alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

29.4.10

 
O mofo de Darwin 1

Fico feliz quando vejo questionar um dogma; é assim que a ciência evolui – a síntese que supera a tese sem a menosprezar. Darwin que aguardou tantos anos para publicar a Origem das Espécies haveria de ficar satisfeito por alguém querer trepar aos seus ombros, na festa dos 150 anos.
Por outro lado, todos estes factos e teorias empanam a vaidade humana e sobretudo a dos criacionistas; já não bastava Darwin demonstrar que homem e macaco tinham tido um antepassado comum...
O que isto teria chocado quem julgava ser um arqui-neto de Adão e Eva, que Deus havia criada “à sua imagem e semelhança”.
É certo que desde a expulsão do Paraíso muitos milénios tinham passado e, com eles, a estratificação dos primos humanos

em classes ou em castas quase tão rigidamente separadas quanto as espécies. Não seriam muito raros os cruzamento de
classes diferentes; malvisto pelo status quo (que agia como se cresse que, na realidade, Eva e Adão teriam tido irmãos mas
tolerado por alguns lúcidos como um mal menor, necessário para atenuar o risco inerente à consanguinidade. “Por vezes é
preciso estrumar o sangue” dizia um Príncipe de Salina minhoto.

A evolução de Lamark ainda tinha algo de tolerável; afinal sempre legitimava a herança da honra dos antepassados. A girafa via compensado o esforço de esticar o pescoço para atingir os ramitos tenros mais altos ao ver crescer o pescocito dos filhotes - o legado que deixava à descendência.
Creio que as classes dominantes do ancien regime não teriam dificuldade em aceitar o lamarkismo social, a “herança dos caracteres adquiridos” à semelhança dos títulos de propriedade privada.
Hipótese que Darwin veio substituir por uma outra muito menos distinta. Afinal a evolução nada tinha de nobre ou de láureo; as mutações eram meros acidentes - de que sobreviveriam apenas os mais aptos na selvagem luta pela vida.
Uma decepção ontológica.
De recordar que a mutação é também uma característica adquirida e hereditária.
Apesar de tudo restava a perspectiva de, mesmo que oriundos de um antepassado comum, este era muitíssimo antigo e teria vindo a ser melhorado até nós; na árvore ainda somos a folhita mais verde do ramito mais alto. Mais: os homens seriam todos da mesma família, diferentes das dos outros animais de cuja eventual herança comum há muito foram feitas as partilhas.
Agora o que nos dizem é que nem árvore há; em vez de tronco, uma espécie de rizoma. A árvore genealógica degenerou em fungo, bolor, quando muito em cogumelo - um emaranhado de micélios que se entrecruzam e não apenas como se entrecruzam os vimes dos cestos da vindima.

Disseram-nos que éramos irmãos de todos os humanos, primos afastados dos outros primatas..... cujos tios se tinham separado há milhões de anos. Agora dizem-nos que, além da herança dos nossos ilustres antepassados, temos outras oriundas de espécies diferentes, tão primárias como as bactérias, vírus ou pior.
Bactéria foi a designação escarninha que Chaplin encontrou para uma nação desdenhada (Grande Ditador).
Deparamo-nos bastardos de progenitores promíscuos, de origens obscuras, apenas porque, por acaso, dois micélios levados pelo vento se cruzaram e trocaram legados; que as bactérias o façam (plasmídeos), ainda vá, mas os nossos progenitores...
A origem de muita informação genética mantida no genoma é transversal e não horizontal em origem: provém de vírus que, como parasitas que são, inserem, por vezes, informação genética no nosso genoma. “Estrumar o sangue” exprime bem o desdém de uma herança genética transversal, horizontal, rasteira...
Afinal, todos somos quimeras (o que soa bem) ou mosaicos (o que parece detestável) que, além dos primordiais, poderemos ter genes novos que nunca teria havido na natureza humana; teríamos genes de arqui-avós com milhões de anos que se cruzaram com outros acabados de inventar, um ambiente algo pedo-zoófilo que evoca a mitologia grega.
Já se suspeitava que as mitocôndrias não eram mais que bactérias que há muitos milhões de anos se tinham insinuado nas células eucariotas (endossimbiose.) comandando a sua vida como a Wolbachia faz aos insectos à maneira do mordomo de
Harold Pinter.
Aliás, pensando bem, nós somos tanto o nosso “corpo” como a nossa flora interna, constelação de células tão específicas e tão indispensáveis quanto as geneticamente “nossas”, (aliás menos numerosas que aquelas). A distinção entre as “nossas” células e a nossa flora é uma perspectiva dicotómica, reflexo da do corpo e alma de outrora.

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