Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt
1. “O Parlamento e bem..., ouviu quem entendeu. Ouviu a indústria farmacêutica, ouviu outras
entidades e não ouviu a Direcção Geral de Saúde."
2. A proposta
foi sustentada por pareceres de entidades como a Sociedade Portuguesa de
Pediatria e o Parlamento recebeu o grupo de estudos do cancro da cabeça e pescoço, que recomenda a
vacinação.
3. “Tenho de
assumir que os deputados não tomaram a decisão de ânimo leve, portanto
decidiram qual o número de doses e quais as idades. Como são responsáveis,
arrisco-me a presumir que até negociaram com os produtores um bom preço para
cada dose.”
* Pode dizer-se que foi uma deliberação sem pés nem cabeça mas não pode dizer-se que tenha sido sem cabeça nem pescoço.
Etiquetas: vacina demagogia política senso
… o rendimento disponível que chega aos bolsos dos
portugueses ora se escoa em consumo importado ora sai alegremente para os
bolsos do Estado em impostos indiretos. João Duque
*Consumimos
importados sem nos importarmos;
pagamos impostos que
nos impostam.
Apetece gritar mas ninguém grita / apetece
fugir mas ninguém foge.
Um fantasma limita / todo o futuro a este dia de hoje.
Torga, 1950
* O país que estava
“amordaçado” está agora anestesiado? xanaxizado?
É o chamado "estado
crepuscular"... só reage a temas fracturantes - IVA das touradas,
programa "belief-based" de vacinas - indiferente a
consumo trepidante, economia rastejante, justiça preocupante, greves sequestrantes, teias
enredantes, imprensa vacilante.
No novo programa seria bem melhor incluir uma vacina para isto.
Não está à venda, é preciso descobri-la.
Etiquetas: política economia fractura consumo
Era uma vez...
A maior parte das transacções
são, actualmente, realizadas por algoritmos automatizados inteligentes; já quase não há humanos nos mercados financeiros.
Com efeito, será difícil pensar em
“animal spirits” e emoção humana quando somente 10% das transacções serão baseadas em
escolhas de humanos.
“Nós enquanto seres …, no âmbito do que se chamaria
uma ética pós-humana, devíamos ter a capacidade de perceber as "emoções" desses
outros que são os … humanos sobreviventes.” 2084 (Era Antropocena)
*
animal spirits—a spontaneous urge to action rather than inaction
Etiquetas: humanidade pós-humano história
Comer carne não é apenas uma
opção; se não lhe dermos um nome – carnismo – não
a veremos como ideologia, é apenas o “normal”. “Quando um comportamento — neste
caso, comer animais — se torna uma escolha e não já uma necessidade, assume uma
dimensão ética que não tinha antes.”
“Pode-se tentar mudar com esforço a cabeça das
pessoas, mas simplesmente perdemos o nosso tempo. Mudem-se os instrumentos que
as pessoas têm na mão e, aí sim, mudar-se-á o mundo.”
* Se é assim, proponho que se substitua o célebre
cavalinho do prato – que levava
as crianças a comer a sopa para ver o desenho do fundo – por um frango depenado, uma carcaça de bezerro ou uma perna de porco.
Etiquetas: alimentação carne vegetariano prato
A "vida privada" (e a pública) dos touros bravos; a revolta dos "coletes amarelos".
* A revolta não será dos "coletes encarnados"?
Etiquetas: touros
A tentação de civilizar por decreto em Portugal é antiga. O rei
Pedro IV era tão liberal, tão liberal que terá afirmado que “Os portugueses hão
de ser livres, queiram ou não” (Oliveira Martins). Em 1836, D. Maria II proibiu
as corridas de touros em todo o reino; dois anos antes, o Mata-Frades também
declarara extintos "todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e
quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares". Aconteceu
o previsível: Chassez le naturel. Il revient au galop.
Voltemos
à vaca fria. A criação “intensiva” de animais para alimentação humana é
muitíssimo superior às “necessidades” mas sempre abaixo da nossa satisfação e
da ambição do mercado. Sem falar do peixe.
Em
Portugal foram consumidas, em 2015, cerca de 186.000 toneladas de carne bovina,
de um total de 1.157.000 toneladas de carne. De suínos 465 mil; de capoeira 406
mil (INE).
Os que
se insurgem contra as touradas argumentam ser um espectáculo onde “bárbaros” se
divertem com o sofrimento dum animal. Os mesmos que frequentemente desfrutam o
prazer de um enorme naco de carne (um beef é
um boeuf morto).
Rejeitam a tourada na
arena mas fruem-na no prato com os garfos por bandarilhas.
Se
reduzíssemos a metade o consumo de carne – ainda acima das necessidades –
sacrificaríamos metade dos animais criados para consumo. E com benefícios na
saúde, economia e ecologia.
