alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

13.3.05

 
A idolatria da droga 1

1. No seu primeiro discurso, o primeiro-ministro anunciou que os hipermercados poderão vender medicamentos não sujeitos a receita médica.
Uma inquietante perspectiva de uma política de saúde. A ANF tem razão: "é no mínimo surpreendente a prioridade atribuída à medida" quando há tantas "outras dificuldades como as listas de espera ou o acesso a consultas". A DECO espera que essa "lógica da concorrência" baixe os preços dos medicamentos.
2. Quando 1/4 do orçamento do SNS é gasto na comparticipação de medicamentos, compreende-se a preocupação de quem tem de gerir dinheiros públicos escassos. Mas, quando Portugal consome duas vezes mais medicamentos que outros países europeus, não se percebe a prioridade atribuída a paliativos (genéricos, venda livre) em vez de procurar atenuar a causa do problema – o seu consumo excessivo. Um voto de desconfiança nos médicos.
3. O mercado, que nos havia imposto as suas regras, impõe-nos também o seu paradigma – como tudo se pode adquirir no bazar, incluindo a saúde, tudo se resumirá a conseguir medicamentos ao mais baixo preço – um mero problema orçamental.
O marketing já conseguiu impor a crença que o fármaco é a arma nobre da Medicina. Os médicos tal como os utentes parecem idolatrar os medicamentos. “Metade dos portugueses não deixaria de interpelar o médico se ele terminasse a consulta sem lhe receitar um fármaco”. Villaverde Cabral. “A Saúde e a Doença em Portugal” 2001.
4. Uma deriva semelhante acontece com os jovens: agora drogam-se com medicamentos psicoactivos -- drogas “legais”.


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MARÇO 14, 2005
UMA HISTÓRIA TRISTE
O ano passado conheci uma menina. Vamos chamar-lhe Mariana.
Nessa altura a Mariana andava a dormir mal. Tinha pesadelos, insónias, de noite queria ir para a cama dos pais apesar dos seus 8 anos. Vim a saber que o casal a quem ela chamava pai e mãe, não eram os seus pais verdadeiros mas os únicos que ela conhecia e de que se lembrava. Ela e um irmão um ano mais novo, tinham sido abandonados há mais de 6 anos, tendo a Mariana passado os seus primeiros 3 anos de vida num “lar” do qual não conservava nenhuma recordação.
Quando tinha aproximadamente 3 anos de idade, estes “pais” tinham ficado sensibilizados com este abandono e, de acordo com a instituição trouxeram-na para a sua casa, onde lhe deram o mimo e carinho de uma filha. Tanto quanto a sua memória podia recuar, a Mariana só se lembrava da mãe a dar-lhe banho, de ir passear com os pais, de a aconchegarem com o beijinho da noite, das comidas de que mais gostava, de a irem levar e trazer á escola. Manteve contacto com o irmão, porque ele tinha sido recebido por outra família, mas sempre com o cuidado de se reuniram muitas vezes, faziam as festas com conjunto, davam passeios juntos e eles sabiam que eram irmãos apesar de “terem pais” diferentes.
Um dia a mãe apareceu.
Receberam uma comunicação da instituição para levar lá a Mariana. A nossa menina, para quem os pais eram os que sempre tinha conhecido, é confrontada com a presença de uma mulher, que ela sabia existir, mas que nunca tinha visto e por quem não sentiu a menor simpatia. A rejeição foi enorme e aí começaram os pesadelos e o mau dormir. Quando falei com ela, vi-a apavorada, nem queria imaginar que pudesse perder os seus pais! E o mesmo se passou com o irmão.
Entretanto o processo foi decorrendo, ela e o irmão foram várias vezes levados à força a encontros com a mãe, de onde voltavam perturbadíssimos e em pânico. As suas famílias viam-nos sofrer e sofriam com eles.
Há poucos dias recebi um telefonema da mãe da Mariana. Disse-me “Sucedeu o pior!” Contou-me, em lágrimas, que dois dias antes tinham ido ao tribunal, eles e o outro casal com o menino. A Mariana, que estava com gripe, tinha ficado de cama. Alguém deu a mão ao irmão da Mariana, saindo com ele por uma porta. Ouviram-no chorar, mas quando os pais quiseram acudir foi-lhes barrada a passagem. O juiz perguntou-lhes secamente e de um modo cortante “Sabem que esta menina tem mãe ?!” Ao tentarem, em pânico, gaguejar uma resposta ouviram: “Se não a apresentarem amanhã podem ser acusados de rapto”.
Portanto, no dia seguinte, aquela Mariana que conheci radiosa apesar de assustada na altura, a menina cuja memória mais remota era de uma vida com esta família, pais, avós, tios, primos, de uma penada viu a sua vida modificada radicalmente e perdeu completamente a sua família. Uma morte colectiva.
A violência deste acto, onde é dito que nem sequer se pode dar o contacto destas crianças porque é secreto, deixa-me pensar que também há histórias de Kafka para a infância.
Só imagino como vai dormir agora a Mariana, numa cama estranha, ao pé de pessoas estranhas, num ambiente estranho, a frequentar uma escola estranha, com colegas e professores estranhos. Neste momento nem estou a pensar no sofrimento dos adultos a fazerem este luto doloroso, penso apenas no terror desta menina e como é possível situações destas resolverem-se apenas pela frieza das leis. Julgava que não era possível. Foi.
Publicado por Emiéle às março 14, 2005 01:39 PM
http://afixe.weblog.com.pt/arquivo/2005/03/uma_historia_tr_1.html
 
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