alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

31.3.05

 
A guerra contra os cátaros

A proposta de incluir uma base de dados genéticos no BI, (um projecto inédito na Europa), é preocupante – reconhece-se a incapacidade das forças da ordem distinguirem os inocentes do culpados por meios ortodoxos.
O livro único de Organização Política do meu tempo dizia que “o Comunismo, na sua fúria destruidora, não distingue o Bem do Mal, o justo do injusto...” O regime extinguiu-se mas deixou sementes: para expurgar os injustos todos os meios são justos.
A mensagem subjacente à proposta do Ministério da Justiça é: “todos são suspeitos enquanto se não provar o contrário”. Era o argumento utilizado pelo representante do Papa, para poupar o trabalho de distinguir um cátaro dum católico : "Matem-nos todos. Deus reconhecerá os seus". Mil anos antes, Herodes usara o mesmo método.



 
Gulliver no Hospital

José Régio dizia que em cima duma cadeira era mais alto que o mais alto do homens; deitado numa maca dum hospital sinto-me Gulliver em Brobdingnag. Um ângulo recto põe em causa a maneira de ver o mundo; as faces têm formas estranhas e o tecto é o horizonte. Sob um lençol sou apenas “mais um doente”, olhado com piedade ou indiferença.
Na sala de operações, a máscara e a touca tornam toda a gente irreconhecível. São apenas rostos indefinidos como os das mulheres árabes sob a tchador.
Todos os estudantes de Medicina, de Enfermagem e todos os administradores hospitalares deveriam passar, anónimos, por uma experiência destas.


27.3.05

 
respigos

cão que morde
Nem uma palavra sobre a chuva que finalmente chegou depois de tão prolongada seca. A notícia não seria suficientemente ruim.

 

O compasso, a visita pascal no Minho.
Na Páscoa, o padre retribui a visita dominical dos fiéis -- na data que comemora a ressureição de Cristo. Talvez por isso, o padre só volta a casa do crente para dar a extrema unção.

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26.3.05

 

Escolha a legenda:
a) Nazarenos da Semana Santa em Leon
b) Sanbenitos condenados pela Inquisição
c) Terroristas suicidas islâmicos
d) Klu-Klux-Klan e) outro

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respigos

mar aberto ou rio violento
“... se quisermos combater a recessão e o desemprego, devemos libertar as energias criadoras da sociedade civil, e não aumentar o fardo estatal que constrange essas energias.” J. Carlos Espada, Mar Aberto. Expresso, Actual 25-3-2005
A mesma imagem da mesma dialéctica que Brecht havia trovado noutro contexto:
“Do rio que tudo arrasta se diz ser violento
mas ninguém diz violentas as margens que o constrangem
”.


 

"O Ministério da Agricultura emprega um funcionário por cada quatro agricultores, metade dos quais está em Lisboa". Expresso. Economia 26-3-2005.
É a cravagem do centeio, um fungo parasita que ataca um em cada quatro grãos; a farinha parece boa, mas provoca alucinações psicadélicas e gangrena das extremidades.
A doença é vitalícia; só a morte da planta susta a epidemia. É ineficaz plantar uma por cada duas abatidas.
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O fanatismo mole

Começa-se a frase com a palavra portanto; começa-se pela conclusão, prescindindo da argumentação.
O exemplo eloquente do império da crença.

Ler Salman Rushdie


 
respigos

"um país em que a ocupação geral é estar doente..."
Será verdade que cada português viva 35 anos doente ? e que cada portuguesa viva 20 anos doente ?
Nesse aspecto, os portugueses não diferem dos europeus.

“Anos Saudáveis de Vida”. Eurostat 2003

Por que será que os valores portugueses são tão próximos dos ingleses e suecos?
"Num país em que a ocupação geral é estar doente..." desde 1888 (Eça. Os Maias) n
ão admira que o modelo social europeu esteja em crise.

25.3.05

 

Pare, escute, olhe ao cruzar qualquer das vias - férrea ou sacra.
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Adivinhas

A pergunta era: Qual a padroeira dos eruditos ?
A resposta é óbvia -- Stª Cita.

Outra : Qual é o patrono dos publicitários ?

 
Quando a Birmânia era cosmopolita

"E querendo este rei bramá, por grandeza de estado, festejar esta entrega do chaubainhá, mandou que todos os capitães estrangeiros com sua gente armada e vestida de festa se pusessem em duas fileiras a modo de rua para vir por ela o chaubainhá, o que logo foi feito.
E esta rua tomava desde a porta da cidade até a sua tenda, que seria distância de dois terços de légua, na qual rua estavam trinta e seis mil estrangeiros, de quarenta e duas nações, em que havia, portugueses, gregos, venezianos, turcos, janíçaros, judeus, arménios, tártaros, mogores, abexins, raizbutos, nobins, coraçones, persas, tuparás, gizares, tanocos da Arábia Feliz, malabares, jaus, achéns, mões, siameses, lusões da ilha de Bornéu, chacomás, arracões, predins, papuas, celebes, mindanaus, pegus, bramás, chalões, iaquesalões, savadis, tangus, calaminhãs, chaleus, andamões, bengalas, guzarates, andraguirés, menancabos e outros muitos mais a que não soube os nomes."

Fernão Mendes Pinto. Peregrinação 1614.

 
O partido no dia da vitória e depois de atribuir os pelouros

"Coisa certo nunca cuidada nem imaginada, e em que se pode ver claramente a miséria da vida humana, porque, havendo menos de doze horas que nos abraçávamos todos e nos tratávamos com tanto amor que morreríamos todos uns pelos outros, nos trouxeram nossos pecados a tamanho extremo de necessidade, que sobre quatro pedaços de pau atados com duas cordas nos matámos todos uns aos outros tanto sem piedade como se fôramos inimigos mortais, ou outra coisa ainda pior."

Fernão Mendes Pinto. Peregrinação 1614.



24.3.05

 

Penitência. Magnífica ilustração de Carlos Marreiros da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto.
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Leitura edificante na semana santa

“E a coisa que dava por si era conforme ao pecado que tinha cometido.
Porque os que se sentiam culpados no pecado da gula e não tinham feito naquele ano abstinência nenhuma, se pesavam a mel, açúcar, ovos e manteiga, por serem coisas agradáveis aos sacerdotes de quem haviam de receber a absolvição.
E os que se sentiam culpados na sensualidade se pesavam a algodão, a frouxel, e panha, e roupa, e vinho, e cheiros, porque diziam que estas eram as coisas que serviam para este pecado.
Os tíbios e frouxos do amor de Deus e avarentos no dar das esmolas se pesavam a dinheiro amoedado de cobre, estanho e prata e a peças de ouro.
Os culpados na preguiça se pesavam a lenha, arroz, carvão, porcos e fruta.
O que pecou na inveja, de que se não tira mais fruto que o pesar do bem que Deus quis dar a outrem, o pagava com o confessar publicamente e com lhe darem doze bofetadas no rosto em louvor das doze luas do ano.
E o pecado da soberba se pagava a peixe seco, e a vassouras, e bosta de boi, por serem coisas mais baixas que todas.
E o que pecou em falar muito em prejuízo do próximo sem lhe pedir por isso perdão, oferece por si na balança uma vaca ou um porco ou carneiro ou veado.
De modo que por esta via se pesava infinidade de gente em todas as balanças que estavam nestas seis ruas, de que os sacerdotes recebiam tão grande quantidade destas esmolas que de cada coisa havia rimas muito grandes.
E o povo mais pobre, que não tinha que dar nem que oferecer em remissão de seus pecados, dava os cabelos da cabeça, que logo ali lhe tosquiavam mais de cem sacerdotes, que todos por ordem estavam para isso sentados em tripeças com tesouras nas mãos. E também havia muito grandes montes daqueles cabelos, dos quais outra companhia de mais de mil grepos, todos postos em ordem, faziam cordões, tranças, anéis e manilhas, que toda a gente comprava para levarem para suas casas, como entre nós costumam os romeiros que vem de Santiago trazer os brincos de azeviche.”


Fernão Mendes Pinto. Peregrinação. 1614

 

A publicidade promete satisfazer os desejos (não as necessidades).
Neste folheto as palavras são: mais, a dobrar, 4x, +, mega, top.
As letras transbordam.

Mensagem: não se esforce por melhorar; a vida é uma roleta e nós oferecemos "Mais por menos" -- a sorte grande "ao mesmo preço".
Não admira que o consume dispare, o défice aumente e os portugueses engordem.