Dir-se-á que um matadouro não é espectáculo;
é verdade que não há público a assistir “ao vivo” ao massacre naquele recatado
ambiente mas, se se filmasse o que lá se passa, que grande audiência aquelas
cenas em diferido não atrairiam.
Proibir
as bandarilhas ou encontrar uma alternativa virtual (com lazer que rima com
laser) não deixaria mais tempo para discutir política a sério?
https://www.publico.pt/2018/11/24/opiniao/opiniao/cartas-director-1852215
Etiquetas: tourada tradição civilização consumo
A caravana voluntariosa sabe o que a espera e não desiste.
E, organizada como uma tribo de
deserdados, nómadas desarmados, invasores miseráveis, a caravana sabe aquilo que a humanidade sabe desde sempre. Que a maioria faz a força. Que a
fraqueza individual se reforça no coletivo, que sozinho ninguém chega a lugar
algum.
* Bendito país em que estes são os miseráveis deserdados; imaginam como serão os que lá ficaram?
No prefacio da Utopia, Thomas More diz que foi um marinheiro português que, numa taberna de Amsterdão, lhe falou dessa ilha perfeita. Onde ficava ele não disse.
Então Thomas More chamou-lhe Nusquama, palavra que, em latim, significa "Em Parte Alguma".
Erasmo, que era amigo dele, aconselhou-o a substituí-la pela palavra grega Utopos, que quer dizer a mesma coisa: "Em Parte Alguma". (Manuel Alegre Expresso 2002)
Etiquetas: jornal migração utopia
Vossa Majestade não pode
consentir que os touros lhe matem o tempo e os vassalos. Se continuássemos
neste caminho... cedo iria Portugal à vela.
- Foi a última corrida, Marquês.
P.S. A
civilização contra a cultura
A história da
ideia de civilização não pode ser feita sem a referência à ideia de cultura,
com a qual ela forma um par. E esse par ganhou uma importante configuração
dicotómica — a civilização em oposição à cultura — que nos chegou da tradição
romântica alemã. A reivindicação da Kultur contra a Zivilisation (vista com
desconfiança como ideia muito francesa), a defesa da “cultura espiritual” e
enraizada contra o cosmopolitismo e universalismo da ideia de civilização,
democrática na sua essência.
Etiquetas: cultura civilização, política tourada
Em Portugal, uma em cada dez pessoas vive com diabetes e
uma em cada duas tem a doença mas desconhece que a tem.
Apesar disso, nos centros de saúde de
todo o país só existem pouco mais de 100 nutricionistas. Ora, se mais de um
milhão de portugueses tem diabetes, isto significa que cada nutricionista teria
de seguir dez mil doentes com diabetes. Uma missão declaradamente impossível.
E tudo isto quando 80% da diabetes
poderia ser evitável, se a população tivesse hábitos alimentares adequados.
 |
Ptolomeu |
* "...cada nutricionista teria de seguir dez mil doentes
com diabetes.
... 80% da diabetes poderia ser evitável, se a
população tivesse hábitos alimentares adequados."
A Bastonária
dos Nutricionistas sugere que "todos" os diabéticos necessitam apoio
de uma nutricionista?
Entende que serão indispensáveis
"nutricionistas" para que "a população tenha hábitos alimentares
adequados"?
Não será um hábito nutricionista exagerado? Triexagerado?
Nada pior para uma boa causa que um mau
exemplo.
Etiquetas: diabetes obesidade nutrição nutricionista corporativo Ptolomeu
Nos primeiros nove meses deste ano os empréstimos
contraídos pelos portugueses na banca para comprarem carros, telefones, férias
ou outros bens de consumo aumentaram 16% em comparação com os valores do ano
passado.
É sempre possível temperar este discurso pessimista
dizendo que os números registados pelo Banco de Portugal surgem após cinco anos
em que as famílias (e o sector privado no seu todo) apertaram o cinto e
reduziram o peso das suas dívidas de 270% para próximo de 200% do PIB..
* Uma análise tão pertinente como oportuna - no Dia
Mundial da Diabetes. A diabetes do adulto (10% dos portugueses, dizem) e a sua
mãe obesidade (1/3 dos portugueses) são o equivalente biológico da dívida e do
défice e, todos, do excesso de consumo. Excesso muito acima das nossas
possibilidades e, sobretudo, das nossas necessidades.
Etiquetas: diabetes obesidade consumo
As ilustrações do Expresso são muito boas: esta, de Cristiano Salgado, é óptima.
O artista vê o Bloco de Esquerda como uma estreita ficha Eléctrica - uma ficha macho trifásica para se ligar a uma tomada da sua rede Europeia e daí colher a Energia para as suas políticas distributivas. Dos três pinos não se sabe qual é o da ligação à terra.
