alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

31.8.06

 

Escarigo, Castelo Rodrigo. Um S. Jorge famosíssimo.

 
Escarigo, Castelo Rodrigo.

A igreja tem um retábulo barroco dos mais belos que o viajante viu até agora… Mas a policromia da talha é tão harmoniosa nos seus tons de vermelho, azul e ouro, com toques de verde e róseo, que se pode estar uma hora a examiná-lo sem fadiga.
Uma das imagens do retábulo é um S. Jorge famosíssimo que, sem espada nem lança, calca aos pés um dragão com cabeça de víbora.

Saramago. Viagem a Portugal.

 

Escarigo, Castelo Rodrigo. Uma muito curiosa terra de fronteira.
Tectos de alfarge (Sec XVI) na matriz. (prima para ampliar)

30.8.06

 

Batentes de uma porta em Almeida

 

Almeida

 
Almeida

Até final do séc. XVIII Almeida era a segunda fortaleza de Portugal, depois de Elvas. Massena iniciou a sua invasão, mandando atacá-la em Agosto de 1810. A praça resistiu valorosamente durante 17 dias. A 27 de Agosto, por imprevidência dum soldado, deu-se uma tremenda explosão no paiol que matou cerca de 500 homens da guarnição. No dia seguinte, com o assentimento do coronel inglês Cox (que estaria bêbedo), que era o comandante, o tenente-rei da praça, Costa e Almeida, capitulou. (Cox acusou-o mais tarde e o oficial português foi fuzilado).
Em Abril de 1811, a guarnição de Brenier, cercada por Wellington, iludiu a vigilância dos sitiantes e abandonou-a de noite. Foi por Vale de Coelha que conseguiu fugir e alcançar, embora com bastantes perdas, as fileiras de Massena.

Sant’Anna Dionísio. Guia de Portugal 1984

Não terá sido difícil passar a fronteira; há anos, a passear na zona à procura da coluna de Pedro Jacques de Magalhães, metemo-nos por caminhos, atravessámos a vau uma ribeira (ribeira de Tourões) e só demos por estar em Espanha quando vimos uma panaderia.

29.8.06

 
Lixo; reciclar ou evitar?

Portugal é o país que menos recicla lixo, no contexto da União Europeia dos 15, revela um estudo do British Institute for Public Policy Research.
Portugal era o segundo país que menos lixo produzia por habitante - 434 Kg por ano. O país campeão na produção de detritos por pessoa é a Irlanda.
Os irlandeses reciclam perto de um terço dos 869 Kg de resíduos que produzem, seguidos dos dinamarqueses (696). Já os luxemburgueses produzem 669 Kg e reciclam 36 %. Espanha recicla 35 % dos 662 Kg de lixo que produz.

* Em suma, se as minhas contas estão certas, a quantidade final de lixo não reciclado em Portugal (421 Kg) é semelhante à dos outros países europeus referidos (441-446-464); a Irlanda exagera (579).
Entre reciclar mais ou evitar fazer lixo parece-me muito mais sensata a segunda opção.

 

Vale de Coelha, Almeida. Marco de fronteira. Escudo sem quinas. (Prima para ampliar)

 
O Sul do Líbano em Portugal ou os eternos mexilhões da fronteira.
Marco de fronteira com Espanha em Vale de Coelha, Almeida.


1762 “Guerra fantástica” com Espanha que cerca Castelo Rodrigo e Almeida.
Vale de Coelha pertenceu ao real mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Esta freguesia fica a sete quilómetros de Almeida, e junto à raia de Espanha, e seus moradores fugiram todos, em 1762, por causa da guerra que então havia com os espanhóis, em consequência do Pacto de família e que só terminou pelo tratado de paz, em Fevereiro de 1763, entre Portu­gal, Espanha, França e Inglaterra.
O conde de Reilli nos tomou Almeida por capitulação, em 25 de Agosto de 1762, e na véspera tinha mandado queimar as por­tas da igreja d'esta freguesia, saquear a po­voação; e as imagens do Senhor e da SS. Virgem (que os castelhanos haviam tirado da igreja) apareceram depois, longe d'ella em uma esterqueira!
Feitas as pazes, tornou o povo para suas casas, e os cónegos de Santa Cruz de Coimbra aqui vieram consola-lo, provê-lo de cereais e reparar a igreja.
Pinho Leal, Portugal antigo e moderno. Lisboa 1882

As Invasões Francesas ainda estavam para vir.

