alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

17.6.08

 
Reunião de curso em Alcobaça 1

Começámos o dia com uma visita ao Mosteiro; em procissão seguimos a guia, pequena para tanta gente, recordando o Claustro do Silêncio (Luis Rosa. O claustro do silêncio. Presença 2002).
No refeitório não havia “Pousada com mantimentos, Mesa posta em clara luz, Sempre esperando, Com dobrados mantimentos” que ainda era cedo para almoço; esperavam-nos três cónegos regrantes (Frei João, Frei Joaquim e Frei Mário) , a cabeça coberta com o capuz do “escapulário negro sobre a veste talar branca” (Luis Rosa) que prescreviam remédios para todos as maleitas. As receitas, tiradas de um alfarrábio de Gil Vicente e adaptadas aos males presentes, mantinham o sabor original da botica: “Era grande e famosa a botica de Santa Maria de Alcobaça. No meio daquele universo de escorredores e passadores, espátulas, raladores, retortas e alambiques, jarros e provetas, procurou infusões e cata­plasmas, tisanas estimulantes, xaropes e inalações que pudessem trazer ao mundo dos normais o velho...” (Luis Rosa)
Depois de almoço, fomos chamados a Capítulo onde uma freira nos recordou a vida dos monges no Sec. XVIII, razão de sobra para a abolição das Ordens – as rendas do Mosteiro incluía milhares de ovos, centenas de galinhas, vacas e carneiros, peixes diversos que, alem disso tinha o monopólio dos moinhos, dos lagares, das adegas e dos teares. A sala dava para o Claustro do Silêncio que os turistas não respeitaram enquanto não começou o concerto de cordas do Jorge Tuna*, nosso condiscípulo, e do Durval Moreirinha, nosso contemporâneo, com trechos do novo disco de Baladas de Coimbra. Belíssimo.
.Ao fim da tarde, uma missa coimbrã; o padre e o coro (Capela Gregoriana Psalterium) foram de Coimbra e não poderia ter havido melhor fim de dia. O Sol entrava pelo óculo da fachada – iluminava e aquecia – quando “um som imponente e uniforme do cantochão, melodioso, gregoriano, encheu a nave”. O som do coro, como que vindo do fundo da terra e do tempo, ecoava pelas naves, rodeava o deambulatório, subia e descia pelas arcadas e regressava para se fundir com o início da frase seguinte. O latim original, incompreensível, acentuava o mistério.
E ali estávamos nós, crentes e agnósticos, fruindo a beleza do momento, do local, da memória.
As bases biológicas da crença devem ter algo a ver com o processo imunitário; uma vez vacinados (baptizados) a memória guarda o registo para sempre. Mesmo que nos mantenhamos afastados dos antigénios primordiais, basta um contacto ínfimo para desencadear um efeito exponencial, desproporcionado à exiguidade do estímulo. Nem é necessário que o estímulo seja o inicial – basta que seja semelhante; aqui o coro e a liturgia são o equivalente do toxóide – produz o mesmo resultado sem os riscos tóxicos. Também há casos de reacções alérgicas, raramente graves mas sempre desagradáveis.
A liturgia acorda nos apóstatas um remoto sentimento de bem-estar – connosco e com o mundo – que releva do místico. Seria interessante dosear a taxa de endorfinas de todos nós, antes e depois da missa e correlacioná-las com a história religiosa de cada um.
E ali estávamos, velhos que passaram juntos sete anos cruciais em Coimbra, nos antigos Colégios jesuítas de S. Jerónimo e das Onze Mil Virgens, estudando, aprendendo, discutindo uns com os outros, convivendo como se fôramos monges (pouca monjas) num Mosteiro com muitos claustros e diversas Ordens mas a mesma regra, a mesma praxe. Como se tivéssemos feito votos e nos tivéssemos separado quando tomámos Ordens.
Fomos monges a prazo como os bonzos budistas, capa e batina em vez da túnica laranja; capa e batina negra sobre camisa branca como o hábito cisterciense.
Em Alcobaça, cujo abade subscreveu, com o Prior de St.ª Cruz de Coimbra, o pedido do Rei ao Papa de uma Universidade portuguesa.

Etiquetas:


Comments: Enviar um comentário

<< Home

Archives

12/2004   01/2005   02/2005   03/2005   04/2005   05/2005   06/2005   07/2005   08/2005   09/2005   10/2005   11/2005   12/2005   01/2006   02/2006   03/2006   04/2006   05/2006   06/2006   07/2006   08/2006   09/2006   10/2006   11/2006   12/2006   01/2007   02/2007   03/2007   04/2007   05/2007   06/2007   07/2007   08/2007   09/2007   10/2007   11/2007   12/2007   01/2008   02/2008   03/2008   04/2008   05/2008   06/2008   07/2008   08/2008   09/2008   10/2008   11/2008   12/2008   01/2009   02/2009   03/2009   04/2009   05/2009   06/2009   07/2009   08/2009   09/2009   10/2009   11/2009   12/2009   01/2010   02/2010   03/2010   04/2010   05/2010   06/2010   07/2010   08/2010   09/2010   10/2010   11/2010   12/2010   01/2011   02/2011   03/2011   04/2011   05/2011   06/2011   07/2011   08/2011   09/2011   10/2011   11/2011   12/2011   01/2012   02/2012   03/2012   04/2012   05/2012   06/2012   07/2012   08/2012   09/2012   10/2012   11/2012   12/2012   01/2013   02/2013   03/2013   04/2013   05/2013   06/2013   07/2013   08/2013   09/2013   10/2013   11/2013   12/2013   01/2014   02/2014   03/2014   04/2014   05/2014   06/2014   07/2014   08/2014   09/2014   10/2014   11/2014   12/2014   01/2015   02/2015   03/2015   04/2015   05/2015   06/2015   07/2015   08/2015   09/2015   10/2015   11/2015   12/2015   01/2016   02/2016   03/2016   04/2016   05/2016   06/2016   07/2016   08/2016   09/2016   10/2016   11/2016   12/2016   01/2017   02/2017   03/2017   04/2017   05/2017   06/2017   07/2017   08/2017   09/2017   10/2017   11/2017   12/2017   01/2018   02/2018   03/2018   04/2018   05/2018   06/2018   07/2018   08/2018   09/2018   10/2018   11/2018   12/2018   01/2019   02/2019   03/2019   04/2019   05/2019   06/2019   07/2019   08/2019   09/2019   10/2019   11/2019   12/2019   01/2020   02/2020   03/2020   04/2020   05/2020   06/2020   07/2020   08/2020   09/2020   10/2020   11/2020   12/2020   01/2021   02/2021   03/2021   04/2021   05/2021   06/2021   07/2021   08/2021   09/2021   10/2021   11/2021   12/2021   01/2022   02/2022   03/2022   04/2022   05/2022   06/2022   07/2022   08/2022   09/2022   10/2022   11/2022   12/2022   01/2023   02/2023   03/2023   04/2023   05/2023   06/2023   07/2023   08/2023   09/2023   10/2023   11/2023   12/2023   01/2024   02/2024   03/2024   04/2024  

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Site Meter