alcatruz

Alcatruz, s.m. (do Árabe alcaduz). Vaso de barro e modernamente de zinco, que se ata no calabre da nora, e vasa na calha a água que recebe. A. MORAIS SILVA. DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUESA.RIO DE JANEIRO 1889 ............................................................... O Alcatruz declina qualquer responsabilidade pelos postais afixados que apenas comprometem o signatário ...................... postel: hcmota@ci.uc.pt

29.4.05

 

onde pára a força do povo ?
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O MFA amarrotado
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respigos da TV

Milhares de coletes reflectores foram apreendidos por não cumprirem as normas. Não tinham instruções em português; havia o perigo de os vestir do avesso.

 
Tentar interpretar

1. O Centro Comercial Dolce Vita Coimbra, (115 lojas, 10 salas de cinema e um hipermercado Jumbo) está estrategicamente colocado entre a Escola Superior de Educação e o Liceu Infanta D. Maria, em redor dos quais não são permitidos jogos nem venda de bebidas.
É um campo de estágio para a vida dos jovens. A Amorim Imobiliária está de parabéns.

2. Fui ali ver “A Intérprete” de Sydney Pollack e também tentei interpretar.
A missão de salvar o mundo sem prejudicar ninguém (New York Times); essa missão da ONU é encarnada por uma jovem africana branca e loira, intérprete da ONU. O país onde nasceu e ansiou ver livre, está destruído por lutas fratricidas, genocídio e terrorismo de Estado. Sozinha (com a protecção espalhafatosa da CIA), ultrapassa todos os perigos; está prestes a executar o Presidente desse país que de libertador regrediu para ditador sanguinário e frustrou as esperanças dela e do seu povo. Desiste ao saber que ele irá ser julgado.

Só ela (WAS não sei se P) parecia manter viva a memória da cultura africana ancestral.
À saída, a moimenta aos Heróis do Ultramar; um soldado português branco leva um pretito às cavalitas e uma G3 na mão – qual é o fardo do homem branco ?
Foi o que restou da sanzala destruída ? O soldado português a poupar o pequenito inocente ao horror que viu ou a que se viu obrigado ? a salvá-lo da barbárie inevitável sem a sua paternal protecção ?
Haverá outras interpretações; estas são as que me ocorreram depois de ver “A Intérprete” e uma moimenta com quarenta anos.



28.4.05

 
a ler no Público, antes das autárquicas: Pacheco Pereira a voo de pássaro
"Se eu sair daqui e andar sempre a direito, por montes e vales e estradas, a voo de pássaro, até ao mar, o que encontro é um retrato de Portugal bem triste... "

 
respigos

Alarme ! Todos devemos estar doentes

* Um em cada três portugueses sofre de distúrbios mentais. Público 27-4-2005
* Três em cinco portugueses têm colesterol elevado. TV 12-12-2004
* Cerca de 38 % da população nacional sofre de reumatismo; as lombalgias afectam cerca de 80 % da população. Liga Portuguesa contra as Doenças Reumáticas. Público 23-5-2004
* Um Terço dos Portugueses Sofre de Alergia. Público, 16-5-2003
* O consumo de medicamentos é a terceira maior causa de morte no mundo. Osteopata espanhol. I Jornadas de Prevenção da Saúde do Século XXI. DN 14-4-2003
* Entre 20 a 25% dos portugueses são consumidores excessivos ou dependentes de álcool. Centro Regional de Alcoologia do Centro. As Beiras 25 Fev 2004
* "Mais do que a guerra, a fome, os acidentes de viação ou qualquer outra razão, a principal causa da morte de mulheres no mundo é a violência doméstica". Público 9-3-2004

* Os acessos de sono inesperados são responsáveis por 83% dos acidentes mortais na estrada. Especialista do hospital de Santa Maria. O 1º de Janeiro. 6-3-2004

Assim se compreendem tantas faltas por doença e tão alta abstenção eleitoral; agora se compreendem os resultados eleitorais, a opção clubista e a depressão nacional; a atracção dos Centros Comerciais e do tele-lixo; a maior longevidade das mulheres devida à viuvas que escaparam; a indisciplina dos jovens, pela provável comichão; o espirro e o bocejo, tão mal vistos em sociedade, são um perigo ao volante; dentre as drogas, os medicamentos matam mais que o álcool – donde o risco da venda livre de medicamentos nas tabernas.
Não admira que o SNS, que a OMS tão bem classificou, não satisfaça os portugueses; ela nem sonha quão doentes, tristes, deprimidos, alérgicos, viciados no vinho e noutras drogas, sonolentos, tontos somos.

 
respigos do telejornal

1. Um grupo de ciganos acusados de escravizar trabalhadores portugueses em Espanha (“não recebiam salário, eram espancados com barras de ferro e impedidos de abandonar a zona”) foram libertados pelo tribunal com “termo de identidade e residência com obrigação de se apresentarem periodicamente às autoridades e proibição de contactar com os restantes arguidos”.
Obrigação... proibição de contactar com os restantes ... não será coacção excessiva ?
2. Um bando acusado de ter assassinado um polícia foi libertado por se ter deixado esgotar o prazo máximo da prisão preventiva.
Os árbitro não se entenderam quanto ao tempo de compensação, pelo que no final do tempo regulamentar do jogo da vara o resultado foi de Bando- 2 ; Justiça – 1. Teme-se que não haja segunda volta por falta de comparência do adversário
3. As urgências dos Hospitais da Cova da Beira vão deixar de usar papel -- tudo se fará por meios electrónicos. É o choque tecnológico no SNS. O anárquico acesso à urgência hospitalar ficará informatizada. Numa fase seguinte, o médico verá o doente no computador – poupar-se-á tempo nos cumprimentos iniciais e no “estimo as melhoras”.
4. O PR pediu mais humanidade nos hospitais. O acesso ao curso de Medicina (ou de Enfermagem), a escolha das especialidades e a progressão na carreira são feitos por um sistema que selecciona os mais aptos na competição desenfreada, onde ser mais esperto conta muito mais que ser “mais humano”.
Os cidadãos só reconhecem o valor da humanidade quando estão doentes e não a encontram – é tarde.

O médico humano só vê reconhecida essa qualidade na homenagem fúnebre – é tarde.


27.4.05

 

Os anjos das igrejas barrocas eram a saudade dos bebés mortos. Eram representados como lactentes bem nutridos e bem cuidados -- eram assim enquanto mamavam; era assim que os quereriam recordar.
Depois, as "enterites" levavam-nos em dias - era Deus a fazer a sua colheita de Verão.
Agora que quase todos os recém-nascidos sobrevivem e que a prevenção da gravidez é fácil, eficaz, por processos bem conhecidos e de acesso fácil, como serão os anjos ?
Os minúsculos fetos de 14 semanas serão anjos ? ou haverá todas as razão para os não recordar ?

Os azulejos serão azuis ou brancos? qual é a cor do esquecimento ?
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respigos

Pereira da Costa evoca Claude Lévi-Strauss: "A magia para os povos primitivos funciona como uma ciência, é um sistema de conhecimentos extremamente elaborado, embora muito diferente do ocidental. Em lugar de opor os dois sistemas, deve-se metê-los em paralelo, não esquecendo, é verdade, que a ciência funciona melhor que a magia, mas que esta também responde bem por vezes."
Difícil é a conciliação. O meu maqueiro, em Angola, tinha nascido numa sanzala e crescido num muceque de Luanda. Tinha a "4ª classe" europeia mas toda a sabedoria tribal: vivia na margem das duas culturas. Bastava um copo de cerveja para emergir a magia -- era tido como bêbedo e mentiroso.