Se "O socialismo é o poder do BE mais a electrificação"... só falta o poder.
Etiquetas: política BE electricidade lenine
"A política precisa de um banho de ética"
Rui Rio
“Explicar a qualidade de uma semijóia para as
consumidoras de forma clara é imprescindível para quem deseja ser uma
revendedora de sucesso.”
Durante o
banho a peça base — de latão — é envolvida por uma fina camada de ouro para criar
uma semijóia.
* Não imaginava haver tantos joalheiros no grupo
parlamentar do PSD.
Etiquetas: política jóia banho ética
.
"Les contes
cruels", de Paula Rego
Marcelo Rebelo de Sousa vai
estar nas comemorações do centenário do Armistício, visitando exposições sobre
os horrores da I Guerra Mundial
Etiquetas: arte guerra Rego
Sociobiologia atrevida
Os novos
ditadores nascem dentro da democracia e têm votos. Muitos votos. Cumprem uma
das condições democráticas essenciais: são eleitos e mandatários da soberania
popular expressa pelo voto.
… é da dissolução da democracia por dentro que
se trata … e… o ar fica irrespirável. JPP
* É a putrefacção "devida às
atividades das bactérias do intestino que digerem as proteínas e excretam gases
(como metano, cadaverina e putrescina) com um forte odor desagradável."
(Wikipedia)
Bactérias anaeróbias, que
proliferam em ambientes confinados.
Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!
…
Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
Torga 1952
Etiquetas: política ditadura asfixia, sociobiologia
Em Porto da Lage, minha aldeia, dizia-se "marmelos verdes" em vez de sapos; mais verosímil e também disfágico.
Etiquetas: sapos marmelos
A Assembleia
da República vai começar a discutir dois projetos de lei para regular a
representação de interesses, o chamado lobbying.
Este é o tema em debate no programa Fronteiras XXI, esta
noite, na RTP3.
Onde Pára o Poder? Fronteiras XXI RTP3
Com o ex-Presidente da República do
Brasil, Fernando Henrique Cardoso, o CEO do Lloyds Bank, António Horta Osório e
a administradora do grupo Media Capital, Rosa Cullell.
1. Vi o programa durante uma
hora. Até lá ainda não se tinha falado no poder do dinheiro; mudei de canal.
Em Porto da Lage, minha aldeia,
o Henrique Narciso contava com humor a receita de "coelho a caçadora com massa". Começava
assim: Cortam-se as batatas às rodelas…
2. Se naquele tempo soubéssemos o que era lobbying, logo surgiria a pergunta: com se chamam aos agentes dos lobbies?
- Lobisomens,
claro, responderia a Carolina.
A licantropia* era uma doença mental; uma mania. O doente
julgava que era um lobisomem; que podia transformar-se em lobo. Nas noites de
quinta para sexta-feira, à meia noite, os lobisomens vão espojar-se nos sítios
onde os animais se espojam e transformam-se num animal igual.
É o seu fado, não
é por maldade. Porque os lobisomens são muito infelizes, sofrem muito.
João Aguiar. A Encomendação das Almas. Finisterra, 1997
*
Symptomas e Tratamento da Lycanthropia (Sec XVIII)
Etiquetas: poder dinheiro finança banca licantropia lobisomem
Teresa de Sousa: Como é que um país que
elegeu Obama consegue eleger logo a seguir Trump?
Madeleine Albright:
A explicação mais lógica é que ambos, Obama em 2008 e Trump em 2016,
foram vistos como candidatos que representaram a mudança. Se as pessoas se
sentem infelizes com o status quo,
uma boa parte delas sentir-se-ão tentadas a votar em alguma coisa diferente,
independentemente da ideologia ou do partido. Isto é verdade, mesmo que Trump e
Obama representem mudanças completamente diferentes.
Etiquetas: democracia opinião
Não há democracia sem cidadãos
Madeleine Albright: Não podemos
salvar a democracia sem confiança no julgamento dos cidadãos democráticos.
* Não podemos salvar a Medicina sem confiança dos
cidadãos doentes.
* O problema é que cada vez há menos cidadãos e mais consumidores.
Etiquetas: Política democracia cidadania
1. Política
Teresa de Sousa:
- Sim. Hoje em dia e por várias razões,
é difícil aos governos satisfazer as expectativas da opinião pública. Por isso,
muitos cidadãos sentem-se insatisfeitos com os partidos tradicionais e dão o
seu voto a alternativas que são novas ou extremas. O que, muitas vezes, conduz
a governos que acabam por ser ainda piores.
Medicina
Nas sociedades
opulentas, as pessoas estão descrentes da Medicina actual. Deixaram de confiar nela,
pelo menos tanto como confiavam anteriormente. É este o maior problema que
a Medicina enfrenta hoje?