 

Vale de Coelha, Almeida. Marco de fronteira, verso.

28.8.06

 
enxerto contra hospedeiro
sociobiologia atrevida

O que o animal e a espécie mais prezam é a sua preservação – sobrevivência e identidade. Toda a tentativa de coexistência de células diferentes no mesmo ser – uma quimera – é isso mesmo, uma quimera; mesmo o feto apenas é tolerado durante algum tempo.
O tecido enxertado é rapidamente rejeitado pelos eficazes mecanismos imunes de que todo o animal dispõe; acontece que algumas células do tecido enxertado reagem de igual modo contra o anfitrião – a reacção do enxerto contra o hospedeiro — que pode levar à morte deste e, consequentemente, à daquele. Os riscos são simétricos e muito grandes; todo o transplante é um delito de lesa natureza. A própria transfusão de sangue não é isente destes riscos nos seres debilitados.
Tal como as normas sociais que obrigam a receber bem os hóspedes, a sobrevivência do enxerto (transplante) de um órgão só é possível com a ajuda de fármacos que atenuem especificamente os potentes mecanismos de rejeição; com o risco de excesso – que compromete o hospedeiro – ou de defeito – que arrisca o enxerto.
Com uma estratégia adequada, consegue-se um modus vivendi, e até uma tolerância mútua ao fim de uns anos de terapia imunosupressora. Mas esta tem outros riscos: há germes virulentos que se mantêm dominados enquanto os mecanismos imunes estiverem activos; a sua atenuação pode despertar a actividade deles e provocar doença – é o caso da tuberculose.
A única forma de células estranhas persistirem num organismo saudável é passarem despercebidas à vigilância imune; reprimindo as suas manifestações estranhas – os cripto judeus em Portugal -- ou vivendo clandestinas em santuários como as células terroristas adormecidas.

O enxerto e a reacção do enxerto contra o hospedeiro são o modelo da criação de Estado de Israel e das colónias de muçulmanos na Europa.
Israel é um transplante de judeus para territórios que, desde há séculos, era habitado por muçulmanos. Israel é um enxerto que teve sucesso na sua reacção contra o hospedeiro; mas a luta continua, agora na fronteira do enxerto que integrou um milhão de autóctones que, mantendo a religião e a cultura, adoptaram as normas sociais israelitas com quem convivem.
Na Europa há imensas colónias de muçulmanos de muitas origens que para aqui vieram em busca de melhores condições de vida. Mais ou menos integrados, alguns mantêm, enquistados, os seus padrões menéticos tradicionais, verdadeiros enxertos com os inevitáveis duplos mecanismos de rejeição. Tanto mais activos quanto menor a tolerância, tanta menor quanto mais ostensivas as manifestações de divergências culturais geradoras de hostilidade, directamente proporcional à frustração de não atingirem (ou de sentirem que não atingem) o estatuto social para que se julgam qualificados.
A tendência a viverem em guettos facilita a manutenção dos seus padrões de vida tradicionais e os sentimentos de exclusão; o comércio, a sua actividade predominante, expõem-nos à avaliação dos autóctones.

Era o que acontecia classicamente com os judeus na Europa.
Os fundamentalistas são o equivalente das células imunes, dos linfócitos T, das killer-cells, ou do bacilo da tuberculose; tanto destroem as células do hospedeiro como as do enxerto, suas irmãs
.

 

Alentejo. Esgrafito em Montemor-o-Novo. (Prima para ampliar)

 
Todo o cidadão é suspeito enquanto não provar o contrário

Condutores correm o risco de ficar sem a carta e com os veículos imobilizados se não levarem a prova de pagamento do selo do carro.