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23.3.05

 
respigos
Redundância condicional

Este é uma das mazela da linguagem corrente, nomeadamente dos jovens jornalistas de que se esperaria melhor domínio da língua.
1. Um convite foi redigido nestes termos: “Gostaríamos de o convidar...”.
Admito que esta forma condicional seja uma amálgama de querer e gostar de convidar mas o resultado é constrangedor -- fiquei à espera do se ... mas não havia condições. Não seria mais claro e mais simples escrever apenas que me convidavam ? ... com todo o gosto, se fosse o caso ?

2. Alguns jornalistas têm o mau hábito de iniciar um diálogo por: “Começaria por lhe perguntar...”
a) Porque não prescindir dessa introdução? Porque não formular directamente a pergunta?
Comportam-se como se os entrevistados falassem uma língua desconhecida e fosse necessário traduzir a pergunta.
b) Porquê o condicional (começaria) ? Se o interlocutor não autorizar, prescindiriam da pergunta ?

Qual o significado desta epidemia de redundância condicional ?

 
Regresso à EXPO 98. Marx & Spender

O ectópico centro comercial do Parque das Nações está ladeado de dois monstruosos edifícios em forma de nau -- S. Gabriel e S. Rafael, que nesta coisa de negócio há que estar de bem com Deus e com o Diabo.
Chamar-lhe Vasco da Gama é uma exploração escandalosa do nome do chefe da armada; se se queria evocar a epopeia no "shopping center" entre duas naus, ao menos que lhe dessem o nome da caravela dos mantimentos.
Não há regime que não tente mobilizar os mitos nacionais em seu favor. Fê-lo o anterior com a eficácia que se conhece; fazem-no os poderes de agora com descarado oportunismo: Colombo em 92, Gama em 99. Rainha Santa (a da ponte de Coimbra) num "shopping center" em 2009 ? Marx & Spender em 2017 ?
Se um mercado se vier a chamar Che Guevara, logo surgirá um Zeca Afonso.
Para camuflagem prefiro Christo .


 
Regresso à EXPO 98. Etiópio

Para chegar ao pavilhão de Portugal, tristemente vazio, obrigam-nos a atravessar um "shopping center".
Como é possível que se tenha construído uma feira cupulada entre a estação do Oriente e o Pavilhão de Portugal, obrigando-nos a suportar a armadilha dos vendilhões para atingir a serena quietude da beira rio?
A multidão, viciada nas compras, dilatava o défice; a maioria dos adolescentes fumava ou sorvia gelados. O doce é um potente estupefaciente dos recém-nascidos; aqui, o ópio é o crédito.
Só mais tarde me dei conta do simbolismo da localização do mercado, o que explica que lhe tenham chamado Vasco da Gama que, para chegar à Índia, teve que passar o Cabo das Tormentas no bazar de Mombaça. Em 1999 impunha-se um nome épico para atenuar a trivilidade da viagem deste Oriente ao Tejo; houve que escolher entre Vasco da Gama, da Boa Esperança (já que não teria sentido evocar Tormentas, quando toda a gente ali parece satisfeita), Ulisses (o que resistiu à traiçoeira sedução das sereias), Sereia (metade mulher, metade peixe, cujo canto era tão suave que atraía os marinheiros para os escolhos do mar), Abissínia ou Pérsia. Etiópio teria sido mais adequado.

 
Regresso à EXPO 98

Regressei à Expo, agora Parque das Nações. Mantém-se o mesmo espírito -- as árvores resistiram verdes e vão crescendo, as pessoas parecem satisfeitas, os passeios mantêm-se limpos.
O Oceanário é realmente fantástico; havia nascido uma lontrita que a mãe cumulava de carinhos anfíbios. O Mar Aberto foi o que mais me impressionou -- a majestade solitária dos tubarões e a cinética beleza dos cardumes. Alguns peixitos seguiam os tubarões -- um séquito reverente ou o único local onde não seriam vistos? As barbatanas laterais, quase imóveis, servem apenas para estabilizar; a propulsão depende da cauda. Dei-me conta que o avião tem muito mais a ver com os peixes que com as aves.
Imaginei um cilindro oco e transparente que permitisse um mergulho virtual com o mar a toda a roda; ficará para a Expo 2014.

22.3.05

 
Agustina, honoris causa, pela Universidade do Porto
Na Faculdade de Letras mas poderia ser na de Medicina:

"As doenças não só são as viagens dos pobres, são também as belas escoriações dos ricos... Via-se quanto a doença as desafogava, como os seus clisteres, as suas águas termais, as suas pílulas, as consolavam de sentimentos falhados, de sonhos pesados e sem desenlace. E os seus médicos eram os amantes viáveis, a quem entregavam o segredo do ventre e do coração, a quem confessavam os apetites sob a forma de um desmaio, de uma febre, de uma erupção. Mais tarde, quando toda uma sociedade apareceu enferma, ávida de consultas, capaz de devorar toneladas de antibióticos como se fossem confeitos, viu-se que a sociedade era feita de estreitos espaços, desumanizados, sem expansão a não ser a que a propaganda lhe prometia, mas na realidade sôfrega de ternura que se perverteu em favor da ganância meticulosa das coisas que se acumulam e não servem."

"... como alguém que foi envenenado e sofre ainda os efeitos da alquimia que alterou o sangue, que depositou quilo branco na urina, que fez as hormonas segregar fel, o fígado exalar açúcar, o coração absorver dez litros de sal verde que a cabeça tinha dentro. "

Agustina Bessa Luís. Os meninos de ouro. Guimarães Ed. Lisboa 1983

 

"Prós e contras" da farmacomania. A RTP usa o sinal + para exaltar o programa de Março e aproveitou uma cruz vermelha (um logotipo sanitário) para o simbolizar.
Duplo equívoco: Nem sempre é preciso mais para ser melhor, nem sempre o bem estar depende de medicamentos.
Posted by Hello

 
"Prós e Contras" da farmacodependência

A anedota é conhecida: Um bêbedo perdeu a chave de casa numa rua escura e foi procurá-la à luz dum candeeiro afastado... porque onde a perdera não se via bem.

Portugal é dos países que mais medicamentos consome. Quando seria de esperar que se discutisse esse excesso, Sócrates pôs toda a gente a discutir os seus locais de venda; e apenas de uma ínfima parte !
Se se legalizasse a venda do haxixe, a discussão sobre os pontos de venda seria semelhante, centrado na acessibilidade, preço, conveniência, promoção ...
Nem nos questionamos por que diabo é que estaremos dependentes de drogas.


Aos 68 anos, Maria Augusta diz que a sua casa «é uma autêntica farmácia». Ela e o marido, com uma pensão mensal «de 40 contos, na moeda antiga» gastam, «perto de 20 contos todos os meses» com medicamentos. Só com a calcitonina, um medicamento para a osteoporose, gasta 65 euros mensais. DN 11-8-2004

 
Será melhor não discutir que discutir mal?

No "Prós e Contras- RTP" discutiu-se a venda livre de medicamentos sem receita médica.
Eis algumas palavras:- ganho, interesse, negócio, eficiência, economia, concorrência, facturação, espaço de venda, comercializado, ganhar/perder, absorver parte do mercado, promoção, publicidade, levados a comprar, por impulso, “topo de gôndola”, medida fácil de passar, conveniência, comodidade, consumidor, benefícios para as pessoas, direito de escolher, coarctar a liberdade.
O medicamento como mercadoria. Não se falou na necessidade do doente, da racionalização da (auto)medicação, nem do excesso de consumo de medicamentos em Portugal ("... em 1996 consumiam-se 22,3 fármacos por pessoa, duas vezes mais que o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia". A. Hipólito Aguiar. Medicamentos, que realidade? - Passado, Presente e Futuro. 2002).
O medicamento sem necessidade de receita médica foi tido como um produto de primeira necessidade.
O mercado que nos impôs as suas regras, tenta impor-nos também o seu paradigma.

Para ele, o doente é sobretudo um consumidor. Quem não consome não conta; quem não vai ao bazar não existe. O indivíduo saudável é uma espécie em vias de extinção.
O próximo passo será colocar urnas de voto no “topo de gôndola” dos “shopping centers” para conveniência dos consumidores-cidadãos.

Nas semanas anteriores os partidos terão feito promoções nas grandes superfícies.


21.3.05

 
"É melhor não produzir do que produzir mal".
Numa fábrica chinesa em 1998.
António Caeiro. Pela China dentro. D. Quixote 2004. Excelente livro.

