alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

17.12.07

 
A Contra-Reforma das vacinas

As vacinas alteraram radicalmente o paradigma dos cuidados de saúde; são o reflexo da atitude actual perante o risco.
Quando se sentia doente, o indivíduo consultava um médico cujo tratamento era, em regra, penoso e caro. Pena e preço que o doente suportava. Com a vacina é diferente; agora é o indivíduo são que suporta a pena e os encargos da vacina na expectativa de ficar imune à doença e de não sofrer efeitos secundários.
As sociedades modernas enfrentam novos e importantes ameaças no início do século XXI. Entre esses desafios destacam-se as doenças infecciosas emergentes com potencialidades pandémicas.
Uma das armas mais eficazes são as vacinas. As expectativas são enormes; se se conseguiu erradicar a varíola, porque não as outras formas da peste?
Os pais não educam os filhos, encharcam-nos com brinquedos e desculpas mas cumprem escrupulosamente o plano vacinal e suportam o preço elevado das novas vacinas contra a “meningite” e contra a varicela ou a diarreia (rotavírus). Aguardam-se ansiosamente vacinas contra os apocalipses do Século – o vírus da gripe das aves e a praga do HIV. Espera-se uma vacina contra a malária, o grande flagelo dos países tropicais. Já há vacina contra o cancro (heptatocarcinoma); espera-se outras contra outros e contra a obesidade, a diabetes, o colesterol, os acidentes, o desleixo…
A expectativa do público não tem limites; se há uma vacina eficaz porque não deverá ser o SNS a suportá-la? As novas vacinas são muito caras e a saúde não tem preço.

* As vacinas representam a transferência da responsabilidade individual na prevenção para a compra da vacina. Como cada vez mais acontece, exige-se que seja o Estado a comparticipar ou a suportar o preço das vacinas; assume-se que a salvação individual depende da colaboração dos outros. Um passo para a desresponsabilização individual.
Este paradigma, hoje consensual, contraria radicalmente a perspectiva individualista subjacente à reforma protestante e ao espírito do capitalismo (
A ética protestante e o espírito do capitalismo foi escrito há cem anos).
A contribuição individual na compra da vacina está para os cuidados individuais de higiene como a compra da “bula” esteve para o pecado. Paga-se para se assegurar a salvação. A longa duração das vacinas é o equivalente da indulgência perpétua. Cinco séculos depois de Lutero ter sido ordenado padre.
Por outro lado, a contribuição colectiva para a compra de vacinas – mesmo que só administrada a uma fracção da população (HPV) -- justifica, séculos depois, as "
alminhas" portuguesas, um ícone da Contra-Reforma.
As alminhas “gritão e pedem” uma “esmola ou oração” pelas "almas do purgatório", cuja salvação já não dependerá apenas da iniciativa privada.

Comments:
Estaria de acordo se não se pusesse a questão das desigualdades económicas e respectivas iniquidades em saúde.
Se o Estado não intervém, de uma forma inteligente, os "ricos" estarão vacinados e os "pobres"! não.
A Saúde Pública não pode pactuar com o perpetuar dos ciclos de desvantagem.
E seja como for, evitar uma menbingite ou septicemia, com respectivas sequelas ou mesmo morte, parece-me não ser assunto menor.
O argumento da salvação individual por conta de outros faz-me alguma urticária, não tenha sido esse o argumento utilizado para impedir os by-pass coronários a pacientes que não se comprometessem a deixar de fumar, ou algumas tácticas de companhias de seguros para colocar no item "doença subjacente" tudo o que aconteça.
Professor, com o devido respeito, a esquerda não tem apenas a obrigação de fazer melhor do que a direita... deve fazer diferente.
O problema das vacinas é que não se pode saber quem ganhou com elas, ao passo que um doente que entra em paragem cardíaca e é salvo sabe quem é o médico e este sabe que ele sabe. E agradece-lhe quando ao café na aldeia.
Enquanto a Medicina (e a Pediatria) continuarem hospitalocêntricas e doentomaníacas, não vamos longe.
Por mim, como sabe, a descrença é grande, estou por vezes mais cínico do que clínico, e a pediatria portuguesa aumenta-me de dia para dia a IgE total...
Pessoalmente, defendo a inclusão da vacina antivaricela e da anti-pneumocócica num qualquer esquema (PNV ou outro) que reduzam as desigualdades em saúde.
 
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