alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

13.3.11

 
Outras maneiras de resolver problemas

Na semana das cinzas em que
Protesto Geração à Rasca juntou entre 160 e 280 mil pessoas só em Lisboa e Porto
Professores dividem-se entre manifestação dos sindicatos e da “Geração à Rasca”
A AAC convoca uma Assembleia Magna para boicote às aulas no dia 24
Empresas de transporte de mercadorias vão paralisar
É útil ler esta Saudade da Minha Escola, que J. Gonçalves publicou no Diário de Coimbra de hoje. Será útil para todos – geração Deolinda, à rasca, rasca, pais e avós, professores, Fenprof, estudantes, camionistas, ANTRAN et al.
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Comovi­-me no dia 7 de Outubro, o dia mágico em que, sequestrado por um bando de gandulos, graúdos todos, e eu, menino e moço nos partimos deste Pinhal, em de­manda daquele frio casarão em que me despejaram, desorienta­do com a barulheira de tantos, apenas silenciados com a entrada daquele Senhor, alto, imponen­te ... Era o Senhor Professor!!!
Era o Senhor Professor, com quem iríamos "viver" durante quatro longos anos, dias bons, dias menos bons, alguns de ale­gria outros nem tanto, mas sem­pre alerta para o que desse e vies­se. Porque naquele tempo ... aos sábados varríamos a sala e tratava-se das sanitas ­- agora têm as auxiliares. E os meninos, muitos, levavam um pedaço de broa e uma sardinha frita ou uma patanisca de baca­lhau, que às aldeias não chegava o padeiro. Agora têm cantina de borla, e algumas têm um barzi­nho onde se vendem caramelos e chupa-chupas. Mas bem, nós vivíamos bem assim, foram qua­tro anos que marcaram, o Sr. Pro­fessor João até tinha uma bonita letra, acho que lhe apanhei o jeito, e ainda gosto do alinhavo.
E não vale a pena contar mais, pois já está tudo dito, e eu só vou contar duas estórias, no recreio ninguém saia à rua, e lá dentro inventavam-se umas brincadei­ras que nem sempre davam cer­to. Eram corridas à volta da esco­la, metas à porta principal que nunca se abria. Ora o Tino Carru­la, que era o levezinho lá da 4ª caiu-me uma vez em sorte. E cá o rapaz, já com o sanguito na guel­ra, farto de tantos empates, esti­cou, esticou, passou a meta da porta e o choque foi dar-se já na esquina e pumba, um atleta para cada lado. O Tino, mais menina, desmaiou mesmo e levaram-no para o hospital ali em frente. E depois de visto pelas freirinhas, que também eram as enfermei­ras, lá o despacharam sem qual­quer mazela. Menos sorte teve o vencedor. Armado em valente mas cheio de medo do hospital, pôs-se a andar para casa. De pou­co lhe valeu, pois passados dias o nariz continuava a doer-lhe e ele lá foi. Por sorte não estava o Sr. Dr. e a freirinha velha apalpou com muito jeitinho, e disse que era a cana do nariz partida, rachada, mas nada havia a fazer, soldava assim mesmo. Mas não soldou, ficou toda a vida a dançar e é por isso que eu agora tenho uma rinite alérgica. Incurável. Graças ao Tino.
Mas a outra foi mais triste ain­da. Imaginem um pobre cá do Pinhal a fazer exame da 4ª Classe, não podia ir de qualquer manei­ra. Fatinho novo feito no Vidinha da Arrifana, coisa asseada. Gra­vatita a condizer. E sapato novo; claro. E mal nasceu o sol lá foi toda a rapaziada para a festa. E todos a mostrar as suas prendas.
Muitos com relógio novo, mas eu tinha uma caneta, uma caneta de tinta permanente, não precisava de molhar no tinteiro, tinha a tin­ta lá dentro. Uma maravilha! E eu tirei a caneta do bolso e fui mos­trando aquele milagre, tinha a tinta lá dentro!... Só que a maravi­lha, sem aviso, esguichou a sua tinta e deixou-me as mãos todas azuis. Uma aflição, onde lavar as mãos? O tanquito no hospital. Porque o hospital tinha um lindo jardim e um tanquinho redondo, de pedra, com um degrau no meio para pôr os pés. Eu lá fui ao tanquinho, desci para o degrau, lavei as mãos e preparei-me para sair. Só que esqueci que atrás de mim estava a parede de pedra. E zás, rabo a bater na pedra e um mergulho de cabeça. Todo encharcado, até os sapatos novos!... E agora?
O meu exame?!... Em pânico, desatei a correr rua abaixo, Fonte do Outeiro, carreiras dos quin­tais, a Faia, a ladeira do cemitério, e o resto sempre a correr para aí dois quilómetros. Minha mãe a chorar, despir o fatinho novo e enxugar a criança, outra vez o fato velho, sapatos velhos, e ele novamente na estrada, agora tudo a subir, mas os pés não pesavam e em três tempos esta­va ele a investir a sala, esbafori­do, ante o pasmo geral, mudo e quedo mas a reclamar que o exame tinha de ser feito. O Prof. João a conferenciar com uns senhores de fora, as provas iam a meio, mas sim senhor. Lá fui para uma carteira ao fundo com uma senhora a "ditar-me” o ditado e os problemas e eu a acabar a cópia e a redacção, os outros a entregarem e eu a acabar... Tudo de afogadilho por causa de uma maldita caneta nova. Uma espera interminável e lá veio a pauta, com o meu nome perdido no meio. À cabeça três distintos, o Cruz, o Lalo e o Luís. E eu perdido lá no meio. Eu o peneiroso, com a mania que era dos bons, e agora banido lá para o meio dos atrasados. Pior do que a dor na cana rachada do nariz, a dor indelével duma Cer­tidão da Quarta Classe a marcar o início duma carreira que haveria de ser brilhante, e afinal começava já com tamanha nódoa! Aprovado. Simplesmente Aprovado. Uma vergonha pa­ra a Família!!!...!
J. Gonçalves. Condeixa.
Diário de Coimbra, 13-3-2011

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