Mas é melhor pensar mal do que não pensar.

 
respigos

Sete pecados capitais

* A crença nesta falácia maior: mais dinheiro traz mais educação.
* A convicção de que para educar mais e melhor são precisos mais professores. Portugal já tem um dos mais baixos números de alunos por professor.
* A arrogância burocrática e estatal ... de querer administrar, a partir de Lisboa, 12.000 escolas, mais de 200.000 professores e mais de milhão e meio de alunos.

Deve ser o sector da vida portuguesa onde mais se desperdiça. António Barreto

O Banco Alimentar podia dar uma ajuda; aproveitava os professores com prazo de validade a caducar (ano zero), os milhares de professores destacados, os excedentários (“para não baixar o preço”) ou “com um pouco de ferrugem” e colocava-os onde fazem falta.


 
Análises fundamentadas

OECD Factbook 2005
"All OECD countries have achieved remarkable progress in reducing infant mortality rates since 1960. On average across OECD countries, infant mortality rates stood at 6.5 deaths per 1 000 live births in 2000 down from 36.4 in 1960. Portugal has made much progress, bringing its infant mortality rate down from 77.5 deaths per 1 000 live births in 1960 to 5.5 in 2000. " (4%o em 2003)
Exemplo das “dramáticas deficiências do nosso” SNS a que se refere
Manuela Morgado.

 
Ganhar a vida na grande cidade

O Metro é o transporte usado por muitos dos que vieram para a grande cidade à espera duma vida melhor que a que levavam na sua terra, onde tinham que se levantar antes do sol para mal conseguir sobreviver; para ter uma casa melhor que a de lá. Para poder dar aos filhos o que eles não tiveram.
Agora levantam-se antes do sol, passam horas nos transportes para vir trabalhar para ganhar com que paguem o passe, a creche e a renda de casa onde chegam já de noite.
Entra uma enorme gorda que se arrasta até se sentar em dois lugares do banco. Tem quatro anéis, muitas pulseiras, dois óculos (uns na cabeça); não tem colares porque não caberiam na papada que descansa nas mamas que descansam no pneu e este na rotunda barriga. Lê o Destak enquanto mastiga.

Tanto esforço para fugir à fome quanta canseira para arrastar o proveito. Agora, tanto trabalho para corrigir o abuso.

20.3.05

 
Lutar contra o desperdício é "a grande vitória" do Banco Alimentar 2

O desperdício da sociedade de consumo (os excedentes rejeitados pelo bazar) salvo dos caixotes do lixo para matar a fome aos enjeitados do mercado e dos planos quinquenais.

 
respigos

Lutar contra o desperdício é "a grande vitória" do Banco Alimentar

Toneladas de alimentos são resgatadas anualmente ao lixo a que estavam destinadas e doadas para minorar a fome a 200 mil pessoas.
São 60 toneladas de pêras e maçãs, com um aspecto óptimo. "Ia tudo para enterrar, para não baixar o preço ao produtor"; milhares de latas de feijão verde com um erro no rótulo ou 70 toneladas de latas de conserva de cavala, válidas até 2007... as latas ficaram com um pouco de ferrugem - "ia tudo para o lixo". Anualmente são destruídas em Portugal 3800 toneladas de peixe, também para não baixar o preço ao produtor.
"A novidade do Banco Alimentar não é lutar contra a fome". "Isso é o que fazem as instituições que trabalham" com ele. "A grande inovação ... é lutar contra o desperdício..."


Foi este sistema absurdo que provou ser menos ineficiente que o socialismo real ?

19.3.05

 
À espera da chuva

Todo o Inverno sem chover. Do comboio, os campos parecem surpreendentemente verdes nas várzeas de Fungalvaz, donde vinham as melhores couves. Nas pouco-mais-que-hortas, muito bem tratadas, os canteiros de terra castanha esperam a chuva que tarda.
Um camponês, sem nada que fazer, olha o céu à espera que a Natureza se cumpra; atitude estranha num agricultor, sempre atarefado.
Quando espera, o lavrador torna-se pastor.
ler em Mar Salgado

 

A quota de mulheres ou a cota dos saltos ?
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Melhorar de vida na grande cidade

"A cidade é tão bonita, quando vamos de visita!"

O movimento de pessoas na grande cidade inebria a visita: - Aqui vive-se !
Procurando o que leva aquela gente a mexer-se, dá-se conta que vão ou vêm do trabalho para pagar a renda de casa, o passe ou o carro que compraram para ir e vir do trabalho.
Para o pagar têm que trabalhar mais tempo; pelo que lhes é útil o carro para perderem menos tempo na viagem, tempo que gastarão a procurar lugar para estacionar junto ao local de trabalho.
Trabalho que os não satisfaz mas que suportam para poderem continuar a ...

À Arminda dói-lhe o pulso direito. Já não consegue executar, com a mesma destreza, os repetitivos movimentos que implica o seu posto na linha de montagem. E Arminda procura então o médico de trabalho da empresa. O médico prescreve-lhe injecções, fisioterapia e um exame, e aconselhou um especialista. É Arminda que paga o exame: são 75€ a menos no seu salário. Público 13-2-2005

Um formigueiro que tivesse caído à água -- cada formiga procurando desesperadamente trepar por cima das outras para não se afogar.
Mas é ali que estão os jornais, o aeroporto, a Gulbenkian, a Culturgest e o CCB.
Também era na ratoeira que o queijo estava mais acessível; a Tabaqueira também apoia o IPO, a McDonald apoia hospitais e as empresas farmacêuticas o SNS.
Aos crocodilos convem que os gnus se multipliquem.



 
Diálogos com Senghor. A não perder

Magnífico conjunto de exposições-instalações de um seminário sobre “O Universal” em Joal, a aldeia de Senghor, o luso-africano da Academia francesa que promoveu os valores da negritude e o primeiro Presidente de um país africano que se retirou voluntariamente.
A não perder os vídeos sobre Muhsana Ali*, o de Ângela Ferreira (Joal , la portugaise) e o de Mª Theresa Alves (sobre a beleza do lixo no mar...) –excepcional.

E ainda o diaporama do palestino Taysir Batniji (vê-se um senegalês com a camisola de Rui Costa) e os desenhos de crianças de Joal sobre outros de francesitos -- vêem-se alguma cubatas mas não desenharam carapinhas. “Nem vestígio de negro...”
Até 26 de Março na Culturgest (Lisboa)

* Muhsana Ali é afro-americana: "Sou vista de maneiras diferentes, consoante o país africano onde estou. na Costa do Marfim tomam-me por mestiça... por tuaregue ou malgache. No Mali não me vêem como estrangeira. No Senegal pensam que sou da Guiné, por vezes tomam-me por cabo-verdiana". Windows to the soul, 2004.

18.3.05

 
Adivinha

Eu repito: Qual é a padroeira dos eruditos ?

 
adivinha
Qual é o/a padroeira/o dos eruditos ?

17.3.05

 
Angola nossa

Duas exposições sobre Angola no antigo colégio de S. Bento (Botânico e Antropologia). Duas reportagens com 50 anos de intervalo.
Magníficas fotografias da missão de Luis Carrisso (1927). “África Minha” – as cubatas, os embondeiros gigantes, os automóveis antigos nas picadas, nas jangadas e no meio da savana – onde haveria gasolina ?
Os sobas, uma multidão de negros atrás de dois ou três chefes brancos - o sol brilhando no suor de centenas de testas e narizes. Brancos de casaco e gravata, por vezes com colete; negros vestidos à europeia, camisa branca de fralda de fora e chapéu de coco. Como Beló em Luanda, nos anos 60. Quem interpreta ?
Os espaços livres, os rios, as pirogas, as sanzalas onde só as mulheres trabalham - a capinar, a pilar, a amamentar, com os filhos às costas, as mulheres... Os homens só trabalhariam nos diamantes da Lunda.
Ruy Duarte de Carvalho mostra Angola meio século depois (1977). Fotografias e objectos de uso e adorno. Numa pobreza extrema, a exuberância dos adornos -- pulseiras, escravas, colares às dúzias, cervilheiras, búzios, missanga. Os penteados fantásticos das mulheres, mantidos com pasta de origem suspeita e que obrigava a dormir apoiadas no pescoço. Quem quer comentar ?
Ao fundo, no escuro, algumas extraordinárias peças de artesanato angolano, da fabulosa colecção do Museu.
A ver e a fruir enquanto é tempo. Quase não está anunciada.

 
respigos

Centro de Saúde (RTP1)
Um programa de ensino de cuidados de saúde. Aborrecido como uma aula chata.
Natália tinha razão: “Os intelectuais portugueses são uns chatos”, muitos divulgadores também.
Qual teria sido a audiência do programa? Qual o impacto ?
A velha convicção de que se deixa de fumar por conhecer os malefícios do tabaco. A tentativa ingénua de lutar contra a criatividade da promoção legal do tabaco ou dos produtos alimentares com canhestras lições usando a TV como quadro preto. Sono.
Não creio que os hábitos nocivos, o cancro do pulmão, o infarte do miocárdio ou a obesidade possam ser alterados por programas deste tipo.
Não seria mais eficaz integrar o acidente que se quer prevenir, num episódio duma telenovela de grande audiência ? Uma criança pede água e a mãe dá-lha num copo. Grita com dores com a boca queimada – em vez de água tinha bebido um detergente cáustico que alguém tinha guardado numa garrafa para água. Pior que a da boca é a queimadura do esófago que poderá levar anos a tratar.
Ao sofrimento da criança junta-se o remorso da família, responsável por essa negligência. Não calaria mais fundo ?