26.4.05

 

26 de Abril nostálgico. Os mesmos barcos que ontem estavam velhos e carcomidos, apareceram pintados de fresco no dia seguinte. O SALAZAR vai agora RUMO AO SOCIALISMO; ao lado, o velho CARMONA promete vir a dar FRUTO DE ABRIL.
É na Primavera que os répteis mudam de pele mas o cavername é o de sempre.
Por fora cordas de viola, por dentro pão bolorento.
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João Penalva, instalação em Serralves (Teach Touch 2000)
foto (pormenor) de J. Armando Ribeiro

If you don't touch you cannot teach

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"Milion Dollar Baby". Uma lição de como ensinar técnicas e atitudes - observando a actuação de um aluno de cada vez e corrigindo imediatamente os erros, incitando-os a tentar melhorar sempre. Assistindo aos exames e partilhando os resultados muito para alem da licenciatura; até ao fim.
Tudo o mais é auto-didatismo tutelado.


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25.4.05

 

Travessa: rua estreita e curta que estabelece comunicação entre duas ruas principais (Dicionário Editora)
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"Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo ..."

"que a fortuna não deixa durar muito"
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O Estado Novo de então; o nome do barco era SALAZAR
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24.4.05

 

Braga 2005. Os vendilhões à sombra da igreja; pagarão dízimo ?
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Saraband*****

Ingmar Bergman volta ao seu tema de sempre 50 anos após Morangos Silvestres, depois de uma longa conversa com Manoel de Oliveira que sugeriu o guião de Agustina Bessa-Uppsala.
Uma excepcional reflexão sobre a velhice egoísta, a solidão, a nostalgia da infância como lenitivo, o terrível ódio e amor familiares.
Imagens magníficas, música soberba, montagem perfeita, cenas de antologia. As interpretações excepcionais do velho Erland Josephson e da velha Liv Ullmann, a avó. Tinha que ser advogada, que acha que qualquer causa tem defesa, independentemente da culpa e de valores individuais, pronta a procurar explicações e atenuantes. Um aviso duma sibila que usa fotos como cartas.

Vale a pena ir a Lisboa para o ver, vale a pena entrar naquela Alvaláxia.

 
respigos

A certidão de óbito
Paulo Portas (RTP 23.4-2005) reconheceu que a substituição de Durão Barroso por PSL quebrou a confiança do eleitorado na coligação. PP não tirou as ilações dessa análise, sujeitando-se a manter-se num poder de minguada legitimidade.
A rápida degradação política que o seu diagnóstico prenunciava, mas com o que pactuou, levou o PR a convocar eleições antecipadas.

No melhor momento para a esquerda, insinuou PP; o melhor momento para a esquerda não é sempre o pior para o direita e vice-versa? Foi o PR que o escolheu ou foi a coligação que o gerou ?
Criticar o PR por esta decisão é o mesmo que atribuir a morte do doente ao médico que assinou a certidão de óbito.


23.4.05

 
o sistema

Há meio século, a maioria dos estudantes de Coimbra usava capa e batina; no Verão, só para os exames e outras cerimónias. Usar capa e batina no pino do Verão era motivo de chacota: Foste pago pelo Turismo ?
Quem paga aos jovens que se pavoneiam pelos Centros Comerciais, vestidos como modelos e sem nada fazer ? O mesmo sistema que remunera os gestores portugueses ao nível europeu ignorando a produtividade das empresas ?

 

Arte persa na Gulbenkian
A arte moderna desde há 7 mil anos. A genial distorção das formas dos belíssimos utensílios. A não perder, para perspectivar as tentativas actuais.
Num peso de pedra está escrito: "Eu, Dario, grande rei, rei dos reis, rei dos países, senhor do mundo". Uma mesma pedra sem esta legenda pesará seguramente muito menos; nem a gravidade poderá ignorar tanto orgulho.

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21.4.05

 
o padre eterno recusado

Why God does not have a Ph.D.

He had only one major publication.
It was in Hebrew.
It had no references.
It wasn't published in a refereed journal.
Some even doubt he wrote it himself.
It may be true that he created the world, but what has he done since then?
His cooperative efforts have been quite limited.
The scientific community has had a hard time replicating his results.
He never applied to the ethics board for permission to use human subjects.
When one experiment went awry he tried to cover it by drowning his subjects.
When subjects didn't behave as predicted, he deleted them from the sample.
He rarely came to class, just told students to read the Book.
Some say he had his son teach the class.
He expelled his first two students for learning.
Although there were only 10 requirements, most of his students failed his tests.
His office hours were infrequent and usually held on a mountain top

Anonymous

 

Bento da Silveira, 1620-1708. Museu de S. Roque. Lisboa.
O mito do anjinho ajudava a atenuar a dor insuportável da perda dum filho; o do outro mundo, a dor insuportável; Deus, o incompreensível.
Havia muitos anjinhos quando a mortalidade infantil era tremenda; "a colheita de Deus há meio século" (17-4-2005)

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18.4.05

 

greve à morte


As agências funerárias ameaçam luta ..., desde o fecho dos cemitérios à greve aos funerais (300 por dia), passando por "entupir as cidades com carros funerários".

Se já houve greve nos transportes públicos, às aulas, à segurança e até nos serviços de saúde, porque não black-out aos funerais se não é possível greve à morte ?


 
respigos

o reino do tédio e o ego umbilical
A obsessão com o “eu”, a “paparicação do ego” (JG Merquior) domina a nossa atmosfera cultural... e explica o actual “reino do tédio”. JC Espada. Única. Expresso 17-4-2005
De um período em que os fins justificavam os meios (os fundamentalismos religiosos e ideológicos) seguiu-se um que privilegia os meios – o lucro, o prazer imediato, o açúcar, a droga.
Vive-se voltado para o umbigo, símbolo clássico de egocentrismo e onde se encontram os resquícios embrionários do intestino e da bexiga primitiva — órgãos que aliviam.
Mas é no sangue umbilical que se encontram células que se espera regenerarão órgãos doentes e salvarão crianças.

 
medicina mágica 13

Matriz miraculosa
“Quase não falava ainda. Quina não hesitou em proceder com ele à cerimónia do «menino do fole», usada na região com as crianças de fala atrasada, e que consiste numa pequena peregrinação presidida pela madrinha. Deverá ela pedir, em três casas em que a porta de entrada seja oposta à porta de saída, «alguma coisinha para o menino do fole, que quer falar e não pode»; a criança leva os pés enrolados numa ressequida membrana de saco das águas, aproveitada dalgum parto por velhas e previdentes comadres ...
Alguns dias depois o menino começou a falar; mas a sua pronúncia nunca foi perfeita, e não chegou jamais a pronunciar o l com exactidão. Dizia «ume» e «ugar». Porém, Quina concluiu que o efeito miraculoso se produzira, e nem todos os génios encerrados por Salomão em garrafas poderiam obrigá-la a reconhecer que o rapaz era, de facto, belfo.”
Agustina Bessa-Luís. A SIBILA. Guimarães editores, Lisboa 1953

17.4.05

 
respigos

A ração de alguns
A minha primeira grande viagem ... mal tinha acabado a II Guerra Mundial. Lembro-me de chegar a Paris e ver senhas de racionamento, que era coisa que aqui não se conhecia.” José Manuel de Melo (CUF, LISNAVE, BRISA, Clínicas de Saúde) O que a vida me ensinou. Única. Expresso 17-4-2005
Lembro-me bem das senhas de racionamento; Portugal tinha aquis muito diferentes.


 

O fundamentalismo politicamente correcto do International Fund for Animal Welfare.
"Construíram esta gigantesca presa de elefante, com 700 peças de marfim doadas pelo público ao International Fund for Animal Welfare com objectos de marfim adquiridos ilegalmente. Depois a presa gigante foi destruída." Única.Expresso
Destruir a memória, refazer a história, tentar apagar o passado que nos envergonha. Tudo lembra a queima de livros proibidos, a destruição do Grande Templo e a cidade azteca por Cortez, a Revolução Cultural da China de Mao, a destruição das estátuas de Buda pelos taliban afegãos.
Dizem que os elefantes têm boa memória e melhor senso: que pensarão desta barbaridade? Que não há museus em Londres ?



