o de uma meta-análise entre outras com resultados diferentes. We deemed only three studies to be of high quality, which indicated a potentially important, but not statistically significant, reduction of 24% (95% CI ranging from a 60% reduction to a 47% increase). 

c) Children who are breastfed for longer periods have ….higher intelligence than do those who are breastfed for shorter periods, or not breastfed. Ora a diferença (de 2,6 a 3,4 pontos em 100) é insignificante e muito pouco plausível que se deva à amamentação, havendo tantos outros factores a ter em conta.

Sobretudo há que notar que todos estes dados são associações. Os autores do artigo do Lancet avisaram: “We obtained information about the associations between breastfeeding and outcomes …”. Ora não se pode extrapolar de um associação para uma relação de causa a efeito.

O que desencadeou a controvérsia sobre a amamentação não foi tanto a burocracia que iria sobrecarregar mais as mães e os médicos mas a anulação da licença maternal de 2h durante o período de trabalho aos 24M de idade quando apenas uma pequena minoria de crianças ainda mama. Os escusados comentários da Ministra também ajudaram.

Se a intervenção da Ministra foi desastrada, igualmente o foram as atitudes críticas; surpreenderam-me as dos grupos de esquerda que emularam as dos activistas. Enquanto Portugal ardia criticaram a perda de um pequeno benefício de uma minoria privilegiada que mamou até aos 2A eclipsando a esmagadora maioria (95%?) dos que não, quando mais necessário teria sido. (O desmame precoce nem sempre é opção da mãe e nunca do filho).Tanto mais quanto aqueles privilegiados são muito provavelmente de famílias economicamente privilegiadas, que o poderão continuar a fazer. “... we’re seeing indications that in wealthy countries, it’s the poor who are the least likely to breastfeed,said Shahida Azfar, UNICEF’s Deputy Executive Director a.i.”

Aos deuses do Olimpo serviam ambrosia
mas leite materno ao filho de Deus 
A amamentação é um acto sublime de valor inestimável; permitiu a sobrevivência da humanidade (e dos mamíferos) e, ainda hoje, a sobrevivência saudável de boa parte dos humanos, em especial a dos que mais precisam. As vantagens da amamentação são inquestionáveis em especial nos primeiros meses de vida e sobretudo em comunidades desfavorecidas.

Mas não é indispensável. Em vez de exaltar os seus benefícios conviria sim facilitar a sua prática tantas vezes em conflito com o trabalho das mães nesta sociedade que esquece que a maternidade é a fundamental actividade produtiva*. É um atributo materno, não uma obrigação; não há pior inibidor da produção láctea que a preocupação, o que tantos activistas bem intencionadas esquecem.

A amamentação, tal como a guerra e a política, é demasiado importante para ser confiada a crentes.

* P:S: ou melhor, criadora.

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Comments:
Como sempre , sublime !
 
Bela reflexão. Obrigado.
 
As crianças necessitam da mãe/pai para alem da amamentação e as duas horas deveriam ser concedudas a um dos pais ate mais que os dois anos.
 
Sou um privilegiado. É de facto um texto com uma mensagem brilhante. Obrigado
EC
 
Grande lição, sobretudo para os/as que não querem ver...
 
Plenamente de acordo . As preocupações e daí a ansiedade são grandes responsáveis do abandono da amamentação. Como acto natural a nossa ação é por vezes mais prejudicial do que promotora. A multiplicidade de intervenientes e de opiniões não dá segurança às mães.




 
Quando amamentava só pedia que nos(a mim e ao meu filho/a ) deixassem em paz ☮️ e serenidade 🥰
São momentos de íntima comunhão mãe/ filho ... Ajudem a que sejam desobrigados, mas amados e desejados 💖
Facilitem, mas não responsabilizem
Silêncio e respeito, abram as portas, mas muito devagarinho... Calem-se os que não percebem nada da poda !
Bem haja pelo apelo para se voltar ao tema fundamental, abandonando folclores , esquecendo canções de embalar 🎼...
 
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