16.3.05

 
respigos

tabaco nas farmácias - medicamentos nos supermercados
A ANF exagera os perigos para a saúde pública da venda livre de medicamentos não sujeitos a receita médica.
Em alternativa, sugiro que o tabaco passe a ser de venda exclusiva nas farmácias; afinal tem acções farmacológicas e efeitos secundários perigosos.
O comprador seria aconselhado pelo farmacêutico sobre os riscos do tabaco ("O tabaco é o único produto de venda legalizada que, utilizado segundo as indicações do fabricante, mata" Go Brundtland, OMS) e só lho venderia após consentimento informado por escrito.

 

Bombas de gasolina querem vender medicamentos; se já vendem soro fisiológico e mercurocromo, porque não? Com motores a álcool, tudo será mais fácil
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respigos

Do medicamento-mercadoria ao cheiro da canela
preço
valor que cobram
venda livre
linha branca
superfícies comerciais
negoceiam
margens de lucro
mais barato
consumidor
Bombas de gasolina querem vender medicamentos
Estações de serviço alegam que já comercializam soro fisiológico e mercurocromo.
E também os CTT, as lojas de conveniência e as e.receitas nas Net-farmácias.
Há que baixar os preços e facilitar a compra dessas comodidades.
Entretanto as farmácias anteciparam-se e vendem cosméticos. Entra-se numa farmácia e vemo-nos rodeado de produtos ditos de beleza. A farmácia já não cheira a remédio, mas a desodorizante.
Para atenuar o “odor corporal” não basta água e sabão; convencem-nos a substituí-lo pelo odor do consumo. Já não é a primeira vez: “ao cheiro da canela, o reino nos despovoa” (Sá de Miranda)
Tudo servirá para equilibrar as finanças dum país que ainda só consome 2 x mais medicamentos que os países europeus.
Exijam sempre mais” e mais barato.

 
respigos

A serventia da criança-objecto
"Parar com a violência contra as crianças. Agir já." Uma campanha da ONU
Uma família tinha uma criança de 11 anos a seu cargo desde há cinco anos; a mãe tinha o direito de a visitar— direito que esteve mais de seis meses sem exercer. A família impediu essas visitas por considerá-las lesivas para a criança. (SIC)
Em face desse desrespeito, o tribunal retaliou – colocou a criança num asilo com vista a devolvê-la à mãe. Tratou a criança como uma propriedade -- a família de acolhimento tinha que dar serventia à mãe-proprietária.
Os efeitos dessa decisão sobre a criança serão consideradas como inevitáveis “danos colaterais” pelo castigo do desrespeito da ordem dum juiz?
O juiz ter-se-á aconselhado; percebe-se onde se perde o tempo que falta para outros fins -- "
o trabalho da Segurança Social com as famílias (das crianças em risco) é zero". Opinião partilhada por Paula Cristina Martins, investigadora do IEC: "falta tempo, faltam recursos materiais, faltam profissionais e formação especializada nesta área de intervenção".
Não será que falta tempo porque os profissionais, que não têm “formação especializada nesta área”, se permitem emitir pareceres e tomar decisões ?

15.3.05

 
respigos

Um quarto do quilo para a administração pública
Na RTP (PRÓS E CONTRAS) discutiu-se a reforma da administração pública. Medina Carreira diz que 43% dos portugueses (62% dos de mais de 24 anos) dependem directamente do Orçamento do Estado. A Inspecção Geral de Finanças conclui que 55% do trabalho da administração pública portuguesa reverte para o próprio Estado. Única Expresso 18-2-2005

* Numa empresa complexa de produtos sofisticados seria compreensível que apenas metade dos seus funcionários produza enquanto a outra metade trate da logística.
O que surpreende é que metade do trabalho logístico se dissipe na sua própria manutenção. Como se o estômago usasse 1/4 dos alimentos em seu benefício -- e regateasse o quilo que os músculos e o cérebro precisam e a que têm direito.


14.3.05

 
Respigos

Os gatos pingados de Sócrates
Marcelo R. Sousa sugeriu que a referência à venda livre de medicamentos seria um sinal de que o primeiro ministro não estaria disposto a pactuar com os lobbies. Recordei-me que uma das primeiras medidas de Samora Machel foi “nacionalizar” as agências funerárias de Moçambique. Não seriam os mais poderosos mas serviam como sinal.

 
A idolatria da droga 2

Farmuleto

São enormes os gastos na farmácia se bem que nem todos os medicamentos adquiridos se consumam. É enorme o volume de medicamentos não utilizados que se guardam em casa. Os portugueses não podem passar sem medicamentos em cujo valor “acreditam”. A crença na sua eficácia é uma componente da terapia – o efeito placebo; mas os portugueses parecem acreditar que basta tê-los em casa, mesmo que os não tomem. Isto é, o medicamento, além de fármaco e placebo, é também amuleto. Magia.
Farmacodependência e magia levam a uma desenfreada “medicalização” da condição humana que alguém aproveita: "A fobia social pode ser tratada".

Isto ajuda a explicar o excessivo consumo de medicamentos em Portugal, no que os médicos têm uma grande responsabilidade. Se não racionalizarem a prescrição (Revista da OM 2001) é natural que o poder tente uma via mais tosca -- racionar a despesa com medicamentos.

reler post de 27-1-2005

13.3.05

 
A idolatria da droga 1

1. No seu primeiro discurso, o primeiro-ministro anunciou que os hipermercados poderão vender medicamentos não sujeitos a receita médica.
Uma inquietante perspectiva de uma política de saúde. A ANF tem razão: "é no mínimo surpreendente a prioridade atribuída à medida" quando há tantas "outras dificuldades como as listas de espera ou o acesso a consultas". A DECO espera que essa "lógica da concorrência" baixe os preços dos medicamentos.
2. Quando 1/4 do orçamento do SNS é gasto na comparticipação de medicamentos, compreende-se a preocupação de quem tem de gerir dinheiros públicos escassos. Mas, quando Portugal consome duas vezes mais medicamentos que outros países europeus, não se percebe a prioridade atribuída a paliativos (genéricos, venda livre) em vez de procurar atenuar a causa do problema – o seu consumo excessivo. Um voto de desconfiança nos médicos.
3. O mercado, que nos havia imposto as suas regras, impõe-nos também o seu paradigma – como tudo se pode adquirir no bazar, incluindo a saúde, tudo se resumirá a conseguir medicamentos ao mais baixo preço – um mero problema orçamental.
O marketing já conseguiu impor a crença que o fármaco é a arma nobre da Medicina. Os médicos tal como os utentes parecem idolatrar os medicamentos. “Metade dos portugueses não deixaria de interpelar o médico se ele terminasse a consulta sem lhe receitar um fármaco”. Villaverde Cabral. “A Saúde e a Doença em Portugal” 2001.
4. Uma deriva semelhante acontece com os jovens: agora drogam-se com medicamentos psicoactivos -- drogas “legais”.


 
Os bancos dos hospitais

Para o Banco de urgência do Hospital de Aveiro entra-se por uma porta lateral. Na fachada, ao lado da entrada principal, há acesso a um outro banco, o Multibanco. Aliás, o mesmo acontece em Leiria, pelo que deve ser uma característica dos hospitais novos, que ainda não eram SA.
É tão estranha esta associação de hospitais construídos pelo SNS (que pretende assegurar cuidados "tendencialmente" gratuitos) como significativa a dissociação -- o banco do dinheiro na fachada e o Banco da urgência na porta lateral; o banco do dinheiro com muito melhor aspecto que o outro e com muito menos utentes; o "Multi"banco, com entrada condicionada; o do Hospital, de porta aberta.
O banco em causa era o Espírito Santo. A ter de haver uma terceira pessoa entre o doente e o SNS, ao menos que seja uma da Santíssima Trindade.
Há que velar para que não se invoque o seu santo nome em vão.

