alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

18.2.21

 

Extratégia

 

Reunião de políticos e peritos no Infarmed.

O PR e o governo, com os partidos e outros VIP, ouvem os peritos.

Os peritos expõem os dados e cada um dá o seu parecer.

duas pessoas sérias com a mesma informação têm de concordar”.

Cavaco Silva

Havia pareceres muito diferentes e, sem consenso, houve que decidir naquelas condições.

«Se soubesses o que custa mandar, preferias toda a vida obedecer…».

Salazar

Decidiu-se sob o lema do mal menor, do menor constrangimento possível … e, obviamente, muitos ficaram insatisfeitos, ora por ser escasso ora por ser demasiado e fizeram-no saber; os media sublinharam as divergências e é assim que se forma a opinião “pública” …

Se os resultados forem bons os críticos calam-se, esperando que piorem e o povo esquece.

Se forem maus – são-no muitas vezes – os críticos recordarão que “eu bem tinha avisado.”

Novas medidas são tomadas, o que é considerada “incongruências, indecisão, mau fundamento, zig-zags…” pelos colunistas e outros feitores de opinião…. que tiveram sempre razão. E os media empolam.

Da reunião no Infarmed para organizar a luta contra a pandemia passou-se para um pandemónio num InferMed. 

Mas...

   Portugal não é caso único. Os holandeses também “se sentem traídos e ameaçados pelos senhores que governam, tanto mais que desde que a pandemia começou esses têm dado fraca conta do recado, ora hesitando nas decisões para depois se mostrarem autoritá­rios, ora impondo e contrapondo, prometendo que o lockdown quase tudo irá solucionar, para de seguida decidir que o bom caminho está no recolher obrigatório.”  Rentes de Carvalho

A Suécia e o UK também mudaram de estratégia.

Disse-se que se não ouviu “a ciência” mas " os cientistas".

Não é um processo idóneo de aconselhamento científico aquele em que, a seguir à audição individual de cientistas, pese a sua competência e capacidade em comunicar, o Presidente, o governo e os partidos políticos fazem a suas próprias sínteses, tomando-as como base legítima para tomarem as decisões que lhes competem. Mas é isto que tem acontecido.  https://www.dn.pt/opiniao/pandemia-hoje-com-o-coracao-apertado-e-a-razao-inquieta-13268306.html

Nos países em que a ciência está bem enraizada, os políticos ouvem os cientistas por mecanismos institucionais: existem conselhos colegiais para que a melhor resposta da ciência chegue a quem tem de decidir.

https://www.publico.pt/2021/02/04/opiniao/opiniao/portugal-cuidados-intensivos-1949125

Mas

a) O parecer de uma Comissão Científica Independente não evitou a acesa controvérsia entre cientistas reputados e que ainda persiste 20 anos depois.

Co-incineração e Iliteracia
J. Cavalheiro Público, 16 de Agosto de 2001

Depois da apresentação das conclusões da 1º relatório da Comissão Científica Independente (CCI), a estratégia seguida pelos detractores da co-incineração foi a de tentar desacreditar o trabalho da CCI.

Na falta de argumentos lançaram-se as mais vis suspeições quanto á idoneidade dos membros da CCI.

 

b) Nos países em que a estratégia do combate à pandemia foi da responsabilidade da Saúde – Suécia e UK – a evolução não foi exemplar.

Clama-se que o governo não promoveu um “conselho científico” de peritos que o aconselhem com o seu parecer… mas este não é o papel da DGS? 

E os que dela não fazem parte ou dela discordam nunca tiveram a iniciativa de o constituir… Preferiu cada um falar por si.

 Como é possível que “os cientistas de áreas da saúde, que os temos com méritos indiscutíveis” não tenham constituído um grupo de trabalho sem esperar pela chamado do governo (salvo a ENSP) donde pudessem emanar pareceres sensatos sólidos. Mas cada um falou para seu lado, quais estrelas mediáticas com bolas de cristal.

Já não tinha visto tanto desconcerto entre os “cientistas” desde a co-incineração em Souselas.

