Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt
Processo de intençõesVital Moreira desde há muito vem criticando severamente o numerus clausus em Medicina que diz ser “ditada por um propósito expresso de malthusianismo profissional, para assegurar o lugar e as altas remunerações dos médicos existentes.”
O número de médicos portugueses tem sido, até há pouco, equivalente ao da média europeia; onde sempre houve uma enorme carência foi de clínicos gerais/médicos de família (um para cada três médicos hospitalares quando a relação desejável seria a inversa).
Acontece que a atribuição de vagas para as especialidades médicas é da exclusiva responsabilidade do Ministério da Saúde, tal como o numerus clausus o tem sido dos Ministérios da Educação/Ensino Superior. Se os responsáveis pelas estratégias ministeriais – políticos, juristas, universitários, gestores, economistas - se demitiram das suas funções, é a eles que há que pedir responsabilidades do que se classifica de “criminosa política”.
Se a razão desta distorção ou desta carência fosse uma “manobra malthusiana para evitar a concorrência”(As Coutadas Profissionais, Público 19 de Janeiro 1999 ou 2000) seria de esperar que ele fosse mais acentuada nos lugares de topo; se o modelo fosse o da luta pela sobrevivência dos mais aptos, seria de esperar que se procurasse diminuir o número dos candidatos à posição alfa da alcateia. Acontece que o excesso de médicos hospitalares se deve precisamente ao pedido insistente dos directores de Serviços hospitalares à abertura de mais vagas nas suas especialidades, o que implicará a médio prazo, mais concorrentes especializados, jovens e bem preparados, no mesmo “nicho de mercado”; mais consultórios para uma clientela que não é elástica, justamente o oposto da tese que VM defende. Dr. Maquiavel não trocaria um benefício imediato por uma ameaça crescente a médio prazo. Entretanto a situação atenuou-se mas a inversão persiste *.
Também se Vital Moreira tivesse razão, seria de esperar que as Faculdades de Medicina tendessem a manter reduzido o número de docentes. Quem vê na vida uma selva onde há que "lutar pela sobrevivência" sabe que o risco de competição advém dos "mais aptos".
Acontece que o número de docentes da Faculdade de Medicina de Coimbra era (dados de 2000) quase três vezes (2.8) superior aquela onde Vital Moreira é Professor e que tem um número de alunos muito superior.
O processo de intenção é um perigo mesmo quando manuseado por quem de direito.
"Grande parte do País está gravemente carenciado" ..de médicos... " pelo menos na medicina privada, essas carências só serão colmatadas se se verificar uma saturação dos grandes centros. É o que se está á verificar, por exemplo, com a cobertura do território por advogados" escreveu há anos (As Coutadas Profissionais) apelando a um aumento de vagas para estudantes de Medicina.
Teria sido utilíssimo que Vital Moreira, com a sua autoridade e perspicácia, tivesse ajudado a corrigir anomalias do SNS, sem desvirtuar o seu espírito.
É claro que o SNS tem muitos defeitos: os cuidados de saúde não são eficientes nem distribuídos com equidade. Infelizmente o mesmo se poderá dizer dos outros serviços públicos; não creio que a Justiça portuguesa, apesar da "cobertura do território por advogados", seja um modelo a apresentar. Não creio que para colmatar a falta de areia das praias seja sensato despejá-la a jorros na Serra de Estrela.
Os médicos, a Ordem, o SNS e as Faculdades de Medicina têm muitos defeitos que merecem críticas certeiras o que não foi o caso; nada pior para uma boa causa que um argumento enviesado.
Declaração de interesses: sou médico sem consultório, amigo de Vital Moreira e fui Professor da Faculdade de Medicina de Coimbra.
* Em 2008, 25% das vagas para especialidades foram atribuídas à Clínica Geral; em 2005 eram 15%.
* "Nos outros países, as vagas são pensadas a dez anos, de acordo com a demografia médica e as necessidades das populações"... "...em Portugal, esta decisão vai sendo feita ao sabor das carências do momento e da capacidade de lobby de algumas especialidades". Rui Guimarães, do Conselho Nacional do Médico Interno. Público 12.12.2007Etiquetas: Medicina Universidade