Sociogeologia atrevida
Natal de 2018 -- 168 pessoas mortas num tsunami.
O tsunami foi desencadeado por um deslizamento submarino causado pela erupção
do vulcão Anak Krakatoa; o desabamento da encosta de um vulcão activo
pode criar ondas de tsunami muito potentes.
O vulcão Anak Krakatoa é o que resta da erupção do vulcão Krakatoa que, em
1883, destruiu a ilha onde se erguia e causou mais de 36 mil mortos.
É curioso que tanta gente analise os conflitos sociais (Trump,
Brexit, Bolsonaro, gilet jaunes e as greves dos enfermeiros)
como um geólogo descreve a história natural dos vulcões ou a deriva das placas
tectónicas.
“Mais de 80% da riqueza gerada no mundo em 2017
foi parar às mãos de 1% da população. O crescimento económico não produz
redistribuição com o mínimo de equidade. O capitalismo nas suas formas mais
perversas dá mostras de desagregação, pondo em causa a própria democracia. Os
baixos salários e a precariedade são o novo normal. As pessoas estão
enraivecidas, cansadas, pela exclusão social e geográfica, lançados para as
periferias. E essa permanente marginalização, conjugada com a ausência de
forças políticas e sociais que dêem voz a essas camadas, criou o ambiente para
uma explosão descontrolada, num movimento social onde, naturalmente, cabem
imensas sensibilidades.
... Gritos de escassez. De equidade e justiça social. Pelo
ordenado que não basta ao fim do mês. Pela desagregação do estado social. Pela
ausência de possibilidades de ascensão social. Por um sistema que as ignora em
todas as relações da sua vida.
Estavam à espera de quê? Que permanecessem calados e
sentados em frente ao computador a comunicar entre si, cumprindo o papel de
explorados enquanto apenas uma elite enriquece?
… cidadãos reduzidos à função de consumidores, isso sim,
foi desencorajando a reflexão crítica…
Querem
saber como começa? Começa de repente. Começa com o fim. O fim da paciência, da
sujeição e do conformismo. O fim do medo. Começa com uma cadeia de frases,
notícias, umas falsas e outras verdadeiras, motes, montagens, anedotas, vídeos,
denúncias. Como um rastilho de pólvora, corre aceso pela multidão das redes
sociais e dos e-mails, do WhatsApp e das mensagens, das mil maneiras de fazer
circular a informação que não é mediada ou filtrada pelos agentes clássicos.
Que não é tratada. Como água suja, a informação escorre em obediência à lei da
gravidade. A dúvida torna-se uma certeza e a certeza degenera em violência. Uma
democracia demora séculos a ser construída e desmorona-se em meia dúzia de
dias. Clara
F. Alves
Natural disasters?
* A descrição evoca uma aula de geologia: deriva e colisão de
placas tectónicas, subducção, erupções, terramotos, tsunamis…
forças, tensões, vectores, resultantes, necessidade… https://www.youtube.com/watch?v=t1wdrzzQOqY (0,27- 0,37m)
Aqueles pobres diabos … “cidadãos reduzidos à função
de consumidores, … foi desencorajando a reflexão crítica…”… inimputabilizados.
Ou com a empatia ígnea com que o filho dum súbdito protegido pelos
senhores de Meaux observa uma Jacquerie - uma rocha compassiva
que tivesse saltado de uma das placas tectónicas em colisão.
« j'ai vu apparaitre
les premières images des gilets jaunes. Je voyais sur les photos qui
accompagnaient les articles des corps qui n'apparaissent presque jamais dans
l'espace public et médiatique, des corps souffrants, ravagés par le travail,
par la fatigue, par la faim, par l'humiliation permanente des dominants à
l’égard des dominés, par l'exclusion sociale et géographique, je voyais des
corps fatigués, des mains fatiguées, des dos broyés, des regards épuisés. »
Será assim? em França? Victor Hugo em
2018?
… quando hoje se fala de pobreza nunca
se sabe bem do que se está a falar: da pobreza em termos absolutos ou da
distância cada vez maior entre os que se situam nos pólos opostos quanto aos
rendimentos que auferem?
Uma sociedade rica, como é a
francesa, origina uma nova pobreza, que tem a ver com carros e combustíveis. António
Guerreiro
nem insensatas expectativas de um crescimento
contínuo que a globalização arruinou?
São os que ficam para trás, mesmo que
vivam razoavelmente, que têm medo do futuro que já tiveram por certo e que hoje
têm por incerto. Teresa
de Sousa
Frustração das exageradas expectativas em Macron?
Macron é objecto de “um ódio inédito,
maciço, mais violento do que o que perseguiu Sarkozy e Hollande”, anota
o Libération.
“O ódio é um amor decepcionado”
pelo Presidente jupiteriano, diz uma personagem do Eliseu.
* Não há aqui responsabilidades
individuais de cidadãos dos mais informados do mundo? “cidadãos reduzidos à função de consumidores, …. foi
desencorajando a reflexão crítica…”.?
Reduzidos ou que se deixaram reduzir? Desencorajados ou
que abandonaram?
Era tão tentadora a publicidade… e os
direitos sociais, conquistas irreversíveis do Estado Social … Eternas
enquanto duram, como o amor...
"Estamos a ver revoltas, mas não dos que
mais sofrem. É dos que podem". Silva Lopes, entrevista ao
Negócios em 2013, quando
a troika estava cá estava.
A França é dos países com mais alto nível de
vida do mundo e não vive em ditadura; nem Portugal.
* Equilíbrio? ... pode estar...?
* Atitude que tende a tolerar, complacente,
ser tomado refém das reivindicações salariais das corporações dos escalões mais
elevados da função pública. Que já ameaçam ir mais longe; a Protecção
Civil já alertou para o tsunami?
Não haverá nada a fazer senão fugir?