Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt
Outras maneiras de resolver problemasNa semana das cinzas em que
Protesto Geração à Rasca juntou entre 160 e 280 mil pessoas só em Lisboa e PortoProfessores dividem-se entre manifestação dos sindicatos e da “Geração à Rasca”
A AAC convoca uma Assembleia Magna para boicote às aulas no dia 24
Empresas de transporte de mercadorias vão paralisar É útil ler esta Saudade da Minha Escola, que J. Gonçalves publicou no Diário de Coimbra de hoje. Será útil para todos – geração Deolinda, à rasca, rasca, pais e avós, professores, Fenprof, estudantes, camionistas, ANTRAN et al.
. Comovi-me no dia 7 de Outubro, o dia mágico em que, sequestrado por um bando de gandulos, graúdos todos, e eu, menino e moço nos partimos deste Pinhal, em demanda daquele frio casarão em que me despejaram, desorientado com a barulheira de tantos, apenas silenciados com a entrada daquele Senhor, alto, imponente ... Era o Senhor Professor!!!
Era o Senhor Professor, com quem iríamos "viver" durante quatro longos anos, dias bons, dias menos bons, alguns de alegria outros nem tanto, mas sempre alerta para o que desse e viesse. Porque naquele tempo ... aos sábados varríamos a sala e tratava-se das sanitas - agora têm as auxiliares. E os meninos, muitos, levavam um pedaço de broa e uma sardinha frita ou uma patanisca de bacalhau, que às aldeias não chegava o padeiro. Agora têm cantina de borla, e algumas têm um barzinho onde se vendem caramelos e chupa-chupas. Mas bem, nós vivíamos bem assim, foram quatro anos que marcaram, o Sr. Professor João até tinha uma bonita letra, acho que lhe apanhei o jeito, e ainda gosto do alinhavo.
E não vale a pena contar mais, pois já está tudo dito, e eu só vou contar duas estórias, no recreio ninguém saia à rua, e lá dentro inventavam-se umas brincadeiras que nem sempre davam certo. Eram corridas à volta da escola, metas à porta principal que nunca se abria. Ora o Tino Carrula, que era o levezinho lá da 4ª caiu-me uma vez em sorte. E cá o rapaz, já com o sanguito na guelra, farto de tantos empates, esticou, esticou, passou a meta da porta e o choque foi dar-se já na esquina e pumba, um atleta para cada lado. O Tino, mais menina, desmaiou mesmo e levaram-no para o hospital ali em frente. E depois de visto pelas freirinhas, que também eram as enfermeiras, lá o despacharam sem qualquer mazela. Menos sorte teve o vencedor. Armado em valente mas cheio de medo do hospital, pôs-se a andar para casa. De pouco lhe valeu, pois passados dias o nariz continuava a doer-lhe e ele lá foi. Por sorte não estava o Sr. Dr. e a freirinha velha apalpou com muito jeitinho, e disse que era a cana do nariz partida, rachada, mas nada havia a fazer, soldava assim mesmo. Mas não soldou, ficou toda a vida a dançar e é por isso que eu agora tenho uma rinite alérgica. Incurável. Graças ao Tino.
Mas a outra foi mais triste ainda. Imaginem um pobre cá do Pinhal a fazer exame da 4ª Classe, não podia ir de qualquer maneira. Fatinho novo feito no Vidinha da Arrifana, coisa asseada. Gravatita a condizer. E sapato novo; claro. E mal nasceu o sol lá foi toda a rapaziada para a festa. E todos a mostrar as suas prendas.
Muitos com relógio novo, mas eu tinha uma caneta, uma caneta de tinta permanente, não precisava de molhar no tinteiro, tinha a tinta lá dentro. Uma maravilha! E eu tirei a caneta do bolso e fui mostrando aquele milagre, tinha a tinta lá dentro!... Só que a maravilha, sem aviso, esguichou a sua tinta e deixou-me as mãos todas azuis. Uma aflição, onde lavar as mãos? O tanquito no hospital. Porque o hospital tinha um lindo jardim e um tanquinho redondo, de pedra, com um degrau no meio para pôr os pés. Eu lá fui ao tanquinho, desci para o degrau, lavei as mãos e preparei-me para sair. Só que esqueci que atrás de mim estava a parede de pedra. E zás, rabo a bater na pedra e um mergulho de cabeça. Todo encharcado, até os sapatos novos!... E agora?
O meu exame?!... Em pânico, desatei a correr rua abaixo, Fonte do Outeiro, carreiras dos quintais, a Faia, a ladeira do cemitério, e o resto sempre a correr para aí dois quilómetros. Minha mãe a chorar, despir o fatinho novo e enxugar a criança, outra vez o fato velho, sapatos velhos, e ele novamente na estrada, agora tudo a subir, mas os pés não pesavam e em três tempos estava ele a investir a sala, esbaforido, ante o pasmo geral, mudo e quedo mas a reclamar que o exame tinha de ser feito. O Prof. João a conferenciar com uns senhores de fora, as provas iam a meio, mas sim senhor. Lá fui para uma carteira ao fundo com uma senhora a "ditar-me” o ditado e os problemas e eu a acabar a cópia e a redacção, os outros a entregarem e eu a acabar... Tudo de afogadilho por causa de uma maldita caneta nova. Uma espera interminável e lá veio a pauta, com o meu nome perdido no meio. À cabeça três distintos, o Cruz, o Lalo e o Luís. E eu perdido lá no meio. Eu o peneiroso, com a mania que era dos bons, e agora banido lá para o meio dos atrasados. Pior do que a dor na cana rachada do nariz, a dor indelével duma Certidão da Quarta Classe a marcar o início duma carreira que haveria de ser brilhante, e afinal começava já com tamanha nódoa! Aprovado. Simplesmente Aprovado. Uma vergonha para a Família!!!...!
J. Gonçalves. Condeixa.
Diário de Coimbra, 13-3-2011Etiquetas: escola civismo