Nada pior para uma boa causa que um mau argumento
Fluindo directamente do produtor ao consumidor sem manipulações intermediárias, o leite materno é um alimento vivo. Todos os seus constituintes, sintetizados de acordo com um código genético especificamente programado ao longo de milénios e individualmente adaptado durante toda a gestação, são oferecidos intactos ao seu consumidor natural. HC Mota Aleitamento materno. Rev Port Pediatria 1981
Um artigo recente justamente titulado “Amamentação continuada: o quenão se diz quando se “finge” que sabe” merece alguns ajustes. Escreveu a autora: "The Lancet Breastfeeding Series (2016, 2023) é clara:
a) Amamentar para além dos 2 anos reduz o risco de obesidade infantil em 26%.
b) Diminui o risco de diabetes tipo 2 em 35%.
c) Aumenta, em média,
o QI em
Vejamos o que se lê nas Key messages do Lancet
a) b) Growing evidence also suggests that breastfeeding (for longer periods) might protect against overweight and diabetes later in life.
O valor de 26% foi o de uma meta-análise entre outras com resultados diferentes. We deemed only three studies to be of high quality, which indicated a potentially important, but not statistically significant, reduction of 24% (95% CI ranging from a 60% reduction to a 47% increase).
c) Children
who are breastfed for longer periods have ….higher intelligence than do those
who are breastfed for shorter periods, or not breastfed. Ora a diferença (de
Sobretudo há que notar que todos estes dados são associações. Os autores do artigo do Lancet avisaram: “We obtained information about the associations between breastfeeding and outcomes …”. Ora não se pode extrapolar de um associação para uma relação de causa a efeito.
O
que desencadeou a controvérsia sobre a amamentação não foi tanto a burocracia
que iria sobrecarregar mais as mães e os médicos mas a anulação da licença
maternal de 2h durante o período de
trabalho aos 24M de idade quando apenas uma pequena minoria de crianças
ainda mama. Os escusados comentários da Ministra também ajudaram.
Se a intervenção da Ministra foi desastrada, igualmente o foram as atitudes críticas; surpreenderam-me as dos grupos de esquerda que emularam as dos activistas. Enquanto Portugal ardia criticaram a perda de um pequeno benefício de uma minoria privilegiada que mamou até aos 2A eclipsando a esmagadora maioria (95%?) dos que não, quando mais necessário teria sido. (O desmame precoce nem sempre é opção da mãe e nunca do filho).Tanto mais quanto aqueles privilegiados são muito provavelmente de famílias economicamente privilegiadas, que o poderão continuar a fazer. “... we’re seeing indications that in wealthy countries, it’s the poor who are the least likely to breastfeed,” said Shahida Azfar, UNICEF’s Deputy Executive Director a.i.”
Aos deuses do Olimpo serviam ambrosia mas leite materno ao filho de Deus |
Mas não é indispensável. Em vez de exaltar os seus benefícios conviria sim facilitar a sua prática tantas vezes em conflito com o trabalho das mães nesta sociedade que esquece que a maternidade é a fundamental actividade produtiva*. É um atributo materno, não uma obrigação; não há pior inibidor da produção láctea que a preocupação, o que tantos activistas bem intencionadas esquecem.
A amamentação, tal como a guerra e a política, é demasiado importante para ser confiada a crentes.
* P:S: ou melhor, criadora.
Etiquetas: amamentação, política
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