Apenas houve grupos constituídos “ad hoc” para manifestar a sua opinião sempre reactiva (“atrás do prejuízo”), em forma de carta aberta ao PR e ao PM, em vez de conselho oportuno (quando seria útil) e em privado.

Claro que esta partilha aberta de opiniões críticas de peritos escolhidos perante factos passados são pérolas para os media e os feitores de opinião (a pandemedia) e fermento para o descrédito dos decisores e descrença do sentimento público.

Por fim,

Quando António Costa se ligou pelo computador à reunião desta semana no Infarmed, viu-se no pior cenário político possível: a perspetiva de pelo menos mais um mês de confinamento pela frente, uma evidente demarcação dos partidos e uma vaga de críticas dos comentadores como ainda não se tinha visto (há até quem já lhe anuncie o fim político).

Costa pede consenso a cientistas e patrões

https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2520/html/primeiro-caderno/em-destaque/costa-pede-consenso-a-cientistas-e-patroesuando

A procura dos três consensos com os parceiros sociais, mas sobretudo com especialistas, seria uma tábua de salvação para o Governo, que tem visto acentuar-se o cerco, até científico, às decisões tomadas

A tensão entre Executivo e técnicos não é nova (o primeiro-ministro chegou a queixar-se da falta de consenso entre eles para definir medidas de restrição), mas acentuou-se após o alívio de Natal.

Nos bastidores, há membros do Governo que anotam razões de queixa: seja pelas falhas nas previsões, pois ninguém, nem Manuel Carmo Gomes, foi perentório a sugerir um fecho do país no Natal; seja porque não houve consenso entre os técnicos quando foi preciso definir se as escolas teriam de encerrar.


We made accurate guesses.

A epidemiologia é a área da Saúde pública mais próxima da meteorologia, da economia e da sociologia.

Aprendemos também que a epidemiologia é também um vício contagioso, um jogo de dados para o que basta uma calculadora.

Escolhem-se os dados, submetem-se a torturas estatísticas até que deles se extraiam resultados que “suportem” prévias convicções; um processo belief-based com chancela científica.

Cada um com sua opinião, seu parecer cientista, que “gritando espalharei por toda a parte” com a fé dos iniciados “se a tanto me ajudar, engenho e arte” contaminados pelo meme mediático. 
Não agem por dolo mas, pior, por crença; são como os cegos a descrever um elefante na alegoria indiana. É a pandemedia.

Depois de décadas a gozar com os economistas, os cientistas descobrem que, quando fazem previsões que envolvam a sociedade, mesmo que relativas a contágios de um vírus, disparatam à grande.

 E, como muitos economistas, depois de errarem continuam a defender o que defendiam antes. Luis Aguiar-Conraria

https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2520/html/primeiro-caderno/opiniao/farto-de-negacionistas

A fadiga pandémica turva os colunistas; mesmo os que muito aprecio estão desesperados e exigem demissão do governo.

https://www.publico.pt/2021/02/05/politica/noticia/ideia-governo-salvacao-nacional-nao-convence-iniciativa-presidencial-menos-1949273

Estamos a enlouquecer, não será de um dia para o outro. Será aquilo que os pós-modernos chamam “um processo”. Uma lenta divagação contraída pela fadiga e o tédio, confessa Clara Ferreira Alves, chocando ovos de chegalinhas revoltados. A propósito desta tragédia pandémica evoca geniais lucubrações de T. Mann em circunstâncias semelhantes e termina, cassandro que no fim deste mundo já não haverá génios como aquele: “E não haverá, na era digital, um grande romance sobre a loucura dos homens entregues aos factos.”

https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2520/html/revista-e/pluma-caprichosa/a-loucura-devagar

…. de xaile negro e acordes de fado.

Desaparecidos Bloom, Steiner, Strauss ou Scruton, onde estão os grandes pensadores, os grandes intelectuais do século XXI? E em Portugal, onde encontramos cabeças que nos orientem?  Adenda Fátima Bonifácio. https://www.publico.pt/2021/02/11/opiniao/opiniao/portugal-salvase-europa-salvar-eduardo-lourenco-1949567

Outra, extrapola de uma consoada onde não houve contágios e da experiência pessoal – uma amostra de n=1. (??)

