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30.8.25

Os portugueses e o Serviço Nacional de Saúde

 SNS: entre a dependência dos tarefeiros e a coragem política que faltava

Alexandre Lourenço, Presidente do Conselho de Administração da ULS de Coimbra

Há unidades reféns dos tarefeiros — serviços inteiros funcionam a 100% com prestadores que ameaçam sair se o valor/hora não subir. E não faltam especialistas recém-formados que rescindem contrato e regressam logo a seguir… como prestadores.

Pior: multiplicam-se casos de profissionais vinculados a um hospital público que, em vez de reforçarem as suas equipas, optam por prestar serviços noutros hospitais do mesmo SNS — recebendo valores muito mais elevados pelo mesmo trabalho. Este mecanismo descapitaliza as próprias instituições e transforma o SNS num sistema que se autofinancia para dentro, mas sem ganhos de eficiência ou coesão.

Os nossos futuros médicos                                 Expresso 26-VI-1999

Neste processo, terão maiores probabilidades de entrar nas Faculdades de Medicina os jovens que mais precocemente tenham adoptado os valores sociais dominantes – o primado do sucesso individual num quadro de competição desapiedada. Não está provado nem creio provável que esses sejam valores indispensáveis para vir a ser bom médico.

O actual processo de selecção é socialmente discriminante; os estudantes de famílias de maiores recursos têm maiores probabilidades de sucesso – escolha dos melhores liceus, escolas mais generosas, explicadores. Não creio que esteja provado que este seja um critério relevante para vir a ser um bom médico.

Actualmente os jovens que entram nas Faculdades de Medicina utilizaram processos semelhantes para o conseguir; não creio que a homogeneidade seja um critério essencial a uma futura geração de médicos.

 

«Os portugueses e o Serviço Nacional de Saúde»

 Presidência da República – Problemas e Propostas para o Sistema de Saúde       INCM 1999

A meu vez, os problemas fundamentais dos Serviços de Saúde em Portugal decorrem de conflitos estruturais inerentes a:

A. Um Serviço Nacional de Saúde socialista burocratizado (social-burocrático)

B. Gerido por um governo liberal mas dirigista e centralizador

C. Com Médicos “funcionários públicos” que cuidam de

D. Um Público rendido à sociedade de consumo.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) que temos, generoso na sua matriz, é tão estimulante como a leitura do DR e tão flexível como o RDM. O diagnóstico da situação está feito com a autoridade do ex-Director-Geral da Saúde (Um sistema de cuidados organizado de forma conservadora, rígida, estática e defensiva face a todas as mudanças) 3. Se o queremos salvar, há que reformulá-lo.

Mas, quando toda a economia é capitalista e os valores dominantes são os do mercado; quando a liberdade é encarada como a possibilidade da escolha entre a Coca-Cola e a Pepsi, poderá esperar-se que um SNS, de matriz socialista e utópica, funcione bem?  Como poderá sobreviver Cuba, bloqueada.

1 comentário:

  1. Durante anos que alerto para o problema dos tarefeiros Infelizmente os sucessivos governos fizeram de surtos e agora é que vão proibir???

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