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Um magistral golpe de estudante: pede-se licença para o óbvio e deixa-se o poderoso adversário sem resposta. De antologia.
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medicina mágica 12

a colheita de Deus há meio século
"Tocar a anjinhos na torre era tão natural como tocar às avé-marias. Se o sino grande da irmandade abria o seu vozeirão a chamar, ainda um frémito de terror percorria a veiga. Agora se badalava o pequeno, ninguém fazia caso.
- Parece que ouço sinais...
- É um anjo.
E a vessada continuava, alheia às enterites da primavera que dizimavam a infância da freguesia.
- Anda Deus a fazer a sua colheita."
Miguel Torga. A criação do mundo (O terceiro dia) Coimbra 1952


As abortadeiras eram “tecedeiras de anjos”.


 
respigos

Vícios processuais
Enquanto o Programa de Governo anuncia que "será criada uma base geral de dados genéticos para fins de identificação civil, que servirá igualmente fins de investigação criminal" “.... três cidadãos estrangeiros foram libertados porque o Tribunal ... reconheceu "vícios processuais" nas escutas telefónicas efectuadas.... apesar de terem sido detidos com 20 mil pastilhas de ecstasy”.
A PJ provou o crime mas os seus autores foram mandados em paz porque a PJ não terá cumprido todas as regras. Não se avaliou a solidez das provas mas a maneira como teriam sido obtidas; em vez de julgar os réus (assegurando-lhes a defesa) e admoestar a polícia, libertaram-se aqueles e vexou-se a polícia. Todos os frutos de uma árvore envenenada terão peçonha ? Será preferível morrer à fome que analisá-los ?
Parece que alguns juizes estão mais preocupados com o cumprimento escrupuloso das regras que com o objectivo da sua tarefa. Mais parecem árbitros que juizes; mais preocupados com os rituais que com a moral; mais preocupados com a legalidade que com a justiça.
Nesta perspectiva, teriam mandado em paz o criminoso cujo ADN comprovativo tivesse sido colhido sem o seu consentimento informado; a descoberta do Brasil ou a do RX não teriam sido registadas.


PS. Alguns juizes parecem levar à letra a imagem cega da Justiça, o que os leva a olhar mais para a balança que para as partes. A preocuparem-se mais com os instrumentos e com as normas que com as pessoas, tal como se diz dos médicos ?

16.4.05

 
respigos

a guerra dos cátaros; segunda batalha
O
Programa do Governo declara que "será criada uma base geral de dados genéticos para fins de identificação civil, que servirá igualmente fins de investigação criminal".
É compreensível a preocupação de não deixar criminosos á solta. Mas a eficácia do método não pode descurar a eficiência – evitar que inocentes venham a ser incomodados por falsos resultados positivos.
Há leis inerentes a qualquer exame biológico: quando se aumenta a sensibilidade diminui a especificidade. E esta equação é potenciada pelo tamanho da população envolvida; quanto menor a probabilidade da suspeita, maior a do erro.
Sendo assim, não seria mais sensato começar pelos grupos onde a probabilidade é maior – os suspeitos ou mesmo todos os cadastrados, cujo menor número torna simultaneamente maior a probabilidade de êxito e menor a de falsos positivos ?
Não se estará a repetir o “vício processual” que levou à criação de 31 hospitais SA de uma assentada ?


 

Alexandre Herculano. DA ESCHOLA POLYTECHNICA E DO COLLEGIO DOS NOBRES. Opúsculos 1841
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respigos

demasiados "vícios processuais"
Apesar de Portugal ser o país da UE com maior densidade de advogados (Expresso 16-4-2005) a justiça continua com grandes atrasos e deficiências tais como a “desproporção e desrazoabilidade das medidas que recaem sobre o cidadão comum ... e... um sentimento de inoperância na área criminal”.
Um motivo de reflexão para os que atribuem as deficiências do SNS a uma alegada falta de médicos, atribuída a um alegado numerus clausus coarctado por alegadas pressões corporativas.



 
entrevistas de cernelha

O jornalista interroga o político que acabou de discursar. E este aceita responder, esclarecer, tirar dúvidas ! Ou não foi suficientemente claro, o que foi pena, ou não quis dizer mais; porquê agora?
Isto tornou-se um hábito, pelo que recusar é considerado indelicado ou politicamente incorrecto. Como se uma figura pública tivesse obrigação de estar disponível para responder a qualquer jornalista, sempre que este o entender.
Com o pretexto de que o público tem direito à informação, abordam-no de cernelha, nos corredores e à porta da casa de banho, mesmo pelo buraco da fechadura.
Alguns jornalistas não se confinam ao papel de relator e comentador, político ou social, mas permitem-se analisar psicológica ou mesmo psicanaliticamente tudo o que foi dito, como foi dito, as pausas para reflexão tidas por hesitações (conotadas negativamente), os actos falhados...
E tudo com uma pesporrência só equivalente à confrangedora falta de objectividade, de distanciamento, de isenção, de preparação, de senso e de um elementar domínio da língua.
A atitude do actual primeiro ministro tem sido diferente. Assim seja.


 
medicina mágica 11

"A água do primeiro banho não deve ser deitada fora
... como uma qualquer água suja dir-se-ia que ela contém ainda um elemento energético saído da mãe e que decide do destino da criança: se é um rapaz, a água deve ser lançada «para longe de casa, para que ele se habitue a ir tratar da vida para longe», .. ou então ao pé de um árvore, «para que ele aprenda a subir às árvores», como um verdadeiro homem. Se se trata de uma rapariga, a água deve ser lançada, pelo contrário, perto de casa e «aos pés de uma couve», porque ela terá o encargo de alimentar a família.
Cada vez que se dá banho à criança, a água deve-lhe ser dada «a provar», o que lhe dará resistência - costume que se aproxima da utilização dos excrementos e da urina pelas feiticeiras, os quais contêm um princípio de energia.”
Moisés do Espírito Santo. A religião popular portuguesa. A Regra do Jogo.


 

As letras da Casa da Música lembram as da Casa da Moeda; ambas usam notas como símbolos
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15.4.05

 

A Casa da Música. Um cristal de galena dos primitivos rádios.
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A Casa da Música, vista de fora

Muita gente, muitas opiniões: um calhau; um meteorito; uma nave espacial de geometria avariada; um poliedro esdrúxulo; uma molécula de pauta; um cristal de galena de faces estilhaçadas; um diamante em bruto; um batiscafo encalhado; uma barcaça da invasão da Normandia, com a proa em escada.
Mas a arquitectura é, sobretudo, uma bela forma – arco, coluna, trave – que suporta uma função. Espera-se que a Casa sirva a Música: que nenhum som interior se perca e que nenhuma vibração externa a perturbe.
Daí a forma de dodecaedro irregular: será difícil que qualquer ruído estranho não encontre uma face perpendicular que o repila ou uma aresta que o fenda. Lá dentro, os sons reflectidos nas faces internas sempre encontrarão outra oblíqua que o repercuta, criando um perpétuo reverbero estereofónico que se extinguirá pouco a pouco, sem o extenuante ping-pong entre duas faces paralelas e sem a obsessão centrípeta da esfera.
Só não percebi os azulejos barrocos da ampla sala aberta a Sul; um acinte ou uma saudade moura ?

 
medicina mágica 10

leite «para a cobra»
“As mulheres que amamentam introduzem uma tigela de leite debaixo do soalho «para a cobra», porque existe uma em todas as casas; se a serpente não recebe esse tributo, «vem uma noite mamar em vez da criança e esta definhará» (as crianças raquíticas são «chupadas das co­bras»)".
Moisés do Espírito Santo. A religião popular portuguesa. A Regra do Jogo.