 

Alentejo ao fim do dia; caiar a sombra.

27.8.06

 

Ucanha. No pelourinho prendiam-se os criminosos. Que crimes expia a roupa?

 

Ucanha, Lamego. A antiga ponte com portagem. Leite de Vasconcelos nasceu aqui, claro.

 
A doença auto-imune do Próximo Oriente
Sociobiologia atrevida

O Hezbollah compensa libaneses cujas casas ficaram destruída pelo exército israelita. O processo parece simples; o dinheiro parece abundar. Só surpreende serem dólares americanos: maços de notas verdes, ainda cintados, como que acabados de sair da Reserva federal.
O Hezbollah usa, na reconstrução e no proselitismo, a arma do arqui-inimigo – o capital global sedeado nos USA, aliado natural radical de Israel. Que vias terão seguido esses maços desde Fort Knox até às ruínas do Líbano?
Há vírus que utilizam uma estratégia semelhante – intrometem-se nas células normais do doente; os mecanismos imunes são iludidos: na tentativa de eliminar os agentes estranhos, destroem as próprias células. São as doenças auto-imunes, de longa duração e raramente curáveis. O melhor que se consegue é mantê-las inactivas.

26.8.06

 

Um mercantel num canal em Aveiro. Roupa.

 

A ria; moliceiro na Murtosa.

25.8.06

 
Um erro de transcrição, risco do manuseio do barro mole

cai assim por terra o problema ético mesmo para aqueles que consideram que o embrião é uma vida.”
Sintetizou uma jornalista no noticiário das 12h da TSF (24 Agosto, andava o diabo à solta.)

 
A costela de Adão

Células estaminais humanas sem destruição de embriões; apenas retiram uma única célula de cada um deles.

 

Almoster, Santarem. Dupla quimera.

 
Almoster

Convento cisterciense fundado em 1287, tendo sido a rainha Santa quem mandou construir a enfermaria e o claustro, com colunas geminadas e capitéis decorados. Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado. IPPAR, 1993
Um dragão dialoga com uma sereia; uma dupla quimera calcária de há sete séculos.
Foi nesta freguesia que se travou, em 1834, a
batalha de Almoster, uma das derradeiras da Guerra Civil, onde as forças absolutistas de D. Miguel foram derrotadas pelas tropas liberais do Marechal Saldanha.

24.8.06

 

Rio Mau, Vila do Conde; peixe à porta.

 

Rio Mau, Vila do Conde. Que me desculpem pela imagem tremida; vale a pena ir ver o capitel original.

 
Rio Mau. Capitel do arco triunfal do altar-mor

Um destes capitéis que os entendidos afirmam reproduzir cenas da Canção de Roldão remete o viajante para Veneza... São quatro guerreiros em atitude fraternal, talvez de camaradagem militar mas com subtil toque de humanidade. Esses tetrarcas de Rio Mau são muito mais guerreiros do que homens. São, no sentido verdadeiro, homens de armas. Contudo, a semelhança ou, se preferirem, o eco é irresistível. O viajante maravilha-se, aposta que nunca ninguém se lembrou de tal, e fica contente consigo mesmo.
Saramago. Viajem a Portugal.

23.8.06

 

A procissão dos cães. Rego (Gandarela, Fafe)

 

A procissão dos cães. Rego (Gandarela, Fafe)
Depois sai a procissão "dos cães". Cães-cães havia poucos; estavam representados por mascarados, seus procuradores.

 

O diabo fuma

 
O risco de deixar diabos à solta

Rego (Gandarela, Fafe) também festeja S. Bartolomeu a 24 de Agosto com duas procissões: a religiosa e a profana, que dantes seria uma só.
Na primeira, pelas cinco da tarde, saem os pendões e os andores da praxe; o curioso é o tamanho do diabo – enorme, de cornos em lira e, cúmulo do Mal p.c., a fumar um cigarro!

