1.
“Fenómenos extremos de vorticidade”
O
relatório confirma o descontrolo, o amadorismo, o caos de comando, a
barata-tontice, a incompetência naquele dia; subentende que, se a ação tivesse sido lesta entre as três e as
cinco da tarde, vidas teriam sido salvas.
Viver
e deixar morrer. Santos
Guerreiro. Director do Expresso
2. Entrevista com João Guerreiro. Presidente da
Comissão Técnica Independente
R. No Mediterrâneo, o
fogo é inerente à floresta e não vai deixar de existir, mas para o controlo e a gestão do
fogo há ciência e é isso que não está a ser devidamente utilizado.
P. Ao ponto de evitar
mortes?
R. No período entre as
15h e as 17h podiam ter sido tomadas decisões que não foram tomadas, mas não é possível ser taxativo ao ponto de
dizer que teriam evitado as mortes.
P. Este é um caso de
tribunais?
R. Não tenho a
certeza.
3. Do
Relatório
a) O incêndio de Pedrógão Grande, é muito
provavelmente aquele que, em Portugal, libertou mais energia e o fez mais
rapidamente (com um máximo de 4459
ha ardidos numa só hora), exibindo fenómenos extremos de
vorticidade e de projeção de material incandescente a curta e a longa
distância.
b) O incêndio de Pedrógão Grande é um caso especial
de superação do potencial previsível de propagação ao passar por duas
alterações de comportamento, a primeira das quais possível (alteração de
direção e evolução mais rápida) e previsível, havendo acompanhamento
meteorológico; e a segunda muito improvável (colapso da coluna de convecção e
downburst), tal como demonstrado pelas simulações de comportamento do fogo. O
facto de tal ter sucedido antes do início do verão e à hora do dia em que
normalmente diminui a severidade das condições meteorológicas presumivelmente
afetou a perceção de risco por parte dos operacionais. A segunda modificação do comportamento do fogo não poderia ser prevista
por nenhum serviço de emergências em Portugal ou na Europa.
c) O incêndio de Pedrógão Grande é, portanto, um
exemplo e um aviso de como os sistemas atuais de combate a incêndios não estão
preparados para enfrentar um novo problema com raiz nas alterações climáticas.
Este incêndio tornou esse problema evidente, pelo que urge entender o fenómeno
e adaptar as estruturas de proteção civil para adquirir capacidade de
antecipação e planeamento face ao mesmo, substituindo a lógica de “mais meios”
pela lógica do conhecimento e da próatividade.
d) Como refere o Relatório, admite-se que, dadas as
características particulares do incêndio, o seu impacto nas pessoas a ele
expostas talvez não pudesse ter sido mitigado, mesmo admitindo que aquelas
medidas de prevenção estrutural tivessem sido cabalmente cumpridas.
e) a cabeça do incêndio deslocou-se
à velocidade média de 3,8
km/h entre as 15h00 e as 17h00
f) 8.4.2 A evacuação das populações
Apesar de terem existido iniciativas no sentido de evacuar
algumas localidades, o rápido desenvolvimento do incêndio não permitiu uma
antecipação do que iria acontecer de modo a conseguir salvar as vidas dos que
pereceram no dia 17 de junho.
g) 8.4.3 O que poderia ter sido diferente
Tendo em conta que as mortes na EN 236-1 ocorreram na
sequência da fuga a partir das aldeias localizadas a este desta via, poderia
ter-se colocado a hipótese de proceder ao corte das estradas de acesso à EN
236-1. O desfecho de tal atuação teria sido provavelmente ainda pior pois teria
eventualmente implicado a ocorrência de mais vítimas, incluindo os próprios
agentes da autoridade.
h) Excluída esta hipótese, duas medidas poderiam no
entanto ter sido tomadas, ambas dependentes de informação que a GNR não
dispunha. Poderia ter sido ordenada a evacuação atempada das aldeias ameaçadas,
ou poderiam ter sido tomadas medidas para que as pessoas não saíssem de casa.
Qualquer das decisões deveria ter resultado de uma análise adequada da
situação, de modo a prever o comportamento potencial do incêndio iniciado há
mais de cinco horas. Esta ausência de alerta precoce, por não ter sido feita a
leitura do incêndio às 18h00 (e mesmo antes) não permitiu impedir a maioria das
fatalidades.
(o título é "poderia" ter sido diferente)
i) Tal como é referido noutras partes do presente relatório,
este trabalho de antecipação deveria ter sido feito no seio do comando e
planeamento desta operação de socorro e deveria ter resultado na mobilização
dos meios necessários, incluindo a GNR, para evitar que se tivesse verificado
uma fuga para a morte, tal como veio a acontecer. Por sua vez, tal trabalho de
antecipação só poderia ter sido feito com o apoio de analistas de incêndios e
de meteorologistas especializados, que permitisse uma adequada avaliação da
situação em tempo real. A verdade é que nenhuma destas competências existe na
ANPC, apesar da enorme gravidade e frequência dos incêndios em Portugal.
Nota: Isto não é contraditório com o que se afirma em b) e c) ?
* Seria de esperar maior contenção ao analisar uma tragédia como esta; procurar causas e não culpa e sobretudo evitar "prognósticos no fim do jogo".