12.3.05

 
respigos

O último cartucho
No seu último acto público como ministro da Defesa, Paulo Portas condecorou o ministro das Finanças, Bagão Félix.

 
respigos

O título e a notícia; jornalista meio má ou meio boa ?

Utentes queixam-se da espera para marcar consulta nos centros de saúde
Doentes demoram em média 27 dias para conseguir uma consulta e a maioria é atendida com atraso de hora e meia

"A maioria dos utentes está satisfeita com o seu médico de família, mas queixa-se do tempo de espera para uma consulta e da falta de informação sobre o atraso no atendimento, revela o maior estudo feito até hoje sobre qual a opinião dos utentes sobre os centros de saúde". (Pedro Lopes Ferreira. Centro de Estudos de Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra)
Joana Ferreira da Costa. Público 12-3-2005


Utentes esperam 27 dias por consulta
"A maioria dos utentes tem que esperar quase um mês para conseguir uma consulta no centro de saúde e só um em cada três consegue ser visto pelo seu médico no próprio dia. Aos 27 dias de espera média soma-se a dificuldade em fazer a marcação 56,9% ainda têm que se deslocar propositadamente à unidade de saúde e só 17,8% o fazem pelo telefone..
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.

No que diz respeito à consulta e trabalho clínico, os índices são mais satisfatórios. Um em cada seis doentes recomendaria o seu médico e a maioria considera que a atenção dispensada é excelente (57,7%), bem como o tempo de consulta (48,7%) e o envolvimento nas decisões (61,3%)". (Pedro Ferreira, do Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra).
Rute Araújo. DN 12-3-2005


Parabens Pedro e CEIS pelo interesse do inquérito e pelo rigor da análise. Que o exemplo nos contagie a todos, jornalistas para começar.
Nota:-Estes resultados são obtidos tendo Portugal metade dos CG e um terço das enfermeiras nos CSP que seria de esperar. Em Portugal onde, com 25 anos de SNS, a tutela continua a retribuir com burocrática indiferença, tanto aos médicos cuja atenção dispensada é considerada excelente (57,7%) quanto aos outros.
Se houvesse um inquérito aos leitores sobre a "atenção dispensada" pelos jornalistas ao rigor dos títulos, qual seria o resultado ?

 

Torneira: um precioso instrumento quando há água.
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11.3.05

 
Pré-história

Na pré-história os povos estavam dependentes do acaso da chuva. Apesar das levadas, barragens, azenhas, adubos, pesticidas e sementes GM continuamos dependentes dos caprichos da meteorologia.
Como se a torneira lá de casa ainda estivesse ligada à cisterna.
Como se, quanto a utilização de energia, estivéssemos no tempo dos moinhos de vento.

 

sociobiologia atrevida

11 de Março. O arrepio solene

1. Em Coimbra, pediatras discutem o risco do pneumococo, uma velha bactéria que convive connosco desde o princípio do mundo, num plácido equilíbrio instável -- ledo e quedo. De vez em quando o pneumococo agridia e ficávamos em perigo. Era a pneumonia que se anunciava por súbita febre alta – o “arrepio solene” – sinal da inflamação, a reacção primária ao agressor. Os que não morriam, melhoravam bruscamente (a"crise” do 9º dia), com a supressão da estirpe agressora.
Com a penicilina tudo mudou; a grande maioria dos doentes cura rapidamente. Toscos aprendizes de feiticeiros abusámos dessa varinha mágica e os “danos colaterais” não tardaram.
Algumas pacíficas estirpes de pneumococos foram expostas à penicilina, que lhes não era dirigida mas de que sofriam as consequências, e aprenderam a resistir. Agora, quando algumas dessas estirpes nos agridem já a penicilina não é eficaz. Essas bactérias resistentes propagam-se rapidamente; são hoje uma ameaça mundial.
2. No mesmo dia, em Madrid, os líderes mundiais acertam uma estratégia global contra o terrorismo. Procuram estudar as causas dessa pandemia e as armas que terão que atingir selectivamnte o alvo sem perturbar a tolerância entre comunidades e culturas diferentes, cuja coexistência levou séculos a conseguir.
Evitando que por cada chefe da Al-Caida eliminado surjam dois outros (M. Albright, salvo erro) mais desesperados e virulentos. Evitando combater o terrorismo fundamentalista com um radicalismo de igual natureza.
3. Preocupados com a emergência de estirpes de pneumococo resistentes à penicilina, promove-se o uso de vacina para erradicar as sete estirpes mais perigosas. A vacina é eficaz; as infecções graves são muito mais raras.

Acontece que as estirpes erradicadas estão a ser substituídas por outras, até agora menos virulentas; até ver. Por precaução, já se estudam vacinas contra mais quatro estirpes. É a guerra preventiva.
A reunião dos pediatras foi na Quinta das Lágrimas. No local onde Inês foi sacrificada por razões de Estado, eliminada numa guerra preventiva. Como se sabe, a vingança foi terrível. Cruel mas específica, verdadeiramente cirúrgica.
4. No mesmo dia, também em Coimbra, médicos e professores discutiam a dislexia– crianças que não percebem o significado das palavras, que não compreendem os sinais.

10.3.05

 
história antiga

Funeral de uma velha senhora, elegante e requintada.
Um velho padre entrou e orou junto ao caixão durante muito tempo.
Em jovens tinham namorado.
Ela nunca mais o esqueceu e ficou à espera; ele chegou um pouco tarde.

9.3.05

 
democratização da saúde
“Há que aprender a navegar a onda que entra e fincar os pés na areia com a onda que sai, enquanto o acaso e a necessidade não se colocam de novo em conjunção sincrónica. Nos “momentos frios da história” é preciso saber moderar as expectativas e aproveitar as poucas oportunidades para ensaiar pequenos passos na direcção certa.
O empreendedor público da saúde é um estratega.
...
Sabe que a mudança se faz bem a partir daqueles que sobre o terreno, pese todas as dificuldades encontraram soluções que funcionam -- há que estudá-las, avaliá-las, ajudar a melhorá-las, “limpá-las” e a afiná-las...”

Constantino Sakellarides*. Da Alma a Harry. Crónica da democratização da saúde. Almedina 2005


Indispensável a uma correcta perspectiva do que é e deve ser um SNS no Sec XXI. Onde se fala do começo e do futuro, à luz-mestra da história; onde se recordam os cabouqueiros e os arquitectos nos “momentos frios” e nos tempos eufóricos -- Gonçalves Ferreira, Arnaldo Sampaio, Torrado da Silva e o seu "incorrigível optimismo".
Enquanto lia, recordei um dito do meu Professor Augusto Vaz Serra: “Quando a onda vem, a gente agacha-se e deixa que passe, para depois se tornar a levantar” (cito de memória). Recordei-o e o que mudou em meio século.

* foi Director da OMS (Europa); em Portugal foi Director Geral de Saúde e é Professor da ENSP e coordenador do Observatório Português dos Sistemas de Saúde.



 

Portugueses em Malaca
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Lusogenia. Os genes ou os memes
Uma família “portuguesa” mora na Jalan (rua) Sequeira do Medan Portugis de Malaca . Usa o papiá cristão e tem apelido português. Para eles a história começou em 1511 – quinze-onze, dizem com orgulho. Consideram-se netos dos portugueses de outrora.
Será ? Custa a descobrir uma pinta de sangue português na cara destes malaios lusófonos. Os gentios convertidos eram baptizados com nomes portugueses – os dos senhores, pais ou não; com os nomes, adoptavam os costumes. Vencidos pelos hereges holandeses, resistiram enquistando-se.
Esta espantosa perseverança tanto pode ser resultado de hereditariedade como de herança cultural; dos genes como dos
memes.
Uma análise do ADN poderia resolver esta dúvida -- saber se o seu DNA seria ADN; poderia também saber o apelido daqueles cujos esqueletos foram “descobertos” no ban portuguet de Odiá.