 

Banho santo. S. Bartolomeu do Mar, Barcelos, em 24 de Agosto, dia em que o diabo anda � solta. http://alcatruz.blogspot.com/2005/04/medicina-mgica-7-medos-gaguez.html

22.8.06

 

Pedra d'armas. Guiães, Sabrosa.

Uma poderosa família cruzou-se com outra da sua igualha. De três besantes fizeram um brasão de nove: cinco em cruz e cinco em x (em aspa).
O mesmo aconteceu com outras duas cujo símbolo eram conchas vieiras; outro tanto aconteceu com outras – a cruz potenteia é a resultante de duas cruzes gamadas em espelho.
Cruzes e aspas: soma e multiplicação.
O brasão esquartelado é o que os tetranetos destas oito poderosas famílias adoptaram quando se instalaram no Douro e ali prosperaram. Em terras de xisto importaram um brasão de granito.
Os ramos das videiras enrolaram-se no elmo dos seus míticos antepassados; no elmo pisa uma simbólica ave de rapina. O canteiro estranho não conhecia videiras; pediram-lhe parras e fez barrocas folhas de acanto com flores exóticas mas nenhum fruto.
O tempo cobriu-o de líquenes e emprestou-lhe a nobreza que a distingue.

 

Cancela. Guiães, Sabrosa.

21.8.06

 

Anciães. S. Salvador; portal Sul. (Prima para ampliar)

 
Anciães. S. Salvador

No lado Sul: arco pleno guarnecido com cunhas; assentes em impostas cordiformes (faltam as colunas), tímpano com cruz vasada, semelhante à de Malta, dintel polibolado.
Pedro Vitorino para o Guia de Portugal

As pedras do arco estão talhadas de forma que se mantenham pela força da gravidade, sem necessidade de argamassa.
Aviso aos crentes do que acontecerá se tentarem entrar todos ao mesmo tempo.
As cunhas que guarnecem as pedras do arco são cabeças de lobo, a ameaçadora figuração do mal que nunca entrará pela porta da casa de Deus enquanto esta se não arruinar.

 

Anciães. Portal. (Prima para ampliar)

 
Anciães

S. Salvador (Mon. nac.), erguida no recinto do castelo e cuja construção talvez remonte ao séc. XII.
Estava arruinada e em 1447 Afonso V fez mercê, aos moradores, dos resíduos da vila para ser reconstruída. Ainda que o gótico já estivesse em vigor, foi com as formas primitivas que a reedificaram. Constitui, pela decoração exuberante, um raro e notável exemplar de arquitectura românica.
A porta principal é de quatro arquivoltas plenas; são cingidas por uma faixa de folhas de alga. Apoiavam-se em colunas (desaparecidas) cujos capitéis mostram animais e figuras humanas de formas extravagantes. No tímpano está esculpida a figura de Cristo, rodeado pelos símbolos dos Apóstolos.*
A obra escultórica do tímpano e das arquivoltas é rígida e grosseira, tanto no desenho como na execução.
Pedro Vitorino para o Guia de Portugal


Grosseira será mas as formas extravagantes são maravilhosas. À esquerda, o tímpano é suportado por uma mãe com dois gémeos ao colo. São Cosme e São Damião, os santos gémeos, originários da Arábia, no século III? Estudaram medicina na Síria. Diziam "Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder".
Atribuíam-lhe o poder de ajudar crianças que sofriam violências.


* Aos pés de Cristo brincam duas crianças.
O primitivo orago foi S. Pelágio, martirizado em Córdova. Nascido na Galiza, tinha 13 anos quando foi entregue como refém aos mouros. O emir Abderramão III, torpemente atraído pelo aspecto daquele menino, procurou seduzi-lo. Mas São Pelágio, indignado, respondeu:
" -Afasta-te, cão! Pensas por acaso que sou um dos teus efeminados lacaios? "
Foi cortado em pedaços, tendo os braços e os pés arrancados, e por fim foi decapitado e lançado a um rio.

