1. Depois dos fogos, todos usam e abusam das conclusões das Comissões -Técnica
Independente (CTI) e Xavier Viegas - sublinhando apenas o que lhes convém, sem a necessária crítica à solidez destas.
A opinião de peritos é indispensável mas não deixa de ser a mais fraca prova
disponível.
a)
A PJ e os técnicos das Comissões divergem na causa dos fogos; Xavier Viegas
considera absurdas “Algumas propostas
dos técnicos”.
Esta
discordância não põe em causa a competência dos peritos mas sim a dificuldade
em interpretar dados excepcionais que é impossível replicar.
2.
Os peritos baseiam as suas opiniões em experiências anteriores; aí são
competentes. No caso de circunstâncias excepcionais, como estas, têm que
extrapolar com todos os riscos que tal importa.
*
Há
que ter isso em conta ao avaliar retrospectivamente as decisões tomadas a
quente por quem nunca poderia ter tido experiências semelhantes. Os relatores
tiveram quase sempre o cuidado em não afirmar o que teria acontecido se as decisões
tivessem sido diferentes. Daí as expressões “é nosso parecer” “Estamos
convencidos” “poderemos reconhecer que as decisões tomadas poderiam ter sido
outras”… “podiam ter sido tomadas decisões que não foram tomadas, mas não
é possível ser taxativo ao ponto de dizer que teriam evitado as mortes.”
Presidente da CTI.
Embora nem sempre.
“as consequências catastróficas do incêndio não são
alheias às opções táticas e estratégicas que foram tomadas. CTI
É lícito concluir, portanto, que houve subavaliação
e excesso de zelo na análise da fase inicial do incêndio de Pedrógão
Grande, que contribuíram para que o ataque inicial não conseguisse debelar o
avanço do fogo. CTI
Esta ausência de alerta precoce, por não ter sido feita a
leitura do incêndio às 18h00 (e mesmo antes) não permitiu impedir a
maioria das fatalidades. CTI
3.
Ninguém poderá saber, sequer estimar, que consequências teria havido se se
tivessem tomado outras decisões.
As comissões de
peritos avaliam e julgam pela actuação havida ou não havida e não pelos
resultados finais que ninguém sabe quais seriam. Os indicadores indirectos
(instrumentais) são úteis em circunstâncias normais mas falíveis em
circunstâncias excepcionais – e insuficientes quando se pretende atribuir
culpas.
Seria plausível
que os resultados finais tivessem sido muito diferentes se a estratégia tivesse
sido outra?
a) Teria
sido seguida “a evacuação atempada das aldeias
ameaçadas, ou medidas para que as pessoas não saíssem de casa”, p. ex?
**
b) Os
resultados teriam sido muito diferentes? Quanto muito? Com que grau de
probabilidade?
Nenhuma
comissão de peritos poderá responder com segurança.
Provavelmente não teriam morrido algumas destas vítimas; não teriam morrido outras?
***
Há
que ter estes factos e pareceres em conta e evitar julgar a quente; e usar os
mesmos critérios ao avaliar as nossas opiniões.
Com
os resultados da autópsia todos teríamos
sido excelentes médicos.
Referências:
*
a) O incêndio de Pedrógão
Grande, é muito provavelmente aquele que, em Portugal, libertou mais energia e
o fez mais rapidamente exibindo fenómenos extremos de vorticidade e de projeção
de material incandescente a curta e a longa distância. CTI
b)
Nas situações de risco
máximo – em que estavam 107 concelhos, sobretudo do interior norte e centro –
estão criadas todas as condições para que um incêndio se torne
incontrolável. (Foram 520 nesse dia…)
Perito do IPMA. Expresso 21-10-2017
**
Apenas a violência do fogo, o brutal ruído gerado pelo vento
e as perigosas e assassinas projeções fizeram com que as pessoas optassem por
sair de suas casas e procurar abrigo nas sedes de concelho. Note-se que 70% das
vítimas mortais estava em fuga a partir das respetivas casas, que acabariam por
não arder. Cerca de três quartos das vítimas faleceram no interior das
respetivas viaturas ou na proximidade delas. CTI
8.4.2 A evacuação das populações
Apesar de terem existido iniciativas no sentido de evacuar
algumas localidades, o rápido desenvolvimento do incêndio não permitiu uma
antecipação do que iria acontecer de modo a conseguir salvar as vidas dos que
pereceram no dia 17 de junho. CTI
***
Como refere o Relatório CTI,
admite-se que, dadas as
características particulares do incêndio, o seu impacto nas pessoas a ele
expostas talvez não pudesse ter sido
mitigado, mesmo admitindo que aquelas medidas de prevenção estrutural tivessem
sido cabalmente cumpridas.