Pensando bem, que interesse haveria nessa descoberta que poderia corroer o mito ? Melhor será procurar erradicar a malária.

 
respigos
O estado da saúde da RTP
1. Começou ontem a série "Centro de Saúde" na RTP1, cujo "principal objectivo ... é a divulgação de mensagens de prevenção e de consciencialização de factores de risco, modificáveis através da alteração de hábitos de vida e da adesão a meios de rastreio e detecção atempada.”
Esperava-o com curiosidade; foi uma decepção. Mais uma vez se privilegiou o Hospital ao Centro de Saúde, Panaceia a Higia, o espectacular ao básico, o palco à lavoura.
O episódio de hoje mostrou-nos a hercúlea tarefa da reabilitação de paraplégicos e uma técnica pioneira para reconstituição da medula espinhal lesada; a jornalista Claúdia Borges mostrou-nos uma intervenção neurociúrgica de ponta e, depois, entrevistou os dois responsáveis por esta magnífica tentativa.
Só que no tema de hoje não havia qualquer “mensagem de prevenção e de consciencialização de factores de risco, modificáveis através da alteração de hábitos de vida e da adesão a meios de rastreio e detecção atempada”.
Mensagem subliminar: com tais possibilidades de remediar, para quê prevenir?

2. O tema do "Prós e Contras" de Novembro de 2004, na RTP1, era o “estado da saúde”.
Entre mais de trezentos Centros de Saúde, escolheu-se um que transferiria todos os doentes com "unhas encravadas" para o Hospital; de ambulância. A fonte única dessa informação foi o Comandante dos bombeiros locais.
Dada a má estrada, a viagem é feita por estradas espanholas; a jornalista preocupa-se com o que acontecerá em caso de morte em viagem... risco previsível numa "unha encravada"...


Os “Centros de Saúde” são elementos decisivos do SNS; merecem ser tratados de outra forma.

O mapa de exames de Direito

Da RDP 1: Os estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa fecharam-na a cadeado por discordarem do mapa de exames e outras perrices. De Direito.
Entretanto 40% dos jovens portugueses não termina o secundário, meio milhão procura emprego, a Síria retira do Líbano e os palestinianos tentam a paz com Israel. Aqui, futuros juristas bloqueiam a Universidade por discordarem do mapa dos seus exames (nem do ensino nem da avaliação, apenas do mapa)-- os fins (esses fins) justificam os meios (aqueles meios).
Defenderão uma licenciatura Moderna ?

 

A alternativa
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8.3.05

 

Portugueses acordados de um sono secular. Odiá (Sião)

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“Arqueo-lusofilia” 12

O ban portuguet de Odiá
Aiútia (a Odiá da Peregrinação ao Sião) foi completamente destruída pelos birmaneses; apesar de habitada, a maioria dos templos e palácios permanece em ruínas.

Os invasores saquearam a cidade e levaram o que puderam – revestimento de oiro das cúpulas dos templos e palácios, estátuas de Buda de oiro maciço. À pressa, os siameses procuraram esconder algumas; era impossível esconder a maior de todas – alguém teve a ideia de a revestir de gesso (diz que teria sido um dos portugueses...); ainda se pode ver, magnífica, num dos templos de Bangkok.

O “ban portuguet” de Aiútia fica a meia hora do centro de Aiútia num “tuc-tuc”, um triciclo motorizado. O que resta – vestígios de um mosteiro de tijolo de S. Domingos (1566) com o cemitério ao lado - é pouco mas impressionante. Há anos a Gulbenkian financiou escavações; lá estão, lado a lado, dezenas esqueletos dos portugueses de há três ou quatro séculos, acordados do seu sono regular por alguém que os tivesse destapado de um cobertor de terra com um metro de espessura.
O quadro nada tem de macabro, cada um aparentando modos diversos de reagir:- alguns parecem incomodados com o impudor dos arqueólogos; outros parecem satisfeitos, espreguiçando-se do sono secular.

7.3.05

 
respigos
memória
O retrato do fundador do CDS, Diogo Freitas do Amaral, foi apeado e vai ser enviado ao clã adversário.
"Não estamos a querer apagar ou esquecer a história”. Óbvio.

Nem sempre foi assim; dantes enviavam o cadáver. Nas religiões, os fanáticos tendem a eliminar os cismáticos; sem grande êxito, se se recordar Cristo e as “cidades santas” do Iraque. Depois veio o assassínio virtual -- as estátuas portuguesas nas antigas colónias, as de Salazar no 25 de Abril e as de Saddam Hussein mais recentemente.
Estaline, tolerante, usou as duas técnicas.
Na rua principal de Damão, um monumento recorda, em português, "os heróicos soldados portugueses que mantiveram Damão português ... em 1959". Tinha muitas flores frescas.
Cerca de 50 metros adiante, do outro lado da rua, e também com flores, um outro elogia, em inglês, o "glorioso exército indiano que, em 1961, acabou com 450 anos de colonialismo português".
Um exemplo de civilizada tolerância da diferença e de respeito pela história.


 

Bangkok. Sta Cruz, uma igreja portuguesa e o seu cais no rio Menong (Mãe d'Água).


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"Lusofilia"11
No Sião
Retirada Malaca à multinacional maometana do Índico (1511), Afonso de Albuquerque enviou Duarte Fernandes ao Sião (Tailândia) reino independente (Tai quer dizer homens livres) onde dominava o budismo, a garantir amizade e dissipar receios de conquista. A partir daqui, os portugueses “passaram a entesar frequentemente à terra siamesa” ... com relações muito amistosas entre Portugal e Sião.
Meio século depois já havia um bairro português (“ban portuguet”), entre o malaio e o chinês, na capital de então, Aiútia, Odiá (Peregrinação) ou Ayutthaya (Património da Humanidade, UNESCO -1991) (80Km a norte de Bangkok).
Tal era a confiança que, desde 1616, a guarda real era constituída por portugueses, então mestres de artilharia (fundiam canhões de bronze) e peritos em balística. Nos jardins em frente do Ministério da Defesa há dois canhões portugueses (“Per El-Rei ... João da Cruz a fez, EN 1670”... ).

Um frade metalúrgico que tinha numa mão o crucifixo e noutra o pavio...
Muitas vezes a guarda portuguesa ajudou na defesa contra os vizinhos do Norte (Birmânia); tal não aconteceu em 1767, quando o rei teve que retirar para Bangkok, rodeado por 79 dos seus guardas.
Reconhecido, o novo rei (Rama I) autorizou os portugueses a construir igrejas católicas (lá vi a “Stª Cruz” church) -- assim mesmo na tabuleta do seu cais do Menong (Mãe d'Água), nome que os portugueses davam ao rio Chao Phraya (Rio dos Reis) -- e ofereceu terreno a Portugal para construir a sua feitoria e embaixada (a Nobre Casa). Ao contrário de todas as outras embaixadas, cujo terreno só é território nacional enquanto ali estiver a embaixada, aquele terreno é português.

A concessão do terreno para a feitoria, foi confirmada em 1820, por carta do “Ministro de Sua Majestade, o Rey de Siam” , escrita em português, a língua oficial da correspondência diplomática. Isto explica que, em 1842, o rei do Sião tenha enviado uma carta ao rei de França... em português.

Segundo o adido cultural Jorge Morbey e
José Martins, deve-se ao embaixador Mello Gouveia a iniciativa da recuperação da Nobre Casa e do Campo Português de Aiútia ("até os óculos dos antigos jesuítas descobrimos...") com o apoio da Gulbenkian (José Blanco).

 

A Casa Nobre -- embaixada portuguesa em Bangkok.
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6.3.05

 

Descubra o que estava por trás e o mantinha no cartaz.
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Borobudur. Jovens javaneses muçulmanos descobrem Buda nas stupas -- a um degrau da beatitude inefável do Nirvana.

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"Abraço Lusófono" 11
Na Indonésia
Jogyakarta, no centro de Java é uma imensa aldeia. A poucos quilómetros ficam dois monumentos do Sec. IX, destruídos pelos terramotos e soterrados pelas cinzas dum vulcão no Sec. X e só recentemente descobertas e restauradas. Um, hindu, Prambanam; outro, Borobodur, é o maior templo budista do mundo.
O guia local falava castelhano. Acentuava as últimas sílabas, à maneira javanesa, o que lhe dava um sotaque curioso – domingú, sapatú.
A propósito, surpreendeu-nos o número de palavras portuguesas na língua “bahasa” indonésia – mantega, keju, sekolah (escola), kaldera, kereta (carreta, carro), sepatu, bola... Um jornal desportivo local chama-se BOLA e o grafismo é muito próximo do português.