20.8.06

 

Alter Pedroso. O marco de copas e a parede caiada.

 
Previdência

Na rua estreita, as casas antigas têm vindo a ser substituidas por prédios novos, a que sacrificam os quintais de forma a alargar a via.
Na única que resta, um velho apara a sebe do jardim, agora saliente: prepara o seu jazigo.

19.8.06

 

A tranquilidade no Barroso: boi da casta local de cornos em lira, a coleira pregada com fivela e chocalho, o nicho da alminha e a sombra. Outra era.

 
redundante ou supérflua

O ministro da Saúde … determina que "até ao final do corrente ano, os conselhos de administração dos hospitais do SNS estão impedidos de realizar quaisquer despesas que não estejam directamente relacionadas com a missão prosseguida ou com o objecto daqueles estabelecimentos de saúde".
Surpreende que seja necessária esta determinação — redundante ou supérflua; mais surpreendente é o prazo: “até ao final do corrente ano…”

18.8.06

 

Alminha, Seia. O homem segura o firmamento.

 

divertido e cheio de alegrias

"Espero fazer um museu de histórias e de desenhos que seja divertido, vivo e despretensioso"… "um museu cheio de alegrias, e de muitas maldades também" Paula Rego

 
hunos maometanos marxista-lenistas

... estamos perante "uma rede de contra-poder globalizado, que conjuga o fanatismo religioso islâmico com o ódio ideológico comunista em relação à América e Israel" Magdi Allam

 
Tsunami gordo

All countries - both rich and poor - had failed to address the obesity boom.
"...the number of overweight outnumbers the malnourished…this is not just happening in developed countries, the developing world also has serious problems. The biggest increases are being seen in parts of Asia …”.

É o terrorismo da insatisfação permanente. A busca no prato do que falta na alma; o reverso:

Ils sont à table
Ils ne mangent pas
Ils ne sont pas dans leur assiette
Et leur assiette se tient toute droite
Verticalement derrière leur tête.
Jacques Prévert, Paroles

17.8.06

 
vício do consumo

Na voragem dos apelos de consumo, onde tudo parece e nada é, a felicidade torna-se inalcançável e é substituída pela euforia efémera, que logo abre espaço ao vácuo da depressão.”Octávio Ribeiro. Correio da Manhã, 14-08-2006
É o sinal de privação dos viciados.

 

Moncorvo. Frescos da capela de N.S. da Teixeira. Uma capela sixtina rural.
http://anterodealda.com/fotografia_moncorvo.htm

 

Moncorvo. Colunas da catedral - esferas em pontas piramidais.

16.8.06

 
A morte e a miséria (cont)

Mas a velha nem uma nem duas. Por fim, a Morte, depois de ouvir tanta gente a rogar por ela, resolveu propor-lhe um acordo:
- Ó Tia Miséria, vossemecê deixa-me sair daqui e eu prometo que, enquanto o mundo for mundo, não a levo a si.
- Se assim é, está o acordo feito – aceitou a velha.
Por isso, enquanto o mundo for mundo, a miséria e a morte andam juntas e muito amigas quase sempre.

Alexandre Parafita. O Maravilhoso Popular. Plátano 2000.(adaptado)