14.4.05

 

Turra santa: "no ano passado, o santo bateu-me com tanta força que andei "azoado" toda a semana"
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Medicina mágica 9

A Ponte de Cavez liga o Minho a Trás-os-Montes, numa profunda ravina sobre o Tâmega, em terras de Basto. Antes da ponte (Sec XVIII), atravessar o rio naquele lugar era muito difícil, "era o diabo", expressão tanto mais adequada quanto, ali ao lado brota uma nascente de água sulfurosa...
Diz-se que, sob a ponte, o demónio espera (aguarda? deseja?) que algum acidente ocorra - e fará o possível para que tal aconteça..
S. Bartolomeu e o diabo
Ao lado, um solar com uma capela onde S. Bartolomeu segura o diabólico dragão que, nesse dia (24 de Agosto) tem rédea laxa.
A pequena procissão atravessa a ponte e logo "recolhe" à capela - como que para assegurar apenas a posse do lugar e exorcizá-lo do perigo. Terminada esta, S. Bartolomeu espera os romeiros à porta da capela; estes beijam a imagem, alguns acariciam-na ("apegam-se a ela") e levam com ela na cabeça ("para fazer sair o demónio", explicam com um sorriso constrangido), sob o olhar complacente do velho pároco.
de bem com Deus e com o diabo
Não é claro que os romeiros beijem o santo ou o dragão; não é claro que a cerimónia da turra seja dedicada a um ou a outro ou aos dois ao mesmo tempo.
A religião classificou certas força com boas e outras como más; o povo manteve-se reticente, procurando manter-se de bem com Deus e com o diabo. Todos os romeiros bebem a água da "fonte santa" que, apesar de sulfurosa (obviamente infernal), tem propriedades terapêuticas. "O diabo não é tão feio como o pintam".
Maomé vem à consulta
É estranho que naquele ermo , se tenha construído um solar - com os lucros da portagem da ponte?
Mais claro é o significado da capela do palácio: para evitar que os senhores tenham que se deslocar à igreja da paróquia, faz-se vir o pároco à capela do palácio - Maomé vem ao solar... Maneira de submeter o clero à nobreza.
Os Centros de Saúde, onde estão os médicos e os doentes vão, regem-se pelo mesmo princípio.

 

"Fonte santa" --a água (sulfurosa) só faz bem no dia em que o diabo anda à solta.
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13.4.05

 
A lista dos bufos guardada pela Maçonaria

A Maçonaria manteve «no mais rigoroso segredo», desde 1974, um documento com informações detalhadas de cerca de 3.600 agentes e informadores da antiga polícia política do Estado Novo PIDE/DGS.

Sociedades discretas e informações secretas
Sendo a Maçonaria uma poderosa sociedade secreta ou discreta, não admira que não tenha revelado o conteúdo dum documento desta importância; uma arma de dissuasão é tanto mais eficaz enquanto só ameaça e isso for do conhecimento dos eventuais alvos.


É discutível que o tenha feito
O bufo era o denunciador mercenário, era o primo do colaboracionista da França ocupada, o familiar do Stº Ofício. Odiava-se a PIDE e desprezava-se o bufo que denunciava o vizinho ao ouvir uma conversa. Desprezava-se o verme viscoso que rastejava entre nós, tentando passar despercebido; disfarçava-se de colega, de amigo para melhor trair.
Sabíamos que existiria entre nós --- “um em cada trinta” -- mas não sabíamos quem era, o que contaminava a fraternidade; podia ser um de nós, dos nossos amigos, mas fazíamos de conta que nada nos aconteceria, como quem assobia de noite para espantar o medo, mesmo sabendo que isso não afastará a ameaça.
Mesmo os que pouco ou nada tinham feito se sentiam inquietos – será que fiz alguma asneira involuntária ?
Este receio era o mais eficaz aliado do regime (“come e cala”) por ser o mais poderoso inibidor da crítica mas fazia crescer a revolta entre os jovens, mesmo o que de nada sabiam de política.
Como tantos outros, eu gostaria de saber quem foi o filho dum cabaz de uvas que denunciou um acto tão subversivo como estar o meu carro “junto ao Teatro Avenida ... quando o TEUC levou à cena a peça "O ASNO". Mas, há trinta anos estava muito mais interessado em reconstruir o país, a Faculdade, o Hospital e o mundo que em ajustar contas com uns miseráveis colaboradores duma sinistra secreta a cujos altos responsáveis, um governo democrático iria atribuir pensões vitalícias, sob parecer favorável do Supremo Tribunal Militar.


Se o documento se manteve tanto tempo escondido, é compreensível que não seja publicado agora.
Naquele tempo, odiava-se o bufo, desprezava-se quem olhava pela fechadura, porque se prezava a privacidade; pelo menos em casa, entendia poder dizer-se o que não era permitido cá fora.
Agora, olhar pela fechadura foi banalizado pela TV. O que ali choca não é tanto a curiosidade vulgar mas o prazer da exposição da intimidade.
Os bufos discretos já não têm interesse.



 

S. Bartolomeu subornado com galos pretos para que proteja as crianças de "medos, gaguez, raquitismo, "possessões" ou que "vejam coisas".
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medicina mágica 8

O animal preto é «ruim»
“... os fiéis trazem uma refeição ritual confeccionada à base de galinha preta; trata-se de uma refeição totémica porque em tempo normal não se devem comer aves pretas. O animal preto é «ruim», cúmplice da Lua e mensageiro das potências ctónicas - agrada ao Demónio, que tanto é Príncipe das Trevas como Lúcifer (o que engendra a luz). O encontro com um animal preto é um mau presságio, e às «mulheres de virtude» (feiticeiras e curandeiras) só interessam os olhos, os pêlos ou os testículos, de gatos, cães, corujas, corvos e burros pretos. Os animais nocturnos encontram-se em ligação com a Lua, mãe ameaçadora.
O galo é um símbolo solar, o símbolo do pai. São Bartolomeu é um dos raros santos verdadeiramente masculino; é um pai vigoroso que combate a imagem onírica de uma potência dominadora.”
Moisés do Espírito Santo. A religião popular portuguesa. A regra do Jogo.

 

banho santo em S. Bartolomeu do Mar
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medicina mágica 7

“medos, gaguez, raquitismo das crianças “possessas” ou que “vêm coisas”
O dia de S. Bartolomeu (24 de Agosto) festeja-se em S. Bartolomeu do Mar, Barcelos. Nesse dia, o santo, guardião do diabo, deixa-o à solta.
A festa começa com o “banho santo” na praia, para evitar ou tratar os “medos, gaguez, raquitismo das crianças fracas, “possessas” ou que “vêm coisas”. Também os adulto molham os pés; arregaçam as saias ou as calças e, depois, instalam-se na praia, preparam o farnel ou passam pelas brasas da noite mal dormida. Como são muitos e vêm vestidos para a romaria (fatos escuros), a praia fica coalhada de preto; preparam-se para a magia da cerimónia religiosa que começará pelo meio-dia.
Na igreja da aldeia, cheia de povo e de andores, têm lugar típicos rituais pagãos que se não interrompem durante a missa. Famílias trazem ofertas de galos pretos (agora podem ser de qualquer cor) com que as crianças dão três voltas à igreja, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, antes de o entregar ao santo (ou ao demónio ? um exorcismo?) Algumas famílias, com o galo preto ao colo, vão beijar a imagem de Cristo no altar, depois de passar (três vezes) por baixo do andor do santo, mesmo enquanto decorre a missa.
Os fiéis veneram também uma pequena imagem do santo que o sacristão permite que seja beijada e com que toca na cabeça das crianças ("para dar juízo"), após o que se persignam.