- Sim.
Hoje em dia e por várias razões, é difícil aos Sistemas de Saúde satisfazer as
expectativas da opinião pública. Por isso, muitos cidadãos sentem-se insatisfeitos
com à Medicina tradicional e dão o seu voto a alternativas que são novas ou
extremas. O que, muitas vezes, conduz a resultados que acabam por ser ainda
piores.
2. Política
Madeleine Albright:
Não podemos
salvar a democracia sem confiança no julgamento dos cidadãos democráticos.
Medicina
* Não podemos salvar a Medicina sem confiança dos
cidadãos doentes.
3. Médicos, deputados e partidos
… importa insistir nesta ideia. Peças cruciais
da democracia-liberal — os partidos e os media do establishment —,
habituais intermediários entre o cidadão e o exercício do poder, estão hoje a
ser abalados. Entre ambos, políticos e media,
existia um largo consenso que sustentava as referidas (auto)limitações da
democracia.
Cada
vez menos cidadãos aceitam a representação política (e os media),
como no passado, como um filtro e um “educador” das “boas” opções políticas.
* Onde se lê "intermediários entre o cidadão e o exercício do poder" poderá ler-se médicos, também nós, intermediários entre os doentes e os milagres da Medicina e em cuja competência confiam. Ou não.
Etiquetas: sociobiologia medicina política
Quando lhe apontam a estrela, os tolos olham para o dedo;
para a bolsa,
para a Bolsa.
"A bolsa é o órgão mais inervado do homem".
Hélio Coutinho, Professor de Histologia e de muitas outras logias.
Etiquetas: bolsa vida China web
A acção "A Terra Treme" - três
gestos de autoprotecção: baixar, proteger e aguardar.
* Há 60 anos, o nosso
Professor de Medicina, Augusto Vaz
Serra - um clínico notável, costumava citar uma máxima: “Quando a onda vem, a
gente agacha-se e espera que ela passe para se levantar.”
Só mais tarde dei
conta da sabedoria de aguardar a oportunidade para actuar – a clássica expectativa
armada em Medicina; da “Guerra e Paz”, o general Kutusov é o personagem que
mais me toca.
Etiquetas: terramoto Kutusov oportunidade Medicina
Sempre é verdade que consumimos acima da nossa capacidade; 3 vezes mais.
E a alimentação é o elemento que mais pressão traz aos ecossistemas; metade deste é devido a carne e peixe.
* O excesso de peso acentua a pegada de deixamos no chão.
Etiquetas: consumo pegada ecológica obesidade
As ditas, ele há-o-as duras e moles, são como
a Coca-Cola - a princípio estranham-se e depois entranham-se.
Há a do
consumo, a da droga, a dos antolhos, a da ideologia de cartilha, a do
politicamente correcto, a da publicidade, a da maioria, a das minorias que mais
reclamam ... tantas.
Etiquetas: ditaduras vícios droga
Dia de todos os santos, daqueles que não têm dia nem nome, daqueles que, apesar de obras valerosas, vão sendo esquecidos.
Era em memória deles os bolinhos que os miúdos pediam, de porta em porta, em alegre algazarra. Era uma liturgia sem crença.(a)
O meu melhor bolinho foi ter regressado de Angola, neste dia, ... branco, frio, a este rio Tejo de Lisboa.
a) P.S. Melhor, que perdeu a memória, como o organista que perdeu a Fé. Presumo que tudo começou quando o catecista convenceu os catecúmenos a irem recordar aos vizinhos que aquele seria o dia de todos desconhecidos; os vizinhos agradeciam a inesperada visita com o que tinham à mão - frutos secos e bolos.
Agora, a descrença religiosa fez emergir a primitiva bruxaria medieva; a embriologia explica essa regressão.
Etiquetas: memória bolinhos Angola
O que se aprende nos museus: a reclicar-te.
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M. Azeredo Perdigão |
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CCBerardo |
Pense duas vezes antes de deitar lixo fora.
Etiquetas: arte lixo reciclar
É extraordinário como mentes brilhantes se enganam a si mesmas tão facilmente!
É extraordinário como o sectarismo pode cegar mais do que a real doença da cegueira!
A esquerda, não só radical, não percebe nada
do que se está a passar no Mundo.
Mais: recusa-se a perceber.
Quantas vidas a ela honestamente dedicadas
não mergulhariam na mais frustrante das desilusões,
de quantos sonhos esfarrapados se não
teceriam os lençóis que tapam os caixões!
E, sobretudo, a que margens,
a que praias arribariam os náufragos fugidos
do navio em lento mas inexorável afundamento?
A que ramagens, a que galhos se agarrariam?
"Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
Etiquetas: Política ideologia Velho do Restelo