Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt
Reflexão de ontemCiência, liturgia, economia e política
Há dias assistia a um palestra no Museu da Ciência (Os valores da ciência na teoria da evolução) da excelente série “Darwin e a evolução” que Paulo Gama Mota organizou sobre a importância e o impacto das ideias de Darwin.
O anfiteatro estava cheio de jovens. Perto, a Sé Nova, a antiga igreja do Colégio da Companhia de Jesus que regeram o ensino da UC até à reforma do Marquês de Pombal.
O belo anfiteatro do Laboratório Chímico contrasta com a igreja-salão da Sé Nova. Aqui, os crentes estão ao nível do chão. Um pouco acima, o altar e, mais ainda, o púlpito donde se ouviria a palavra de Deus; no anfiteatro era diferente - os alunos nas bancadas em socalcos com o mestre em baixo. Arquitectura diferente para diferentes objectivos – Ciência ou Fé; questionar ou crer; convencer ou converter. (1)
Estávamos em período eleitoral; poucos dias antes tinha havido manifestações em Coimbra - comícios, jantares de campanha e arruadas. Missas campais para os crentes, comunhão solene e procissão, com andores, foguetes e cardeais sob o pálio.
É curioso que a democracia liberal, o equivalente político do mercado, tenha ido buscar os rituais à Igreja.
Não admira que os inimigos dessa nova teologia, sacerdotes de uma outra, rejeitem oficiar nos templos dos deuses pagãos. Foi por isso que Louçã recusou entrar nos mercados (2), locais onde se expõem produtos de actividades que os economistas classificam como primárias. Percebe-se a relutância que nada tem com tics de esquerda-caviar.
Também se compreende que quem tenha tido uma austera formação universitária conviva mal com este ambiente de romaria. É natural que MFL tenha tentado resistir a esta liturgia profana de feira, de circo com altifalantes, barracas de farturas, tiros e banha de cobra; não conseguiu mas manteve alguma reticência. Assim, quando as sondagens contrariavam as suas espectativas, a economista tentou encontrar uma hipótese explicativa (3) no seu modelo do mundo. As sondagens são o equivalente eleitoral das cotações das empresas na Bolsa e seriam tão voláteis quanto estas. O “medo de responder” seria o equivalente do receio que leva a não arriscar a ordem de compra.
É discutível a interpretação e muito fácil atribuí-la à crença, ao desespero ou à perspectiva enviesada de todos os chefes. Mas, em vez de a considerar estapafúrdia, há que encará-la como uma hipótese a pôr à prova tanto mais que a investigação não envolve qualquer custo.
Se, no domingo, os resultados eleitorais contrariarem muito os das sondagens, a hipótese de asfixia e do medo ganha a plausibilidade que agora se lhe não atribui.
É claro que esta eventual discrepância também se poderá atribuir ao esforço dos últimos dias; uma nova hipótese a ter em conta. Mas não é assim que a ciência avança? Cada investigador a tentar contestar as verdades aceites?
É curioso que os chefes políticos escolhidos sejam economistas universitários que, por vezes, parecem eclipsar essa qualidade. Sabem que não basta garantir, têm que explicar; sabem, mas ontem um outro político, também reputado economista universitário, pareceu esquecer. Espero que se trate apenas de adiar a resolução da equação.
1. Quando os romanos fecharam o anfiteatro nasceu o Coliseu; o palco deu lugar à arena. Há comícios no Campo Pequeno e mega-celebrações sectárias nos estádios.
2. O líder bloquista tinha evitado entrar num mercado, de onde algumas peixeiras lhe acenavam. "Eu não gosto da dinâmica de espectáculo que os mercados criam".
3. "Aquilo que eu acho é que as pessoas neste momento têm tanto receio de falar que já nem aos técnicos de sondagens respondem a verdade. O máximo que respondem é 'não sei'".Etiquetas: política liturgia