Tudo isto decorre dentro da igreja e, o que surpreende, mesmo durante a missa.


 

Uma turra do santo "para dar juízo" às crianças
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Qualidade de vida urbana

Ao fundo da rua António Jardim, constrói-se um enorme edifício; grandes estaleiros, gruas gigantes. Só que não parece ter sanitários; os operários servem-se da mata ao lado, por trás da futura polícia. Mata camarária, parque municipal outrora ajardinado, agora transformado em latrina. A trampa orna os carreiros -- os utentes nem se dignam afastar-se:
-- Então a empresa não tem retretes ?
-- Não
-- Ao menos não podia afastar-se do carreiro.
-- Isto aqui é mato...

Devem ter receio que a erva os arranhe.
Não admira que estas empresas não entrem em Espanha e que o colonialismo português tenha sido diferente.



12.4.05

 

"Rende-te a Coimbra": Museu da arqueologia industrial.
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respigos

desalento de quem não sabe nada de finanças
”Sem mercado e sem preços, não há proveitos, tornando-se impossível determinar se uma escola ou um hospital dão lucro ou prejuízo. Ora, em economia de mercado, o único critério de aferição da eficiência de uma entidade é o lucro.” José Alberto Xerez. Do dispensário ao mercado. DN 12-4-2005

"Sem mercado e sem preços, não há proveitos" !? Será que trabalhei tantos anos num hospital e numa escola sem qualquer proveito ?

"Temos que estar atentos às abordagens demasiado empresariais do serviço público. ... Mas serviços centrais, como saúde, educação e outras áreas precisam ... de ser avaliados de formas mais complexas do que através da obtenção de objectivos mensuráveis." Ralf Dahrendorf. citado por Correia de Campos, Público 12-4-2005

 
respigos

A Europa das Conferências de S. Vicente de Paula
A Europa ... está sempre disposta a exibir a sua generosidade para com os países pobres, os seus galões de maior doador de ajuda ao desenvolvimento e humanitária do mundo, etc., etc.

Na prática, não abdica do que verdadeiramente pode constituir um forte impulso ao desenvolvimento e que permitiria uma distribuição mais equilibrada dos benefícios da globalização: abrir os seus mercados aos produtos que esses países podem produzir com vantagem comparativa, dos têxteis à agricultura.
Teresa de Sousa . A hipocrisia do comércio "justo". Público 12-4-2005

De forma infame, os países ricos impedem os pobres de lhes venderem o que mais produzem, os produtos da terra, em nome da protecção à sua classe agrícola ineficiente e parasitária.
Esta política, em que Bush e Chirac estão unidos, cria uma destruição muito mais devastadora do mundo e da miséria dos pobres do que o quer que aconteça no Iraque.
João César das Neves. A infame coligação. DN 14-4-2003


 
sociobiologia 2

Malhas que a biologia tece e a fartura realça 2
Na Alemanha, 20 % da população é obesa. E, na China e na Índia, um terço dos adultos tem excesso de peso. Philip James, presidente da International Obesity Task Force.
Em Singapura, um terço das pessoas com mais de 60 anos sofre de diabetes; na China são, pelo menos, 150 milhões.
11º congresso europeu sobre a obesidade (Junho 2001) DN 24 Jul 2001

Pobres gordos: a teoria de Barker explica porquê tantos; a economia explica porquê esses.

 
de mulher

Na Sala dos Capelos, terminaram as provas de doutoramento da primeira mulher que se doutorou em Cirurgia em Coimbra e em Cirurgia Pediátrica em Portugal. Ensaiou uma técnica original para corrigir uma grave malformação congénita; procurou reparar os defeitos da Natureza com o seu apoio.
Foi aprovada com o beneplácito de todos os reis e das duas rainhas.
A Francelina conciliou as tarefas de cirurgia no Hospital Pediátrico com a experimentação animal na Faculdade de Medicina; não teve licença sabática nem deixou de assegurar a urgência hospitalar.

Na primeira fila, de fitas amarelas, a filha.

11.4.05

 
medicina mágica 7

Era uma menina de aspecto pouco viável, roxa, moribunda, e que apresentava no pulso esquerdo uma mancha cor de sépia, motivada pelo facto de sua mãe ter sido salpicada de fígado de porco, por ocasião duma matança, estando já nos primeiros tempos da gravidez . Agustina Bessa-Luís. A SIBILA. 1953


 
sociobiologia

Malhas que a biologia tece e a fartura realça
Segundo a FAO mais de 20 milhões de crianças nascem com baixo peso, no terceiro mundo. Público 9-12-2004
Essa desnutrição fetal explica ("programação fetal" de
Barker*) parte do paradoxo que se verifica no terceiro mundo: enquanto parte da população passa fome, aumenta a incidência de obesidade, diabetes e de outras doenças da civilização opulenta. Segundo a FAO, 84 milhões de adultos nos países subdesenvolvidos sofrem de diabetes, número que irá triplicar até 2025.

* uma das mais importantes descobertas médicas do Sec XX e seguramente a mais barata. Barker D. The midwife, the coincidence, and the hypothesis. BMJ 2003.


 
e.farmácias com gralhas

Uma alternativa para quem "want to spend less on MEDICATIOONS" ? Uma circular na net anuncia drogas com um desconto proporcional às gralhas; o P.S. não engana: Try us and you

Assunto: Re: GigaPharammcy
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Have a nice day.


 
Uma esperança para o 3º mundo

Segundo a FAO, cinco milhões de crianças morrem anualmente por má nutrição e mais de 20 milhões nascem com baixo peso, no terceiro mundo. Público 9-12-2004
Um panorama semelhante ao do Reino Unido de há cem anos, quando era a potência mundial:
"At the beginning of the 20th century… one in 10 British infants died before they were a year old, and many of those who survived reached adult life in poor health... up two thirds of the young men who volunteered to fight the Boer war in South Africa (1899-1902) was rejected because of unsatisfactory physique. An interdepartmental committee set up in 1903 drew a shocking picture of the nation's children - malnourished, poorly housed and deprived"
Barker D. BMJ 2003;327:1428-30

10.4.05

 
respigos TV

O casamento, mais uma vez adiado, ficou entalado entre dois funerais. Ao fim de tantos anos de facto consumado não vejo qual a sua utilidade -- nem ele será rei, nem ela rainha e não se prevêem descendentes; não irá servir de reparação, do que ambos parecem bem precisados.
Não consegui identificar a noiva; só vi mães de noivas. Também não consegui reconhecer o noivo entre os convidados.
Cada vez há menos argumentos para recusar casamentos onde os noivos se não distingam.

 
respigos
retirado do contexto

"... Nada é menos verdade: a maioria dos blogues são versões modernizadas do que dantes se escrevia nas paredes das casas de banho públicas". Mª Filomena Mónica, Mil Folhas, 9Abr2005

9.4.05

 

O resultado do Congresso do PPD/PSD.
Na sequência da derrota, o barrosismo demitiu-se do Congresso do PSD de Pombal. Ana Sá Lopes. Público 11-4-2005
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medicina mágica 6
as doenças

As doenças não só são as viagens dos pobres, são também as belas escoriações dos ricos... Via-se quanto a doença as desafogava, como os seus clisteres, as suas águas termais, as suas pílulas, as consolavam de sentimentos falhados, de sonhos pesados e sem desenlace. E os seus médicos eram os amantes viáveis, a quem entregavam o segredo do ventre e do coração, a quem confessavam os apetites sob a forma de um desmaio, de uma febre, de uma erupção.
Mais tarde, quando toda uma sociedade apareceu enferma, ávida de consultas, capaz de devorar toneladas de antibióticos como se fossem confeitos, viu-se que a sociedade era feita de estreitos espaços, desumanizados, sem expansão a não ser a que a propaganda lhe prometia, mas na realidade sôfrega de ternura que se perverteu em favor da ganância meticulosa das coisas que se acumulam e não servem.
Agustina Bessa Luís. Os meninos de ouro. 1983