Surpreendeu também o número de escolas católicas no maior país maometano do mundo; o nosso guia estudara na de S. João de Brito.
Fomos sempre bem recebidos. Ao saber que éramos portugueses, nenhuma hostilidade; recordavam com gosto e sem sotaque, os nomes dos jogadores portugueses:- Luís Figo, Rui Costa, Pauleta – e lamentaram os desaires da equipa portuguesa que “não teve sorte desta vez”. Pareciam ficar surpreendidos quando sabiam que éramos apenas dez milhões...
Borobodur é uma imensa pirâmide de blocos de pedra vulcânica, em oito degraus; os cinco inferiores são quadrados – orientados para os pontos cardeais -- e os três superiores são circulares – sem começo nem fim. Cada um representa um nível de conhecimento e uma fase do despojamento necessário para passar aos degraus seguintes e atingir o mais elevado – a beatitude inefável do Nirvana. No alto, neste nirvana que os turistas atingem com dificuldade e pouca perfeição, as estátuas de Buda estão protegidas por uma espécie de redomas campanuladas, as “stupas”, construídas com pedras cúbicas ou em vértebra de peixe, articuladas de forma a deixar vãos por onde se podem ver as estátuas no interior.
Como é possível que o budismo, uma filosofia mística de busca da perfeição pelo despojamento, tenha inspirado um templo desta majestade ?
Nos grupos de jovens javaneses de ambos os sexos, o comportamento das raparigas era o das portuguesas do meu tempo; a única diferença era o uso do tchador. Só vimos burkas no aeroporto de KL; eram estrangeiras com burkas elegantíssimas onde apenas reluziam uns olhos negros que a fenda tornava misteriosos. Não percebi como foram identificadas na fronteira...

 

A edição indonésia da BOLA
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5.3.05

 
Boatos preocupantes
Tal como nos monumentos nacionais, deveria haver um sistema que impedisse a entrada de pombos em edifícios públicos -- borram tudo onde poisam.

 
Fraternura
Neologismo criado por Sousa Dinis, juiz e escritor (“Lusofonia, uma questão de língua, cultura ou outra coisa ainda…” Coimbra, Março 2005) por achar que fraternidade é demasiado morna.
Na verdade, quando a maioria dos casais só tem um filho a fraternidade deixa de ser um sentimento natural.

 

As enfermeiras francesas estão proibidos de usar o véu islâmico.
Tolice. O Vaticano tem séculos de sucesso em aculturação; em vez de proibir os véus, benzeu-os e eles renderam-se.
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As enfermeiras francesas estão proibidos de usar o véu islâmico.
Tolice; bastava exigi-lo branco e esterilizado.


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S. Pedro de Malaca; casa paroquial.
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"Abraço lusófono" 10

À chegada ao hotel de Malaca, conversávamos ao balcão. Atrás de nós, alguém se surpreendeu - Portugueses em Malaca !
Exclamação semelhante à que Ferreira de Castro (Volta ao Mundo, 1939) atribuiu ao padre Coroado, que ali paroquiava a comunidade “portuguesa” católica e que, após decénios de isolamento, mal acreditava que lhe falavam em português -- “Um português aqui, que coisa rara...”
Era domingo; igreja católica de S. Pedro cheia -- malaios e de chineses convertidos, muito pios, nada terão a ver com os velhos cristãs que parece não serem católicos exemplares, segundo o pároco, que os não tem em muito boa conta. “É gente dotada, capaz mas enquistada; estuda pouco e trabalha apenas o indispensável para sobreviver...”
É um francês que teve a curiosidade de ir a Freixo de Espada à Cinta visitar a irmã do antigo vigário, o lendário padre Coroado. Soube da nossa presença e citou-a na missa; “estão cá portugueses de Coimbra...”. Belos cânticos, em inglês; quase toda a gente deu esmola e comungou.

4.3.05

 
O concurso
Um concurso no Hospital Pediátrico para o lugar máximo da carreira hospitalar do SNS. Sete concorrentes para dois lugares – os que Nicolau da Fonseca e eu deixámos.
Todos os concorrentes foram meus alunos e nossos internos, nossos colaboradores, nossos amigos. Dos melhores da sua geração.
Todos excelentes; cada um na sua área é uma referência de nível europeu.
Curricula enxutos, sintéticos, sóbrios, como a sala “dos mármores”. Dados e linguagem clara e precisa. Aos elogios de cada argüente, sussurravam um “obrigado” (silabado, brioso, discreto): “Fiz o que era preciso...”. Um cicio.
Não havia fanfarras, nem foguetes, nem TV. Como o Torrado e o Nicolau gostariam.
Estávamos orgulhosos, felizes e tranquilos pelos nossos netos e pelos dos outros. Em paz. Lastimando o júri que terá que escolher dois dos sete magníficos.
Uns e outros trabalharam ontem todo o dia, logo entrarão de serviço. Com título ou sem título, mas com justificado orgulho.

 

Malaca vista por António Bocarro em 1616
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"Abraço Lusófono" 9
Os alcatruzes da história e da opinião pública
Albuquerque tentou destruir a multinacional maometana do Índico. O sultão de Malaca era muçulmano; durante o longo assédio poupou os navios estrangeiros (chineses e siameses). Conquistada a cidade, cada grupo étnico tinha um regedor nacional.
Agora havia que defendê-la. “Albuquerque ordenara que a fortaleza quedasse pronta em curto prazo.” Ferreira de Castro. A Volta ao Mundo. 1942. Não havia pedra na cidade, mas “... como a vontade de Nosso Senhor era, que os Portugueses fizessem assento naquella Cidade, e que o seu nome fosse ali louvado, achou-se tanta pedra, e cantaria em umas sepulturas antigas dos Reys ... e de mesquitas que derribaram, que se puderam fazer duas fortalezas". Comentários de Afonso de Albuquerque. 1576.
Isso agravou o ódio dos senhores muçulmanos da região, entre os quais o de Banda Acém; não se conhecem os sentimentos dos malaios gentios.
Em 1641 os holandeses arrasaram a Famosa fortaleza ... “para que não ficasse, literalmente pedra sobre pedra ” (Rafael Moreira em Portugal. As sete partidas para o Mundo de Mª João Avilez, Gulbenkian 2000).
Quando se mudaram para Singapura, os ingleses destruíram a muralha que circundava a colina. “... os descendentes dos malaios que tinham lutado contra os portugueses, revoltaram-se, então contra a iniciativa inglesa, considerada como acto de vandalismo...” Ferreira de Castro. A Volta ao Mundo. 1942.

 

Cartaz turístico de Malaca
A Porta de Santiago, uma kereta e um par português.
Malaca é o destino turístico da Malásia e Goa o da Índia; Cabo Verde o do Atlântico como o Brasil é o da América do Sul. Curioso.

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"Abraço lusófono" 8
Um cartaz turístico de Malaca. A pedra da inveja.
Á direita, um carro de bois coberto, uma “kereta” (carreta)
Á esquerda, um par “português” em traje ribatejano-minhoto, com espectáculo nas noites de sábado. Embora para turista ver, é estranho ouvir estes malaios de apelidos lusos cantar “Ó Rosa arredonda a saia” e dançar o "Vira" no equador quando em Portugal é meio dia.
Ao Centro, a Porta de Santiago, da famosa muralha construída pelos primeiros conquistadores portugueses, fidalgos incluídos; ainda hoje a “Famosa” e a “Porta de Santiago” (assim mesmo) são o principal ponto turístico da cidade.
As armas portuguesas da Porta de Santiago estão camufladas com as da Companhia das Índias Orientais holandesas, que ocultam a pedra da inveja "... e pera que ficasse memória pera sempre das pessoas, que foram na conquista deste Reyno, e fundação da fortaleza, ... Afonso de Albuquerque... mandou fazer uma pedra muito grande, em que se escreveram os nomes de todos os principais; e como a natureza dos Portugueses é serem invejosos de honra, não sofreram a A. Dalboquerque que se fizesse mais conta de uns, que de outros, pois todos foram iguais no trabalho, e conquista daquela cidade, e polos não descontentar, nem tornar atrás com o que tinha feito, mandou assentar a pedra sobre a porta, com os nomes virados pera dentro, e nas costas della aquele verso de David, que diz: Lapidem, quem reprobaverunt edificantes.

Comentários de Afonso de Albuquerque. 1576

3.3.05

 
respigos
A pílula para não esquecer o dia seguinte
Enquanto em Espanha (1999) a pílula era usada por 21,5% das mulheres, em Portugal (1997) a pílula era usada por 60,6%.
9/10 das adolescentes portuguesas esquecem-se de tomar a pílula pelo menos uma vez; 1/5 esquecem-se em vários ciclos. Quase um terço das adolescentes sexualmente activas já tomaram a pílula do dia seguinte.