Pior, em Inglaterra, acusam as autoridades de crimes contra a humanidade.

Social murder, they wrote — elected, unaccountable, and unrepentant…

BMJ 2021; 372 doi: https://doi.org/10.1136/bmj.n314

…policies that will save lives are deliberately avoided, delayed, or mishandled.

public health malpractice “to account for the administration of public health during pandemics.”In that case, public health malpractice might become a crime against humanity, for leaders who intentionally unleash an infectious disease on their citizens or foreigners. Others have argued similarly for environmental crimes.

If not murder or a crime against humanity, are we seeing involuntary manslaughter, misconduct in public office, or criminal negligence? Laws on political misconduct or negligence.

https://www.bmj.com/content/372/bmj.n314?ijkey=9a2bd23c7626e20afd5818f8354d78109cfa4f87&keytype2=tf_ipsecsha

Falar de culpa perante uma pandemia é insensato. Falar de culpa institucional misturando governos que a ignoraram com os que a enfrentaram é absurdo.

Atingiu todos os países europeus, uns mais do que outros; uns antes dos outros mas o padrão não diferiu muito.


Entretanto em Portugal - um dos países milagre da primeira vaga e o último a ser atingido pela terceira - a curva não se achata, despenha-se.

 

Dia D

Tudo estava preparado para o desembarque na Normandia. Era Junho, bom tempo que uma tempestade inesperada perturbou.

Os nazis sabiam que iria haver um desembarque mas não sabiam quando nem onde. Os aliados sabiam o onde e o quando... mas o mau tempo tudo perturbou e o quando não se podia adiar muito lua cheia e maré baixa, homens e material a postos…

Os meteorologistas dos dois lados eram competentes e estavam de acordo --- mau tempo que duraria dias mas os decisores tomaram resoluções diferentes.

Rommel, que organizara e comandava a defesa da costa francesa ocupada – a muralha do Atlântico - entendeu não ser possível o ataque inimigo naquelas condições e foi a Berlim festejar os anos da mulher.

Eisenhower (Ike), com idêntica informação, adiou o desembarque por um dia apenas esperando uma melhoria que se não verificava. 

“duas pessoas sérias com a mesma informação têm de concordar”.

Cavaco Silva

 

Até que o meteorologista chefe dos aliados previu uma aberta de horas e Ike mandou avançar.

«Se soubesses o que custa mandar, preferias toda a vida obedecer…».

Salazar

Os aliados venceram; Ike foi louvado.

Havia duas equipas de meteorologia nas forças aliadas – inglesa e americana – ambas competentes mas os pareceres eram muito diferentes; o chefe era inglês e desempatou – estava em risco o sucesso da operação.

“duas pessoas sérias com a mesma informação têm de concordar”.

Cavaco Silva

Se a invasão se tivesse dado a 5 de Julho, como insistiram os meteorologistas americanos, a invasão teria sido um desastre.

Acontece que Churchill se opunha com vigor a toda aquela estratégia – desembarcar numa costa, a mais bem protegida do mundo, preparada havia meses pela máquina de guerra prussiana dirigida por Rommel.

Era uma insensatez; tinha razão e a experiência funesta de Galípoli na I G. Guerra:

Galípoli é uma península nos Dardanelos que franceses, ingleses, neozelandeses e australianos tentaram tomar para atingir o poder turco-otomano em 1915. Um dos estrategas dessa operação fora  Churchill.

A resistência de turcos e alemães foi bem-sucedida e resultou num dos maiores massacres da I G. Guerra.

Até ao último dia tentou persuadir Ike a desistir… e a atacar pelo Sul, pelo “ventre mole da Europa”. Não conseguiu, Ike manteve a sua estratégia - era o Cmdt- chefe dos aliados e tinha o apoio de Roosevelt.

Aproveitou a única oportunidade e teve sorte…. Porque a tentou e tinha tudo bem preparado.

Não tendo convencido Ike, Churchill, o PM inglês que derrotara os nazis, foi pessoalmente encorajar as tropas à partida.

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