 
O tribunal de Praga

O tribunal de Praga decidiu retirar outra criança a uma família “adoptiva” com quem vivia há cinco anos, para a entregar à mãe biológica. Esta criança é irmã do menino sobre quem recaiu decisão semelhante deste tribunal há cerca de um mês.
Os magistrados mostraram-se inflexíveis na decisão, apesar de ouvirem a mãe biológica dizer que não tinha condições para sustentar os dois filhos, preferindo que ficassem com as famílias “adoptivas”.
Apesar deste desfecho do tribunal de Praga, a mãe decidiu “devolver” os filhos aos dois casais com quem viveram nos últimos anos
”. Expresso 9-4-2005

Absurdo ! Espero que o tribunal não venha punir as partes por não acatarem a decisão judicial.

 

Outra Jornada de África: a guerra do Bailundo, há cem anos
Posted by Hello

 
jornada de áfrica

Compra-se um livro que fica esquecido entre a papelada (Jornada de África, do Manuel Alegre); um dia (ontem) descobre-se, começa-se, devora-se, fica-se fascinado.
Eu estava lá, em Coimbra e em Luanda, vivi aquilo tudo em bruto; como médico (do RIL), vi-o de fora (Ó doutor, não há penicilina que só mate micróbios pretos? Madness, madness...); foi uma enorme emoção reviver tudo aquilo, sofrido, reflectido, depurado.

O herói que eu conheci não era Sebastião. Embora orgulhoso que se-bastasse, fora para Angola muito reticente; não por convicção mas porque para lá ia a sua gente.

 
medicina mágica 5

A «mãe do rio» é uma ladra de leite: as mães arriscam-se a perder o leite ao atravessá-lo; nesse caso, devem voltar atrás, chamar o rio pelo nome e dizer-lhe «devolve-me o leite que me roubaste», ao mesmo tempo que, como tributo, lhe atiram um ramo de ervas aromáticas com sal.
As mulheres de Vieira (do Minho) que têm filhos raquíticos apresentam-se em grupos de três na nascente de um rio e simulam três vezes seguidas um novo parto: passam a criança por entre as pernas afastadas, vestem-na de novo e atiram com força as roupas sujas para a torrente.
Moisés do Espírito Santo. A religião popular portuguesa. A regra do Jogo.

8.4.05

 
respigos TV

A SIC informou que a criança-objecto regressou a casa da família depois de uns dias de sequestro “juridicamente correcto” em casa da progenitora. Ambas concordaram numa sensata separação.
Espero que continue criança-sujeito e não criança sujeita ao arbítrio sentimental.


 
respigos TV
As exéquias do Imperador Constantino

As exéquias do sucessor de Constantino com o fausto de Júlio II – “nada é demais para louvar a glória de Deus”. As Borlas e Capelos da Universidade não destoariam da fantástica exuberância czarista do ritual ortodoxo -- o triunfo da contra reforma. Lutero e Calvino vencidos.
O magnífico espectáculo foi transmitido Urbi et Orbi pela TV(I).
O público aprecia desde que tenha pão. Que pensaria JP2 disto ? e Cristo ?
Surpreendem os recursos da tecnologia humana que a Cúria vem aceitando para sua protecção – pára-raios na cúpula de Miguel Ângelo, detectores de metais, helis, TV, rodas motrizes dos sinos.

Sóbrio só o caixão de madeira -- uma cápsula espacial a aguardar a partida do foguetão que o havia de levar ao céu ? ou a “o onde as estrelas se suspendem” ? Saramago, Memorial do Convento.


 
respigos

As exéquias de César Augusto
“Nos telhados de edifícios-chave, snipers tomarão posição. Um navio equipado com torpedos ronda a costa próxima da Roma. No ar, um "avião-radar", caças e helicópteros ajudarão a proteger o espaço aéreo.”
Público 8-4-2005
E eu que imaginava apenas legiões de anjos no céu, às ordens de S. Miguel; esqueci-me que o túmulo de Cristo fora guardado por centuriões romanos.
O PR na RDP: falou com clareza e não se zangou – aconteceu Pentecostes.
O que se passa no Circo Máximo fica para outra vez.

7.4.05

 

e não gera endorfinas
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sinapse (cmcweb.org), morfina, memes, ismos, mesmismos ?...
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A Natureza do Mal - Meme JP2
Ensaio neuroquímico

A Natureza tem horror ao vazio. Os neurónios têm receptores para mediadores que o próprio organismo produz (endorfinas), que atenuam a dor e medeiam o bem estar e a felicidade. A endorfina era o suco dos frutos do paraíso, excepto a maçã amargosa; depois, ficámos condenados a produzi-los com o suor do nosso rosto – a fé, o amor, a arte, a amizade, a confiança e a convalescença.
Na sua falta, os receptores ficam ávidos de sucedâneos – morfina, memes ou outros ismos viciantes.
HCM já está aposentado -- a FMC e o CNC não podem ser responsabilizadas pelas opiniões ...

 
medicina mágica 4
espinhela caída, endireitas e a imposição de mãos

"Vinha aquela gente à reza do santo, e a consultas sobre moléstias abandonadas da ciência. Na esconjuração de espí­ritos imundos é que se extremava a sua principal virtude. Rapariga incubada de demónio saía dali escorreita, como se nunca tal hóspede lhe tomasse conta do corpo, reservado para melhores destinos. Em todas as enfermidades, e nomeadamente na espinhela caída, o senhor Rocha empregava métodos muito outros daqueles usados na ortopedia dos bru­tais endireitas. Talhava o bicho com a mera imposição de mãos, acompanhando o gesto de algumas palavras, proferi­das em toada soturna, enviesando ao firmamento os olhos flamejantes do fogo inspirativo da pitonissa".
Camilo Castelo Branco. Memórias do Cárcere. 1881

A "massagem biodinâmica" resolveria muitos conflitos psíquicos que se traduziriam por tensões musculares: as proibições infantis poderia levar a "atrofia das mãos", recalcamentos de pulsões poderiam causar sinais psicossomáticos que a massagem resolveria; depois perdi-me quando continuou a falar na "aura", um "outro nível de energia" que irradiaria do corpo e pairaria à superfície dos seres vivos e cuja interacção com a do terapeuta teria efeitos positivos.

Fez uma breve referência ao Reiki (imposição das mãos) que não tem "necessidade de qualquer diagnóstico".
Lá fora, faria demonstrações com desconto mas, com uma duração obviamente mais curta ...
XV Congresso de Medicina Popular em Vilar de Perdizes


6.4.05

 
Medicina mágica 3
Licantropia (onomástica profiláctica)

Porque acontecera ser o sétimo rapaz duma familia, fora baptizado com o nome de Adão, para evitar assim correr o fado, ou seja ficar condenado a vaguear de noite, transformado em bácoro, ou cavalo, ou bode, ou toiro, em cujo rasto espolinhado se espojasse. Ah, e então apenas uma labareda, à meia-noite, consumindo-lhe as roupas que abandonou, um espinho ou um chuço ferindo que o bicho que corre desabaladamente pelos atalhos, podem quebrar o encanto!