 
A morte cativa

Havia uma velha avarenta, a quem chamavam Tia Miséria, que passava os dias a guardar uma pereira, para que lhe não roubassem as peras.
Por fim conseguiu um bruxedo que fazia com que todo aquele que subisse à pereira ficasse lá preso e só pudesse descer quando ela autorizasse.
No dia seguinte um grupo de garotos desatou aos gritos do alto da pereira:
- Tia Miséria! Estamos presos aqui em cima! Deixe­-nos sair!
- Só se prometerdes que não voltais a vir roubar peras!
- Está bem. Não voltaremos.
A Tia Miséria deixou-os sair, toda satisfeita com a solução encontrada. Dali a dias bateram à porta.
- Quem é? -- perguntou.
- Sou eu, a Morte. Venho buscá-la.
- Olhe, senhora Morte, deixe-me satisfazer um último desejo: comer uma das minhas peras.
- De acordo – disse a Morte.
- Faça-me mais este favor: vá lá vossemecê que eu já estou muito velha, custa-me subir à pereira – pediu a Tia Miséria.
A Morte subiu à pereira, mas já não conseguiu descer.
Passado algum tempo, apareceu-lhe à porta uma multidão de pes­soas que, estando a Morte ali cativa, não conseguiam sobreviver nas suas actividades e nos seus negócios: eram os cangalheiros, os covei­ros, os padres, as carpideiras, as floristas, os advogados, os juízes, os escrivães e outros que tais. Uns queixavam-se por não haver enterros, outros por não haver inventários e partilhas.
- Ó Tia Miséria deixe lá sair a Morte, que precisamos dela para viver!

Alexandre Parafita. O Maravilhoso Popular. Plátano 2000. (adaptado; em algumas versões a velha chama-se Pilar)




 

Pietá. Barcos, Tabuaço.

15.8.06

 
Ensino superior, aprendizagem da média
O … nível da escolaridade e da qualificação em Portugal não nos surpreende… a despesa por aluno em Portugal é sempre inferior à média europeia. Santana Castilho. Professor do ensino superior.
Por norma, metade das parcelas têm valores inferiores à média.

 

Espigueiro no Soajo.

 

Alminha na Peneda; pelos que ficaram sem pasto.

14.8.06

 

Pedra de leite e uma ninhada de pedritas a mamar na fraga madre. S. Mamede, Lanhoso.

 
Mamede

Os animais leiteiros são igualmente postos sob a protecção de um outro santo, que está presente em todo o País e nomeada­mente no Norte, chamado Mamede (nome que lembra «mamada»). As suas romarias, que se designam como do Leite, do Mel ou das colheitas, têm lugar em encantadoras capelinhas erguidas em cabeços pedregosos, bem caiadas e rodeadas por penedos redondos pintados de branco, como seios da terra. As mulheres que aleitam escalam o monte com os filhos nos braços, giram à volta da capela e oferecem ao santo um litro de leite comprado no comércio. Em Vieira *, sobre um monte quase inacessível, a procissão deste santo
circunda a capela e também um penedo redondo caiado que se encontra perto, onde se manifesta a Moira. Os animais fêmeas podem igualmente ser incorporados na procissão e levados a beber em fontes que brotam nas imediações da capela, as quais «favore­cem o leite». Esta personagem misteriosa, de que apenas se sabe, graças aos pregadores, que «perdido na floresta se alimentava de leite de animal» - e que provavelmente nunca existiu -, parece ser o resultado da masculinização, por acção dos pastores, de uma figura feminina que tanto poderá ter sido a Moira, a Magna Mater dos antigos, Maria ou ainda Diana cujo culto foi muito praticado no País.
Moisés Espírito Santo. A Religião Popular Portuguesa. A Regra do Jogo. 1980

* Creio ser em Rendufinho, Póvoa de Lanhoso.

Muito próximo, em S. João de Rei, um restaurante só com dois pratos -- bacalhau e costeletas, ambos excepcionais.

 
Tradição em tempo de guerra

A circuncisão ritual dos recém-nascidos sobrevive à guerra; esta bárbara tradição de judeus e maometanos ajudará a explicar a eterna guerra no Próximo Oriente?
Para evitar o incómodo duma eventual fimose, circuncidam-se todos os varões à nascença. Apendicectomia sistemática aos 4 anos? Antibiótico a toda a criança com febre? Um bom micróbio é um micróbio morto.
As religiões “do livro” daqui partiram para converter meio mundo; as tradições também?

P.S.
Em Israel
Bombardeiem-se todos os bairros onde possa haver Hezbolahs armados.
Desiste-se de fazer o diagnóstico, sequer de identificar grupos de risco; todos são suspeitos de terrorismo enquanto se não provar o contrário.

