alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

26.11.07

 
Portugal em 1811-14 visto por uma jovem inglesa.

Os fidalgos

A família Peniche era apoiante de D. Miguel e típica da sociedade portuguesa pouco viajada da época.
"A condessa não tinha qualquer educação e era conhecida pelas suas maneiras rudes e gostos masculinos. Levantava-se às 6.30 da manhã, visitava os estábulos e descompunha os estribeiros; prosseguia para o seu oratório à porta do qual, sentada numa arca e acompanhada das filhas e damas de com­panhia, tomava normalmente o pequeno-almoço, uma côdea de pão seco e uma chávena de café.
Ela permitia às filhas que participassem nas grandes reuniões até aos treze anos de idade; depois disso, ficavam em casa sem outra companhia senão a das criadas até que se casassem.
Lembro-me do meu espanto ao ouvir as jovens Dª Teresa e Dª Maria, de dezasseis e dezassete anos de idade, a falar à vontade com os criados que estavam de pé atrás das suas cadeiras - e, depois do jantar, debruçar-se das varandas sobranceiras às ruas sujas, rodeadas pelas criadas, com quem elas se juntavam cordialmente ten­tando atrair as atenções dos transeuntes.
O casamento era para elas uma libertação da reclusão apertada, e elas pareciam não se importar muito com o tipo de apêndice que as acompanhava na forma de marido para conseguir esta libertação".

Dª Emília tinha vivido fechada num convento até aos dezasseis anos, quando se casou com um jovem oficial pouco mais velho e pouco mais esperto que ela; ela demonstrava um grau de indiferença próximo do desprezo para com o pobre homem

Fomos apresentados pelo nosso anfitrião amistoso a Dª Archangela, sua jovem esposa, cuja cara feia e modos desagradáveis não se harmonizavam com o seu nome angélico. Ergueu-se para nos receber e depois retomou a sua postura confortável e reclinada no sofá envolta por um enorme capote, com um palito na boca, o que lhe proporcionava uma boa desculpa para se manter em silêncio.

Visella tinha muitos visitantes mas não havia nenhuma forma de pas­sar o tempo racionalmente e, como o grande objectivo dos portugueses parece ser vegetar luxuosamente, os dias passavam-se a comer, dormir, a fazer visitas e a jogar faraó, ou, como se chama em português, "banco".

O povo
Minho. Os camponeses aqui parecem menos sujos e miseráveis do que nas províncias do Sul, o que se pode atribuir em parte ao facto de terem escapado às crueldades e dificuldades que se abateram sobre as pro­víncias onde os exércitos franceses penetraram.
Em Ambos os Rios fomos recebidos com foguetes como era costume e cobertos com pétalas de rosa e flores de laranjeira. Tinham-nos preparado um barco decorado com ornamentos de todas as igrejas das redondezas. Estava coberto com um dossel de damasco vermelho, forrado de seda amarela e guarnecido com fita dourada.

Aveiro é uma povoação sombria e mal construída no meio de pântanos pouco saudáveis: o porto é tão pequeno que apenas iates e barcos de pesca podem lá entrar. Os pobres pescadores que vêm de bastante longe têm uma aparência ligeiramente melhor que selvagens: as suas barbas e cabelo crescendo livremente dão-lhes um ar bastante feroz. No entanto, nada pode exceder a gentileza e delicadeza natural das suas maneiras. Nunca passam por um estranho sem tirar os chapéus dizendo bem alto "Deos guarde Vossa Senhoria muitos annos," e são infinitamente mais educados que os seus vizinhos rudes e desagradáveis de Aveiro.
Dirigimo-nos a Ílhavo uma povoação fora da estrada prin­cipal e, por essa razão, pouco frequentada por estranhos - a nossa chegada criou uma grande excitação, e, quando nos abrigámos da multidão numa pequena estalagem ao pé do mercado, foi verdadeiramente ridículo obser­var os grupos de camponeses que cercavam as portas e janelas do quarto que ocupávamos. Penso que éramos os primeiros estrangeiros do sexo feminino que eles alguma vez viram; olhavam com ar pasmado para a nossa roupa e chapéus de montar, em silenciosa admiração, e uma mulher com mais idade gritou quando eu passei que eu era um "muito bonito rapazinho."

Visitámos uma pequena aldeia piscatória chamada Tróia, onde há várias ruínas que permitem pensar que se tratava de uma colónia romana, destruída pelo avanço do mar. Abrigámo-nos da chuva numa pequena cabana de pesca habitada por um velho casal de olhar selvagem, um pescador e a sua mulher, que raramente viam um ser humano.


The Journal of Clarissa Trant 1800-1832. London, John Lane 1925.
O Coronel Trant participou na Guerra Peninsular, e chefiou tropas portuguesas que combateram lado a lado com as tropas britânicas. Em 1811, era Governador do Porto e mandou vir para Portugal os seus filhos, órfãos de mãe; Clarissa, sua filha esteve cá, adolescente, de 1811 a 1814. Trant era muito culto e viajou por todo o país.
Em: Mª Leonor Machado Sousa. A Guerra peninsular em Portugal. Relatos britânicos. Caleidoscópio 2007

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