Melhor é chamar, pois, Eva as quintas ou sétimas filhas, e que Adão sejam os infantes todos que venham perfazer esses fatídicos números.
Agustina Bessa-Luís. A SIBILA. Guimarães editores, Lisboa 1953

 
um blogue de há cem anos

Silêncio. Ponho o ouvido à escuta e ouço sempre o trabalho persistente do caruncho que rói há séculos na madeira e nas almas.
Raul Brandão. Húmus. 1917

 
respigos
um labrego

“Sebastião é um labrego inveterado, come tudo tudo tudo”. “Não cuida de saber se o produto é de agricultura biológica, ingere frango com nitrofuranos e tudo o que vem à rede é peixe...”.
“Sebastião é um homem das cavernas nos antípodas dos corpos Danone...”.
“Ora, é este país de sebastiões e malhões que só pensam em comer e abancam aos domingos em todos, mas todos, os restaurantes do país... é este país que urge pedagogizar rapidamente....
Professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade do Porto” Público, 6-4-2005

Nota
1. Sebastião não é um labrego inveterado (Labrego: pessoa aldeã e rústica na vida e maneiras; campónio. Dicionário da Língua portuguesa. Morais e Silva); é um burguês emergente, um labrego que deixou de o ser e que quer compensar numa vida de gula, séculos de fome familiar.
2. Não é provável que o homem das cavernas fosse mais magro do que gordo ?
3. Pedagogizar ? Há palavras que arrepiam. Pela forma, pelo conteúdo, pela auto-suficiência que transpira, pelo que evocam.


5.4.05

 
A volta ao mundo dura 80 anos

1953. O jantar duma família portuguesa durante o regime de Salazar
--Pai, o que é o fascismo?
_... (silêncio) só se ouvia o ruído da sopa.
- Pai, o que é o comunismo?
_... (silêncio) nem se ouvia o ruído da sopa.
-Pai, o que é a política?
-- Come e cala-te.

1993. Eric Mayer, um jornalista francês em Pequim, interpretava as novas liberdades económicas como uma espécie de "pacto secreto" entre o PC chinês e o povo, que ele descrevia com a fórmula : Sois riche et tais-toi .
A. Caeiro. Pela China dentro. D. Quixote 2004 (indispensável ler)

 

2. Convite aceite. Adapt. de Issei Kato/Reuters (Expresso.Única)

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1. "shall we dance?" Adapt. de Issei Kato/Reuters (Expresso.Única)
Posted by Hello

 
Medicina mágica 2
Licantropia

A licantropia* era uma doença mental; uma mania. O doente julgava que era um lobisomem; que podia transformar-se em lobo. Nas noites de quinta para sexta feira, à meia noite, os lobisomens vão espojar-se nos sítios onde os animais se espojam e transformam-se num animal igual. É o seu fado, não é por maldade. Porque os lobisomens são muito infelizes, sofrem muito.
A pessoa que é lobisomem é sempre muito magra e tem a pele amarela e anda sempre triste. E tem as orelhas compridas e o nariz arrebitado.
--... Eu conheço um tipo que é lobisomem. É o senhor António Maravilhas.

E quando, uma noite, a altas horas, o silêncio da aldeia foi perturbado por um uivo que quem o ouviu soube logo ser de lobo, ele não se admirou. Enquanto a polémica fervia, ... não havia memória de lobos na região... , ele sabia que estavam todos enganados. E sabia-o porque o uivo fora ouvido numa noite de quinta para sexta feira.
João Aguiar. A Encomendação das Almas. Finisterra, 1997


* Symptomas e Tratamento da Lycanthropia (Sec XVIII)

4.4.05

 
Respigos
Prós e contras

* Contras: a TV continua a saturar-nos com redundâncias litúrgicas.
* Prós: Esta semana não há "Prós e Contras".
Afinal os cadáveres dos Papas não estão enterrados, mas mantidos em túmulos na cripta de S. Pedro.
Acreditam na ressurreição da carne mas a Igreja, sábia, teme a confusão dos ossos. Maria da Fonte também.
Os túmulos, equivalentes às mastabas egípcias, são ainda mais disformes que a basílica. Lá dentro há material de seres humanos bem identificados, desde há dois mil anos.
Uma fortuna para os geneticistas: Haverá DNA papabile? O que distinguirá os Papas santos dos devassos ? Que doenças terão tido ? Os Bórgias terão tido DST ?
Um pesadelo para a Cúria que gere os subterrâneos do Vaticano. Noli me tangere.


 
A morte no dia a dia
o preço dos cuidados fúteis

A lei portuguesa socializou os órgãos vivos de um indivíduo morto para poderem ser transplantados em tempo útil. Exceptuam-se os que, em tempo, se tiverem manifestado em contrário.
Não seria útil fazer algo semelhante, para que, em situações irreversíveis não haja lugar a cuidados heróicos, quando outros possam precisar desesperadamente deles ? Para transformar cuidados fúteis em eventualmente úteis.
Poderiam exceptuar-se os que, em vida, o declarassem, disponibilizando os meios necessários para tal. Há que respeitar a esperança em milagres que, sendo sempre excepcionais, neste caso são excepcionalmente caros.

O excesso de amarras do navio de Vasco Moscoso de Aragão não prejudicou ninguém.

 

Dr. Vasco Moscoso de Aragão, médico de longo curso defensivo
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A morte dia a dia

Nada como convalescer no dia da morte de Terri ou do Papa para se dar conta da morte -- todos os dias nos esquecemos que morreram 290 portugueses, 13 dos quais por acidentes.

a) A morte em trânsito
À morte familiar, em casa, e à actual, medicalizada, no hospital, junta-se cada vez mais a morte estúpida, na estrada. Aqui, não se pode falar em “passamento”, que os carros não andam a passo; será necessário criar um neologismo - ultrapassamento ou usar a palavra trânsito com sentido inverso.
As religiões prometem uma vida melhor no outro mundo; a publicidade automóvel promete-a neste, oferecendo um embrulho de luxo como bónus.

b) O papel do médico no processo da morte mudou muito desde Hipócrates; o equilíbrio não é fácil. O seu compromisso é com a vida humana e não apenas com a vida. Tem que rejeitar tanto ser o abafador como ser o embalsamador; a sua tarefa não é a de prolongar a vida ao cadáver.


O "abafador".
"Entrava, atravessava impávido e silencioso a multidão que há três dias, na sala, esperava impaciente o último alento do agonizante, metia-se pelo quarto dentro, fechava a porta, e pouco depois saía com uma paz no rosto pelo menos igual à que tinha deixado ao morto".

Miguel Torga, "Alma Grande", Novos Contos da Montanha.



 

Alma grande
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Medicina mágica
Heeeeeemorragia

O depoimento
Era a do lavrador que testemunhara o assassínio; e acrescentava este, no depoimento, que o sangue do cadáver começou a correr quando o matador se aproximou. A ciência não autoriza isto; mas a ciência não sabe os segredos de Deus.
Camilo Castelo Branco. Memórias do Cárcere. 1881

A manilha de osso
Aires Pereira meteo-se no seu ba­tel com alguns soldados ... e matáram todos os Mouros ..., e acháram ainda o Capitão meio vivo, sem lhe sahir sangue das muitas feridas que tinha. Aires Pereira mandou aos Marinheiros que assim co­mo estava o lançassem ao mar: e elles por­que lhe viram bom vestido, quiseram-no primeiro despir, e acharam-lhe no braço es­querdo huma manilha de osso, encastoada em ouro, e em lha tirando vazou-se todo do sangue, e expirou. Espantado Aires Pe­reira disso, foi-se com a manilha, e com os Mouros que tomáram a Afonso Dalboquerque, e contou-lhe tudo o que passára, e el­le perguntou aos Mouros quem era aquelle Capitão, e de que lhe servia aquella mani­lha que trazia; e elles lhe disseram, que era hum Mouro principal de Malaca , que se chamava Naodabeguea, que hia avisar o Rey da sua ida, e a manilha era hum osso de humas alimarias, que se chamavam Ca­bais, que se creavam nas serras do Reyno de Sião, e a pessoa que trazia aquelle osso, tocando-lhe na carne, não lhe podia sahir sangue, por mais feridas que lhe dessem, em quanto o tinha. Afonso Dalboquerque pezou-lhe com a morte deste Mouro, que se quizera enformar delIe das cousas de Ma­laca, e estimou muito a manilha pera a man­dar a ElRey D. Manuel polo effeito della.
Comentários de Afonso Dalboquerque. Conforme a 2ª edição de 1576 INCM 1973


 
A árvore do nosso quintal e a floresta baldia

Terri estava em estado vegetativo há 15 anos. Após repetidas tentativas, o marido obteve autorização dum tribunal para que fosse removido o tubo digestivo que a mantinha viva. Os pais de Terri, a Administração americana, o Congresso e o próprio Presidente tentaram por todos os meios administrativos impedir essa medida. DN 2-4-2005
É louvável esta preocupação com a interrupção voluntária da vida humana, sendo embora discutível se a vida vegetativa é ainda vida humana.