Em Portugal
Justiça
Circular para comparecer num tribunal, alguém que não é parte nem suspeito no processo:
caso falte e não justifique a falta no prazo legal (…), fica sujeito ao pagamento de …., sem prejuízo de vir a ser ordenada a sua detenção pelo tempo indispensável à realização da diligência e, bem assim, de ser condenado no pagamento das despesas ocasionadas pela sua não comparência, nomeadamente, das relacionadas com notificações, expediente e deslocação de pessoas -art.º 116 do C. P. Penal.
Perante a dificuldade de prever os faltosos, ameaçam-se todos, suspeitos enquanto não provarem o contrário.

Saúde
Toda a grávida deve ser submetida a... rastreio pré-concepcional sistemático da rubéola, toxo, sífilis, VIH, HiB. (Circular normativa 2/98 DSMIA/DGS)
Desiste-se de fazer o diagnóstico, sequer de identificar grupos de risco; todas são suspeitas de doenças sexualmente transmitidas enquanto se não provar o contrário.

 
Oitenta anos de Fidel

O programa 60 minutos da CBS, transmitido pela SIC notícias, dedicou-lhe um quarto de hora. Entrevistou muita gente mas nenhum dos cubanos pobres que se manifestam com uma entusiasmo que seria útil compreender.
Um programa da BBC (RTP1, ontem) dedicou-lhe uma hora; nem uma palavra sobre o extraordinário sucesso do SNS cubano.

 
Pedra de leite
Romaria S Mamede. Rendufinho, Lanhoso 17 de Agosto

S. Mamede, protector da mamada. No alto, uma paisagem soberba com o castelo de Lanhoso ao fundo. Cavalos pastam entre enormes pedras de granito em equilíbrio instável. No cimo, a ermida do padroeiro que as devotas rodeiam três vezes, rezando o terço para que o santo favoreça a amamentação das crias, humanas ou animais. Os penedos redondos -- pedras de leite -- foram caiados para imitar seios.
O barulho infernal dos altifalantes das barracas de comes e bebes interrompe-se durante o sermão; fantástico - só ouvi-lo justifica a viagem ao Fantasistão.

13.8.06

 
O Hezbolah como nesidioblastose

Que é vencer? Para os israelitas é afastar o Hezbollah da fronteira e obter o seu (futuro) desarmamento. Para o Hezbollah, é muito mais simples: apenas resistir e sobreviver. Proclamará sempre vitória. JA Fernandes.

Ao Hezbolah basta-lhe sobreviver para vencer; tal como o cancro.
Trata-se de um cancro especial, não destrói as células entre as quais cresce e se abriga; agride os órgãos vizinhos enviando mísseis destruidores - insulina em altas doses. O governo de Israel trata-o como se fora um tumor bem individualizado; pede aos generais cirurgiões que o extirpem com o bisturi ou o aniquilem com radiações. Mas não é um insulinoma, é uma nesidioblastose, uma neoplasia cujas células, de crescimento contínuo e cujo único fito é produzir insulina obsessivamente, se infiltram nas células sãs com as quais de confundem; é muito difícil distingui-las: ambos são células beta. Atacá-las indiscriminadamente só seria eficaz se eliminasse todo o pâncreas - o Líbano. Os efeitos secundários (danos colaterais) são imensos, dolorosos e contraproducentes; atingem tanto as células normais do pâncreas quanto as do paciente operado.
Quem apoia a sobrevivência de Israel criticará os erros estratégicos e as atrocidades de guerra dos seus responsáveis com tanto ou mais vigor quanto os outros.
Enquanto a paz não for conseguida, procura-se uma táctica diferente -- um anticorpo específico que atinja electivamente as células alvo; de preferência que as impeça de produzir insulina
.

 

O rancho. Moure, Lanhoso.

 

Pelourinho torto de Moure, Lanhoso.

