alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

8.9.06

 
Quando a rainha de Inglaterra passou por Pinhel

Juiz, vereadores e procurador da câmara e vila de Pinhel, Eu el-rei vos envio muito saudar. A rainha da Gran-Bretanha, minha muito amada prezada irmã, entra n’este reino pela praça d'Almeida e há-de fazer trânsito pela vila de Pinhel, e hey por bem que n'ella a recebais com todas as demonstrações de alegria, contentamento, e celebridade, com que havíeis de receber a minha pessoa, se acaso fosse a ela; e a noite em que chegar a essa villa se porão luminárias; e se por algum acidente se demorar, se continuarão as luminárias por tempo de três dias, e porquanto o marquez de Arronches... vai a ser conductor da rainha, hey por bem que façais tudo o que ele disser, o necessário for que se faça. Escrita em Alcântara a 24 de Outubro de 1692. Rey.
... no 1º de Janeiro de 1693 ... o juiz de fóra e vereadores, com a maior parte da nobreza da vila, os foram esperar à entrada do ter­mo com o estandarte real, vestidos à cortezã. Ali a câmara, posta em alas, recebeu a rainha, e o mesmo fez a nobreza; e quando passava o coche da rainha, “fizeram as cortezias devidas”, e ela baixou a cabeça com demons­trações d’alegria. E a câmara logo montou a cavalo, e tomou a retaguarda do coche real, e assim acompanhou a rainha até ao palácio que lhe estava destinado, com um terno de charamelas, tocando; e ao caminho afluíram os habitantes das aldeias circunvizinhas com aquelas danças e juízo que permitia sua capacidade, com repetidos vivas, e ramos nas mãos, aplaudindo. E à fonte do Coche parou o préstito, porque a rainha quis ver a vila que fica em frente, e ali se reuniu povo imenso, com muitos instru­mentos e pelas, cantando e dançando com tal galanteria, que a rainha gostou muito; e à entrada da vila, junto à capela do Espírito Santo, o visconde de Barbacena, general da província, em uma salva de bastiares, dourada, lhe entregou as chaves do castelo, e lhe fez em nome da câmara, nobreza e povo uma fala tão concertada nas palavras e com tanta descrição como sua.
D’ali seguiu para o aposento que lhe esta­va preparado nas casas de Manuel Falcão de Figueiredo, com duas casas contíguas, que se puseram em comunicação, e sobre a porta principal estava um brasão com as armas de Inglaterra, Irlanda, Holanda, Escócia e Portugal. E o capitão-mor da vila, António Velloso Cabral, se postou com a sua ordenança em frente do paço, e aí se con­servou até que a rainha partiu, salvando com uma descarga, quando entrava a soberana.
E o bispo de Viseu, D. Ricardo Russel, estava com todos os beneficiados e eclesiásticos da vila e seu termo, à porta prin­cipal da igreja de S. Pedro, com o pálio, para receber a rainha debaixo d'elle, graça que a rainha não aceitou “por vir achaca­da de uma perna”. À porta do paço, ficaram as danças que acompanharam a rainha, dançando e tocando charamelas e clarins, coisa muito vistosa e agradável; e logo lhe foi entregue o presente que a câmara havia preparado, e que constava do seguinte: ­12 vitelas, 24 carneiros, um porco que pe­sava 8 para 9 arrobas, 24 perus, 4 dúzias de galinhas, 150 perdizes, e seis cargas de fruta camoeza e verdeal, e isto levaram 18 moças donzelas, das mais bem parecidas, muito bem adornadas com peças d'ouro e boas galas, em canastras e taboleiros, tudo entretecido com louro, ramos e flores.
Com os carneiros e vitelas iam 30 moços esbeltos, e na frente, todas as danças e charamelas, cantando e dançando.
A rainha aceitou este presente satisfei­ta; mandou para a sua ucharia os perus, perdizes, galinhas e fruta, e deu o resto ás frei­ras do convento desta vila. E foi tão bem disposta a aposentadoria, que todos ficaram muito bem acomodados, sendo imensa a multidão de gente, carruagens e cavalgaduras e ainda ficaram devolutas 5 casas com oitenta e tantas camas; e só de trigo sobraram treze mil e quinhentos pães!...
Apenas anoiteceu, se iluminou toda a vila, distinguindo-se o castelo, torre do relógio, igrejas, casa da câmara e o convento das freiras.
No dia seguinte, logo de manhã, o marquez d’Arronches, com o corregedor da comarca e juiz de fóra, reunidos no palácio da rainha, aplicaram a diversos réus o indulto antecipadamente concedido por el-rei; em seguida permitiu sua alteza que a câmara e alguns nobres e eclesiásticos lhe beijassem a mão, e logo todos marcharam com a rainha para Celo­rico, trajando os vereadores vistosas galas de cor, mandadas fazer expressamente para este acto. E logo que o coche real chegou à Ponte Pedrinha, limite do termo d'esta vila, a câmara, que o precedia, se apeou e despediu da rainha; e o juiz de fóra, de Trancoso, que ali se achava, a acompanhou até Celorico, onde pernoitou.
E em data de 10 de Janeiro de 1693, el-­rei dirigiu uma carta muito lisonjeira, à câmara de Pinhel, agradecendo os obséquios prestados à rainha sua irmã.

Pinho Leal. Portugal Antigo e Moderno. Lisboa 1875.

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