Segundo a FAO, cinco milhões de crianças morrem anualmente por má nutrição e mais de 20 milhões nascem com baixo peso, no terceiro mundo. Público 9-12-2004
A malária (paludismo) mata duas crianças por minuto; poderia ser evitada com 0.05€ per capita.

A violência contra mulheres no espaço doméstico é a maior causa de morte e invalidez entre mulheres dos 16 aos 44 anos, ultrapassando o cancro e os acidentes de viação. (Conselho da Europa). Nos EUA não será diferente.

Qual foi a postura destas entidades perante esta pandemia de morte prematura de seres humanos tanto mais inaceitável quanto facilmente evitável ?

Os acidentes de trânsito matam 13.7 em cada milhão de portugueses de menos de 65 anos. Entre 1998 e 2001, morreram 150 por cada milhão de crianças portuguesas, por acidentes de viação. Na semana em que Terri morreu terá morrido uma portuguesa, em consequência de maus tratos no lar (Associação Port. de Apoio à Vítima).


Qual foi a atitude dos grupos portugueses que tanto apoiaram as iniciativas das entidades americanas ?


3.4.05

 
Velhos de todo o mundo, armai-vos

A nossa sociedade, melhor, os estratos emergentes da nossa sociedade produtivista rejeita os velhos. O mesmo acontecerá nos serviços de saúde, o que levou um comentador a propor que os velhos devam consultar armados de caçadeiras. É uma solução; outra seria permitir que possam ir às consultas acompanhados duma pessoa de família -- à consulta, à “urgência” ou durante a hospitalização.
Foi uma medida destas que potencializou a humanização dos cuidados hospitalares às crianças hospitalizadas, hoje prática generalizada; as dificuldades logísticas iniciais rapidamente se desvaneceram face às melhorias verificadas – hoje preocupamo-nos quando tal não é possível.
Os benefícios humanos são óbvios; o custo acrescido com refeições e instalações é recuperado com os cuidados básicos que a família presta, libertando enfermeiras para tarefas específicas.

Veremos se as famílias cooperam.

 
vida eterna

JP2 crê na vida eterna -- espera ser recebido por S. Pedro, às portas do Céu; se não houver vida eterna, ele nunca chegará a saber. De qualquer modo, a sua vida não foi perdida – o mundo religioso está muito mais tolerante e, em parte, a ele o deve.
No final do curso, fui passar uns dias à Europa com o meu amigo Antero T -- os que restámos do grupo previsto. Atravessávamos Castela de comboio, na torreira de Agosto, quando entraram duas freiras no nosso compartimento; pouco depois subiram dois jovens.
Eram mineiros asturianos , eufóricos pelo regresso a casa; tudo lhes parecia magnífico -- o sol, o calor, a sede saciada, o prazer da vida, a antecipação do regresso.
Uma dos freiras refreou o encantamento lembrando que tudo isso era pouco confrontado com o que nos esperava na eternidade.
Depois de um longo silêncio, o asturiano disse, muito tranquilo:- Pode ser que tenha razão, irmã, e que haja vida eterna. Porque se estiver enganada, não saberá o que perdeu.


 
respigos

"Trocando por miúdos, para se sobreviver na era da globalização, há que alinhar os modelos sociais por aqueles onde há menos direitos e onde os salários são mais baixos. Mais: o resultado é a concentração da riqueza num cada vez menor número de mega-empresas e o avanço da pobreza e da insegurança profissional à escala planetária."
Nicolau Santos. A globalização está a dar cabo de nós. Expresso. Economia. 2-4-2005

Isto não soa a uma proposta alternativa da luta contra o cancro ? Em vez de lutar contra as células malignas, adoptar os seus eficientíssimos processos metabólicos, que explicam o crescimento exponencial desses clones.


2.4.05

 
respigos
A linha da vida de JA Saraiva

A propósito da eutanásia e do aborto, JA Saraiva entende que a “questão coloca-se de forma muito simples” mas não me parece que tenha sido bem equacionada:
1. Não se trata de discutir o “corte do fio que ligava uma mulher à vida”, nem do debate sobre a “vida humana” ou sobre a “vida de um ser humano”.
Creio que o que há que discutir é se alguém em vida vegetativa irreversível ainda é um ser humano e se um embrião gerado numa mulher já é humano “desde o momento da concepção” ou ainda, se uma “intervenção é legítima” num embrião de 10 semanas, quando a lei permite o aborto em caso de anencefalia.

2. Não se trata de discutir se é ou não “necessário que haja uma linha clara, nítida, que separe a vida da morte” mas saber se essa linha existex, tão clara e nítida quanto seria útil (20.37); não se trata de saber se “não deve haver uma linha inviolável mas uma nebulosa” mas de saber se existirá uma linha ou uma nebulosa – um momento ou um processo. *

Porque é nessa nebulosa que actuam muitos médicos, nomeadamente os que trabalham em cuidados intensivos e todos os que se encarregam de cuidados paliativos e que, independentemente das dúvidas individuais, continuam a actuar como se essa linha existisse, enquanto a discussão persistir.

* Se até um computador demora tanto a desligar e a desligar (salvo numa falha de energia), o que acontecerá num sistema muito mais complexo ?
A língua também ajuda: a morte é descrita como processo -- agonia, transe, passamento.

1.4.05

 
A selva

A morte do velho leão está iminente. Numa árvore próxima, dezenas de abutres esperam; no chão as hienas aguardam a sua vez. Os abutres limpam o bico enquanto as hienas parecem rir, de acordo com a respectiva natureza. Uma lei da selva não se pode classificar de macabra; só é estranha a selva.
(cont) cheia de olhos magnéticos, ouvidos electrónicos, fios desligados, notas de crédito, boatos, baboseiras, guiões, carpideiras, redundâncias, pilhas secas, cenários, folhas pisadas e ramos partidos.


 

Fumos da Índia
Posted by Hello

 
adivinhas

O patrono dos publicitários é Aladino. A lâmpada satisfazia os seus desejos; mas a publicidade, que tudo promete, transforma apenas os desejos em necessidades.
Para Aladino satisfazer o desejo bastava acariciar a lâmpada, o que libertava o génio em fumo. Uma satisfação passiva e solitária como a que a publicidade (o actual ópio do povo) apregoa.

A alucinação canábica foi descrita por Garcia de Orta (Colóquios dos simples e drogas da India, 1563). Orta relatou o segredo do sultão Badur, confiado ao Vice-Rei Martim Afonso de Souza: quando lhe apetecia e não podia "viajar" a Portugal e ao Brasil, à Arábia ou à Pérsia, iludia-se fumando "cânhamo indiano".
A publicidade equivaleria aos "fumos da Índia".


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