 
Moure, Póvoa de Lanhoso

Os moradores desta freguesia eram isentos da jurisdição real e só eram obrigados a hirem à guerra, quando fosse o arcebispo, mas eram obrigados a cavar-lhe as vinhas. Pinho Leal. Portugal Antigo e Moderno. Lisboa 1875.

12.8.06

 

Alminha na horta.1796. Travassos do Rio.

 

Ao Boi do Povo. Travassos do Rio.

 
Ao Boi do Povo
Travassos do Rio, albufeira do Alto Rabagão.

Na pedra lateral há uma legenda, de que só reparei na fotografia; agradeço a transcrição.
No Índia, a vaca é venerada; retornados do Egipto, os judeus adoraram o Bezerro. No Barroso, o ídolo é o Boi do Povo como no Ribatejo é o toiro. Agricultores e pastores reconhecidos.

11.8.06

 
Inteligência

Uma das mais bem sucedidas operações de contra-terrorismo

É isto que justifica chamar de inteligência aos serviços de informações.

 

Aparecida, Lousada. Promessa de ir amortalhado com uma vela do seu tamanho. O calor arqueou a estearina.

 

Aparecida, Lousada. Ex-voto e petiz amortalhado; promessa cumprida.

 
Morte e ressurreição
Aparecida, Lousada

No cortejo muitos penitentes cumprem promessas – a maioria carrega ex-votos de cera (velas do tamanho da promessa, pernas, braços, mamas e, sobretudo, imagens de crianças. Muitas mães levam os filhos ao colo (ex-votos vivos?).
Alguns vestem uma túnica de tule sobre a roupa normal – uma mortalha em penitência ou cumprimento de promessa. Até há anos, os “amortalhados” iam dentro de caixões, na procissão! O padre conseguiu que esse cortejo profano se separasse do religioso; agora parece extinto.

Dezenas de pessoas, vivas, deitam-se em caixões verdadeiros que são transportados por amigos, com acompanhamento do padre e de bandas que tocam música fúnebre. O cortejo sai da igreja-mãe, atravessa a aldeia e entra na capelinha da Senhora Aparecida; entrando por uma estreita porta, o morto levanta-se do caixão mal chega à presença da Senhora e sai pela outra porta, «vivo». Reproduz-se assim, graças às simbólicas conjugadas da procissão, da morte e da Igreja, uma morte colectiva e uma regeneração.
Moisés Espírito Santo. A Religião Popular Portuguesa. A Regra do Jogo

 

Aparecida, Lousada. Os andores indianos e os chapeus minhotos.

 

Aparecida, Lousada. O andor penitencial.

 
Cortejo indiano no Minho.
Aparecida, Lousada.

Na tarde de 14 de Agosto sai a procissão; além dos andores, anjinhos e outros símbolos católicos habituais, o que distingue esta manifestação são três andores altíssimos, o maior dos quais tinha 14 metros.
É uma estrutura plana, um painel semelhante aos arcos engalanados das entradas das aldeias minhotas em festa. Cada um leva uma imagem dum santo; o maior, é o da Sr.ª Aparecida que mal se nota, afogada nas decorações exuberantes de cetim colorido, de tons suaves, semeadas de cordões cintilantes e de pequenos espelhos que reverberam ao sol da tarde. No cimo, uma enorme cruz-flor. A Índia.
Quatro longas cordas compensam a força do vento e evitam que o andor caia nas íngremes calçadas da aldeia. Cerca de 40 homens – descalços até há anos – suportam esse andor, transpirando com o esforço; para aumentar o sacrifício, não é hábito usar varas para descanso. Benarés.

 
Amnésia

Não deixem de ler as crónicas que Luís Fernando Veríssimo nos manda do lado de lá, na Actual/Expresso; a de 22 de Julho (Em Amnésia) é genial.

 

Férias no Barroso

Alminha em Atilhó, Carvalhelhos.
No nicho, uma imagem da Srª da Conceição de granito é coroada por duas figuras humanas, anjos sem asas.

8.8.06

 
Férias no Barroso

Atilhó, Carvalhelhos

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