Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt
DAR VIDA SEM MORRER
BelzebuOutra adição nos acude:
escreve logo aí, a fundo,
que busca honra Todo o Mundo,
e Ninguém busca virtude
"Dar a Vida sem Morrer" é o nome de um documentário sobre a Redução da Mortalidade Materna e Neonatal na Guiné-Bissau, realizado pela RTP em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) e a Cooperação Portuguesa, e que conta com a participação de Catarina Furtado, Embaixadora da Boa Vontade do FNUAP. É uma versão laica e mediática das Conferências de Stª Catarina de Pádua, dos peditórios para as Missões de há meio século ou um revivalismo do Movimento Nacional Feminino, 40 anos depois.
Vamos brincar à caridadezinha/Festa, canasta e boa comidinha/Vamos brincar à caridadezinha (Barata Moura) para os pretinhos da Guiné.
Para ajudar a atenuar o drama dos bebés e mães na Guiné, organizou-se uma missão que irá enxertar unidades de saúde europeias (hospitais maternidades, bloco operatório, ambulâncias, painéis solares) num país onde falta tudo -- água, esgotos, estradas, gasolina, electricidade , governo, para não falar em médicos ou enfermeiras e onde sobram a fome, as guerras e as pestes (malária e SIDA). 
Ca
tarina Furtado, lá foi anunciar a prenda; qual fada da Gata Borralheira, borboleteava por ali, pousando de vez em quando para que a TV-probóscide sugasse imagens mais mediáticas --- bebés marasmáticos, edemas da fome, morte puerperal ao vivo, eclâmpsia evacuada de táxi “porque não havia ambulância”. Sem um mínimo de consideração pelo constrangimento que aquela intromissão poderia causar a pessoas fragilizadas.
Muitas imagens de lactentes com perfusões endovenosas; não mostraram nenhuma criança sob reidratação oral, cuja imagem tinha muito menos impacto.
O mais trágico foi ver a "Unidade para Prematuros" --- várias incubadoras, para manter os pequenitos quentes e húmidos; máquinas para os manter quentes e húmidos num clima tropical .... Máquinas num país sem electricidade; máquinas que afastam os recém-nascidos das mães que os poderiam afagar, amamentando-os “ad libitum”, partilhando calor, flora e bafo, como no presépio.
Tudo sobre a direcção de um dedicadíssimo técnico, de serviço 24 horas por dia, sete dias por semana, dado ser único...
Há muitos anos, no Hospital Central de Maputo, inundado de doentes e quase sem pediatras, um genial pediatra chileno*, exilado cooperante fez a troca das incubadoras pelas mães com enorme êxito; por exemplo, deixou de haver infecções cruzadas.
David Morley publicou a sua obra seminal “Paediatric Priorities in the Developing World. London, 1973”. Não vale a pena tentar reinventar a roda.
Os 250 mil euros da colecta servirão para comprar material a instalar naquela região sem energia, sem pessoal e sem técnicos para o manter.
Boa parte dessa verba servirá para pagar a empresas fornecedoras e produtoras baseadas em países desenvolvidos, encerrando-se assim o ciclo vicioso dos bem intencionados donativos dos espectadores do “Dança Comigo por uma boa causa”, da RTP, os novos chás-de-caridade. O exemplo acabado do neocolonialismo cultural, o enxerto do paradigma vigente - da medicalização da saúde e da tecno-dependência.
Os pequenitos da Guiné, “por serem negros”, ficarão na mesma, ou pior, porque outra vez frustrados. Uma farsa que faria enfurecer o Nicolau da Fonseca, pediatra mobilizado para Bafatá em 1972 (A minha actividade clínica vai decorrendo sem dificuldades de maior. Tenho com que me entreter durante grande parte do dia. Estou sòzinho no Hospital Regional. Consultas com 50 a 70 doentes todas as manhãs. Enfermarias com um total de 86 camas para visitar de tarde. Muito paludismo, muitas anemias; muitos problemas de má nutrição (sobretudo em mulheres, durante e após gravidezes; em crianças, menos do que esperava); algumas diarreias, complicações respiratórias graves do sarampo; etc. Não tenho qualquer apoio laboratorial. Apenas um aparelho de radioscopia.
Apesar de ter sido nomeado Pediatra do Hospital de Bafatá, faço clínica geral. Sob uma avalanche de doentes de todas as idades, fico sem poder dedicar-me como queria à Medicina Infantil. A única possibilidade que tenho é de observar as crianças na consulta e na enfermaria com um pouco mais de atenção. E nada mais. Felizmente não tenho tido grandes dissabores com as crianças que tenho tratado. Já me faleceram algumas, mas em situações que me não deixaram qualquer peso na consciência: 1 tétano noenatal, 1 sépsis neonatal, 1 encefalite (coma palúdico?) numa criança de 2 meses, (2 pneumonia do sarampo em crianças com um mau estado de nutrição, 1 coma hepático (post hepatite) num rapazinho de 14 anos. Mas, apesar de tudo, é preciso sorte. O hospital fica entregue das 18h às 7h da manhã, a serventes negros, a maior parte analfabetos. Fica um de serviço de noite. Chama o enfermeiro quando é preciso e este manda chamar o médico se a situação o justifica. As medicações têm que ser feitas entre as 7 e as 18horas, porque só nesse horário disponho de enfermeiros (bons no aspecto de desembaraço, mas maus em muitos outros aspectos). Bafatá 10-12-1972) e fará ranger o Manuel Boal (Secretário-Geral do Subcomissáriado de Saúde e Assuntos Sociais. Nô pintcha. 1975). E poucos mais.
* Mario Glisser, UNICEF, Luanda.
Terão ouvido a opinião do Mário Glisser, do Manuel Boal ou do Arsénio Pina, médicos pediatras com vasta experiência em África, nomeadamente na Guiné, que falam crioulo e cuja competência foi reconhecida pela UNICEF que os nomeou seus representantes?
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