NM, do HSJ : são o resultado da "cultura de facilitismo e ligeireza com que em Portugal estas questões têm sido abordadas".

A convicção de que tudo se resolve facilmente com drogas, antes ou depois.
Para não esquecer de tomar a pílula, deveria haver uma outra droga.
Para nos facilitar a vida e aumentar a eficácia, deveria haver pílulas combinadas.
O remédio contra a falta de memória deveria ser eficaz mesmo quando nos esquecêssemos de o tomar.
1/3 também é a taxa habitual de abstenção eleitoral.
Estas considerações também são o resultado da "cultura de facilitismo e ligeireza com que estas questões têm sido abordadas".


A revista ACP do mesmo dia faz propaganda a uma “mistura de ervas” (#&$000) para perder peso, “sem alterar em nada os hábitos alimentares”.
“Não tem que fazer nada nem abdicar de coisa nenhuma”.
Preço de 39 para perder até 6Kg, e 89para perder mais de 15 Kg (mais 6.5 para correio).


Em breve exigirão que as "ervas" sejam comparticipado pelo SNS ?
Um conselho do jacaré ao gnu: goza a vida enquanto é tempo.


A ler: E nós?

 

"... e muitas meninas, e meninos da geração de todas aquellas partes..., que Afonso Dalboquerque trazia pera a Rainha D. Maria"

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"Abraço Lusófilo"
Flor de la Mar
Ao fundo, a cidade e, surpresa, uma réplica da nau de Afonso de Albuquerque (Flor de la Mar) no exacto local por onde Albuquerque tomou Malaca.
Em tamanho real, alberga um museu da história da cidade. Portulanos em grande escala, retratos de Albuquerque e quadros com a história da conquista e decadência da Malaca portuguesa.
Nesta nau Flor de la mar se perdeo o mais rico despojo, que nunca se vio, depois da Índia descoberta, até aquelle tempo, e afora isto muitas mulheres grandes lavrandeiras de bastidor, e muitas meninas, e meninos da geração de todas aquellas partes..., que Afonso Dalboquerque trazia pera a Rainha D. Maria. Perderam-se os castelos de madeira emparamentadas de brocado, que o rey de Malaca trazia em riba de seus alifantes, e andores mui ricos de sua pessoa, todos forradas de ouro, cousa muito pera ver, e muitas jóias de ouro, e pedraria que trazia pera mandar a El-Rey D. Manuel....
De maneira , que quanto vinha na nau ... não se salvou mais que a espada, e coroa de ouro, e o annel de rubi, que o rey de Sião mandava a EIRey D. Manuel; Afonso Dalboquerque ... sentia muito perder os liões que trazia, por se acharem em humas sepulturas antigas dos reys de Malaca, e trazia-os pera por na sua em Goa por
memória daquelle feito, e de todos os despojos, que se ali tomaram, estas duas peças sós tomou pera si, que por serem de ferro eram muito pera estimar...

Comentários de Afonso de Albuquerque . 1576

2.3.05

 

Malaca, o que resta do cais dos portugueses pescadores. Uma saudade de estacas


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BONG CHEGADU ao bairro português de Malaca
Posted by Hello

 
"Abraço lusófono" 7
No jalan portugis já não habitam “portugueses”. Os portugueses pretos, como aqui se lhes referem, (Em Portugal também há pretos?) mudaram-se para o Medan Portugis, o Bairro português de Malaca, a cerca de 2Km.
Quando os holandeses conquistaram Malaca, muita gente emigrou para Macau– o “papiá cristan” de Macau foi de Malaca. Esse “papiá” e a religião foram preservados durante cinco séculos..
Fomos rodeados de crianças da escola com quem falámos em português ... e que cantaram algumas canções infantis portuguesas. Os nomes eram ingleses ou malaios mas os apelidos eram os da antiga fidalguia – Sousa, Araújo, Sequeira, Dalbuquerque.
Todos nos responderam menos um.... os outros explicaram: É “mou.o” . Julgando ter ouvido mouco, não insisti. Não era mouco mas mouro, pelo que se não falava português em casa...
Ainda chamam mouros aos maometanos, tão longe da Mauritânia.
Uns pescadores que preparavam o barco para a pesca nocturna ensinaram que o pêxe que se pode preparar de várias maneiras – “queimado...”.
No restaurante San Pedro (ainda havia cartazes da FESTA de San Pedro), uma jovem ainda conseguiu dizer umas palavras em "papiá cristan"; a mãe fala-lhe em português mas o pai em inglês. Da primeira vez jantámos aqui:- “pêxe à Lisboa” (envolvido em colorau, embrulhado em folhas verdes). Também tinham “cangrejo”.
Noutro restaurante, à beira mar (Costa?) os cartazes davam as boas vindas em três línguas: SELAMAT, WELCOME e BONG (BOM) CHEGADU. Os donos falavam português.

 

Os portugueses já não moram cá.
Posted by Hello

 

respigos

Pobreza
Uma em cada seis crianças portuguesas vive na pobreza, a sexta pior taxa dos países da OCDE e a terceira pior da Europa. (Unicef).
Em contraste com esses dados preocupantes, a taxa de mortalidade infantil portuguesa – que depende muito das condições de vida – foi a sexta melhor da Europa (2003).


Despejem a água do banho com cuidado.
Corrijam os defeitos do SNS mas não borrem a pintura; já temos pombas demais.

Drogas

O consumo de substâncias psicotrópicas (tranquilizantes e indutores do sono) legais é maior em Portugal do que em qualquer outro país europeu à excepção da Irlanda. Organização Internacional de Controlo de Estupefacientes.
O consumo de medicamentos antidepressivos aumentou 45% nos últimos cinco anos: em 20004 foram compradas em Portugal quase seis milhões de embalagens. (Infarmed).

Uma embalagem de antidepressivos por português adulto !
Só a Irlanda nos bate em tranquilizantes e indutores do sono; a Irlanda, o exemplo de sucesso nesta "economia de consumo"...
O maior perigo da sociedade de consumo não é o de consumir demais mas o de sugerir que tudo se pode resolver com recurso a outras coisas – roupa, carro, bugiganga, medicamentos, ortodoxos ou alternativos, droga.


1.3.05

 
Ontem como hoje
No 715º aniversário, a Universidade distinguiu Luís Miguel Cintra que, nesse mesmo dia, interpretava o papel de Simão em “O Quinto Império” (Cinema Avenida).
A peça “El-Rei D. Sebastião” de José Régio foi “levada ao ecrã” por Manoel de Oliveira; o rei louco era psicanalisado (levado ao divã) por Luís Miguel Cintra, o Sapateiro Santo.
Compreende-se melhor o problema do infeliz rei se nos dermos conta que, por não ter pai nem mãe, foi criado por aquela avó (Catarina* - Glória de Matos); não seria de esperar grande resultado da intervenção dum sapateiro arvorado em analista alternativo.
Excelentes interpretações, magnífica fotografia, bom som, curiosas alegorias:- o quadriculado resplendor da majestade; a luz do sol vinda do Norte; a perna com que o bobo anda mais curta do que a com que rasteja.
A tela do cinema não é demasiado estreita para palco ?


* a mesma rainha que prometeu uma tença a Fernão Mendes Pinto (ver Reformas de fundo, ontem como hoje)

 

Duas ruas portuguesas de Singapura
Posted by Hello

 
"Abraço Lusófono" 6
O centro de Singapura é o largo Raffles, o seu fundador. Entra-se e sai-se por duas curtas ruas portuguesas (ou malacas): Almeida e Sousa.
Nesta Suíça no equador há bairros separados para hindus, para maometanos, para chineses e para malaios. Almoçámos no bairro chinês numa tasquinha chinesa. Éramos os únicos ocidentais, pelo que a família do dono nos veio ajudar a escolher; estávamos encantados e démo-lo a entender. Quando souberam que éramos portugueses, gritaram para uma mesa do fundo qualquer coisa como: –Ó malaca, estão aqui patrícios teus!

350 anos depois da perda de Malaca, uns chineses de Singapura ainda a associaram a Portugal.

 
respostas:
escola (sekolah) e carreta (kereta)
A uma nação que introduziu a palavra escola (sekolah) nas línguas bahassa (da Malásia e da Indonésia) há que perdoar muitos defeitos.

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